O candidato do PMN à prefeitura de Curitiba, Rafael Greca, concedeu entrevista na última sexta-feira (7) à Bandnews FM. Durante 30 minutos, Greca falou sobre habitação, alianças políticas, transporte coletivo, Guarda Municipal e Saúde.
O Livre.jor confrontou as respostas do candidato com os fatos para a Gazeta do Povo.
Habitação
“A Cohab está ‘seprocada’, deve mais de R$ 22 milhões. Perdeu contratos: tinha 21, 16 ele [o atual prefeito, Gustavo Fruet, do PDT] perdeu. Há casas em obras que estão abandonadas.”
Falta clareza.
É verdade que a Cohab deve dinheiro, e teve parte da dívida em execução pela Procuradoria da Fazenda Nacional. A respeito, a prefeitura afirma que trata-se de dívidas de impostos e contribuições, e que a companhia foi “surpreendida, no ano passado, pela execução judicial dois meses depois da renegociação do débito.
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Leia a matéria completaA Cohab estava em dia com os pagamentos das parcelas, quando a Procuradoria da Fazenda Nacional propôs a execução judicial da dívida. A companhia agora discute no âmbito judicial novas alternativas de pagamento.”
Mas a afirmação de Greca é confusa – a dívida, por exemplo, tem relação com a extinção de contratos? Não é possível saber. O número de contratos “perdidos” é contestado pela Cohab. A prefeitura afirma que há seis, e não 16, contratos encerrados ou em fase de encerramento. Por conta deles, a companhia devolveu R$ 15.517.90,77 ao governo federal. Tratava-se de financiamentos habitacionais do PAC, PAC2, Pro-Moradia e Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social.
Alianças políticas
“O piá candidato [Ney Leprevost] quer seduzir o povo com canto de sereia irresponsável. Parece um ex-governador que disse ou o pedágio baixa ou acaba.”
Epa!
Após ouvir do prefeito e candidato derrotado à reeleição Gustavo Fruet (PDT), durante o primeiro turno, que suas propostas eram inviáveis, Rafael Greca parece ter tomado para si o papel. Tem criticado Ney Leprevost (PSD) pela inexperiência e falta de consistência nas propostas. Até aí, tudo bem.
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Leia a matéria completaMas o “canto de sereia” citado por Greca é, no mínimo, infeliz. Roberto Requião (PMDB) prometeu que baixaria ou acabaria com o pedágio nas eleições de 2002. Deu tão certo que não só ele se elegeu governador como em seguida atraiu para sua nau o então adversário Rafael Greca, deputado estadual eleito pelo PFL, consolidando um namoro que já vinha de alguns meses.
O pedágio não baixou nem acabou, mas Greca seguiu com Requião até bem depois dele cumprir seus dois mandatos – só saiu do PMDB em 2015, rumo ao PMN, para garantir a candidatura a prefeito.
Transporte coletivo
“Quero pensar em ônibus solares, ou movidos a biogás, ou híbridos. Mas comigo não vai ser um só. Se fizer, faço um grande plano e boto o troço para funcionar.”
Mas faz como?
Ônibus novos são muito bem vindos – basta lembrar que estamos sem saber o que é isso desde 2012. Se forem melhores, mais modernos e confortáveis que os atuais, melhor ainda. Mas há um problema: as empresas alegam que operam com prejuízo e não têm condições de fazer investimentos com a tarifa atual.
Sem desatar esse nó – o que pode demandar subsídio público à tarifa, algo que Greca tem descartado em entrevistas, dizendo que dará prioridade à Saúde –, como se fará para comprar ônibus mais modernos – logo, mais caros? É algo que o candidato ainda não explicou.
Guarda Municipal
“Temos que chamar os 400 guardas que fizeram concurso e que aguardam chamamento. Vou chamar todos de cara. Temos que conseguir que os 500 que estão para se aposentar fiquem mais tempo.”
Errado!
Greca tem errado repetidamente o dado.
Rafael Greca errou nos números de guardas que terão direito à aposentadoria em 2017. Via Lei de Acesso à Informação, a prefeitura informa que 98 guardas terão direito à aposentadoria até o fim de 2016, e outros 17 no ano que vem.
O município diz, ainda, que o processo de convocação dos 400 guardas aprovados em concurso está em andamento. No início de agosto, ele estava na quinta fase, a investigação de conduta dos aprovados. Em seguida serão realizadas provas de aptidão e avaliação psicológica, exames toxicológicos e, por fim, formação técnica e capacitação na Academia da Guarda Municipal de Curitiba.
Saúde 1
“Aplicativo para marcar consultas será desenvolvido ainda antes da minha posse. Será um presente de Dia de Reis.”
De que forma?
Mesmo que seja eleito prefeito, Rafael Greca só poderá fazer gastos em nome do município a partir de janeiro de 2017. De que forma ele irá contratar e pagar o desenvolvimento de um aplicativo para a prefeitura sem ser ainda o responsável por isso?
Saúde 2
“Vou reabrir o Hospital São Vicente, na CIC.”
Não é uma decisão que cabe só à prefeitura.
A unidade da Cidade Industrial do Hospital São Vicente, que ofertava 40 leitos clínicos como retaguarda hospitalar ao Sistema Único de Saúde (SUS), teve problemas de financiamento desde 2014 e fechou, definitivamente, em agosto 2015.
Via assessoria de imprensa, a Secretaria da Saúde informou que tentou ampliar o repasse de recursos ao São Vicente, mas que não recebeu autorização do SUS a tempo – a habilitação dos leitos de nutrição enteral, por exemplo, foi concluída em 23 de setembro passado. Ainda segundo a prefeitura, o São Vicente inicialmente propôs levar os 40 leitos habilitados pelo SUS para a unidade do Centro, mas o plano não foi adiante.
A reabertura do hospital certamente seria benéfica para a saúde pública do bairro mais populoso da cidade. Mas o São Vicente é privado. A decisão de reabri-lo, portanto, não cabe ao prefeito. Será preciso negociar com os administradores do hospital.
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