A uma semana do primeiro turno das eleições locais, nas mais de 5 mil cidades de todo o país, os partidos políticos também estão de olho no pleito de 2018, quando entre os cargos em disputa estará o de presidente da República. Sem constrangimento, o empresário João Doria, escolhido para disputar a prefeitura de São Paulo após acirrada discussão interna no PSDB, tem lançado abertamente o nome de seu padrinho político, Geraldo Alckmin (PSDB), como candidato à sucessão de Michel Temer (PMDB). “Venho para ajudar a consertar, junto com as pessoas de bem, como o governador [de São Paulo] Geraldo Alckmin. Ele, que se Deus quiser, com a nossa força e a nossa vitória, vai ser conduzido, sim, à Presidência da República em 2018”, discursou Doria na semana passada.
Confira a pesquisa Datafolha nas três principais cidades do país
A menção de Doria ao governador de São Paulo foi feita quando o candidato comemorava os números de uma pesquisa Datafolha na qual ele aparece em primeiro lugar, com 25%, embora tecnicamente empatado com Celso Russomanno (PRB), com 22%, e Marta Suplicy (PMDB), com 20%. Para Doria, uma eventual vitória por lá beneficiaria o governador de São Paulo, um dos presidenciáveis do PSDB, ao lado do senador Aécio Neves (MG) e do ministro das Relações Exteriores, José Serra (SP), que também querem ser os representantes da legenda na corrida à cadeira máxima do Executivo.
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Leia a matéria completaO vínculo de uma disputa local com as chamadas “eleições gerais” não é à toa: de modo geral, políticos com bons desempenhos agora são naturalmente alçados a importantes cabos eleitorais de aliados que podem enfrentar as urnas daqui a dois anos.
Mas, na cidade brasileira com o maior número de eleitores, São Paulo, as eleições de outubro agora e de 2018 estão ainda mais ligadas. “Entre as capitais, São Paulo é a cidade que tem peso nas eleições para presidente da República. Nas demais capitais, como Rio de Janeiro, Curitiba, os resultados das eleições municipais interferem mais nas próprias disputas locais e também nas estaduais, para o governo do estado”, explica o professor de Administração Pública da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) João Vergueiro.
Nas eleições do Rio de Janeiro, por exemplo, as características são “sui generis”, destaca ele. “O impacto do resultado por lá será mais local do que nacional. Vai ser uma característica destas eleições”, analisa Vergueiro, ao lembrar que Marcelo Crivella (PRB), à frente na última pesquisa Datafolha, não pertence a um partido de “expressão nacional”.
Apesar disso, a posição de Crivella na pesquisa do Rio de Janeiro, somada ao desempenho do correligionário Celso Russomano (PRB) em São Paulo, pode indicar o fortalecimento de um eleitorado conservador e com capacidade para “apadrinhar” uma candidatura a presidente da República que adote tal linha.
Papel destacado de São Paulo
No início do ano, José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardozo tentaram emplacar o vereador Andrea Matarazzo como candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, mas saíram derrotados pela ala comandada por Geraldo Alckmin. A guerra interna foi tão acirrada que Matarazzo saiu do PSDB, migrou para o PSD de Gilberto Kassab, e hoje está na disputa em São Paulo como vice-prefeito da chapa encabeçada pela ex-petista Marta Suplicy.
Integrante do primeiro escalão do governo Temer, Serra pode se beneficiar em uma eventual vitória da peemedebista. Por outro lado, se Doria vencer nas urnas, Serra também pode ser empurrado para o PMDB de Temer. A migração já foi ventilada, na esteira da promessa feita por Temer, de não se candidatar em 2018.
Alckmin e Serra, contudo, ainda têm o nome de Aécio Neves na disputa interna. O senador conseguiu seguir para o segundo turno nas eleições de 2014, quando se credenciou naturalmente para 2018. As citações do seu nome nas investigações da Operação Lava Jato, contudo, podem miná-lo na corrida. “As equações não são tão diretas na política. É claro que uma vitória de Doria fortaleceria a pré-candidatura de Alckmin, mas é cedo para afirmar que Alckmin será mesmo o candidato do PSDB”, pondera Vergueiro.
Em Minas Gerais, base eleitoral de Aécio, o candidato do senador na corrida da prefeitura de Belo Horizonte, João Leite (PSDB), aparece em primeiro lugar na última pesquisa Datafolha.
Já uma eventual derrota do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que tenta a reeleição, mas aparece com apenas 10% das intenções de voto na pesquisa Datafolha, pode fortalecer a ideia de uma ala do PT que prefere, em 2018, integrar uma frente de esquerda encabeçada por um nome de fora da sigla, como o presidenciável Ciro Gomes, do PDT, ou mesmo um político do Psol ou do PCdoB.
Curiosamente, em 2012, quando Haddad vencia em São Paulo com a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o novato era alçado como um nome do PT com potencial para 2018.
“Não sou daqueles que acha que o PT vai acabar. Porque temos movimentos cíclicos na política, mas, provavelmente, a legenda vai sair enfraquecida nestas eleições de modo geral. Há dificuldades inclusive para as prefeituras de São Bernardo do Campo, Guarulhos, Santo André. E isso deve interferir em 2018”, comenta o especialista da Fecap.
O resultado das pesquisas nas três principais cidades do país
Pesquisa Datafolha divulgada em 22 de setembro de 2016 sobre a corrida pela prefeitura de São Paulo:
- João Doria (PSDB): 25%
- Celso Russomanno (PRB): 22%
- Marta (PMDB): 20%
- Fernando Haddad (PT): 10%
- Luiza Erundina (PSOL): 5%
- Major Olimpio (SD): 2%
- Levy Fidelix (PRTB): 1%
- João Bico (PSDC): 0%
- Ricardo Young (REDE): 0%
- Altino (PSTU): Não pontuou
- Henrique Áreas (PCO): Não pontuou
- Branco/nulo: 11%
- Não sabe: 4%
A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e o jornal “Folha de S.Paulo”. O Datafolha ouviu 1.260 eleitores da cidade de São Paulo no dia 21 de setembro. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob o protocolo SP-00573/2016.
Pesquisa Datafolha divulgada em 22 de setembro de 2016 sobre a corrida pela prefeitura do Rio de Janeiro:
- Marcelo Crivella (PRB): 31%
- Marcelo Freixo (PSOL): 10%
- Jandira Feghali (PCdoB): 9%
- Pedro Paulo (PMDB): 9%
- Flávio Bolsonaro (PSC): 7%
- Indio da Costa (PSD): 6%
- Osorio (PSDB): 4%
- Alessandro Molon (Rede): 2%
- Cyro Garcia (PSTU): 1%
- Carmen Migueles (Novo): 0% (Foi citada, mas não alcançou 1%)
- Thelma Bastos (PCO): 0% (Não foi citada)
- Branco/nulo: 15%
- Não sabe/não respondeu: 6%
A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal “Folha de S.Paulo”. O Datafolha ouviu 1.023 eleitores da cidade do Rio de Janeiro no dia 21 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob o protocolo RJ-08346/2016.
Pesquisa Datafolha divulgada em 22 de setembro de 2016 sobre a corrida pela Prefeitura de Belo Horizonte:
- João Leite (PSDB): 33%
- Alexandre Kalil (PHS): 21%
- Délio Malheiros (PSD): 6%
- Reginaldo Lopes (PT): 4%
- Rodrigo Pacheco (PMDB): 3%
- Eros Biondini (PROS): 2%
- Luis Tibé (PTdoB): 2%
- Sargento Rodrigues (PDT): 2%
- Marcelo Álvaro Antônio (PR): 2%
- Vanessa Portugal (PSTU): 1%
- Maria da Consolação (PSOL): 1%
- Branco/nulo: 14%
- Não sabe/não respondeu: 8%
A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal “Folha de S. Paulo”. O Datafolha ouviu 864 eleitores da cidade de Belo Horizonte no dia 21 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) sob o protocolo MG-03427/2016.
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