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Em entrevista à rádio Bandnews FM na sexta-feira (2), o prefeito e candidato à reeleição Gustavo Fruet (PDT) falou sobre alianças políticas, dívidas do município, educação, saúde e transporte coletivo. O Livre.jor confrontou as respostas do pedetista com os fatos para a Gazeta do Povo.

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Alianças políticas

“Jamais me dirigi a ele [Richa] com tal agressividade. É uma oportunidade para mostrar o que está em jogo. O candidato dele hoje, Rafael Greca, a quem Beto sempre teve muitas restrições, há pouco afirmava que Richa determinou a repressão aos professores no Paraná, que o governador é omisso, enalteceu o ‘Fora, Beto Richa’, chamou-o de covarde. Tanto a crítica de Richa quanto a de Greca a mim têm o valor de uma nota de três reais.”

É por aí.

A resposta dura de Gustavo Fruet às - também duras – críticas que o governador Beto Richa (PSDB) fez a ele são mais um capítulo de uma relação que já foi próxima e hoje é praticamente inexistente entre os dois políticos.

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Fruet tem razão em apontar incoerência na aliança Richa/Greca. Até há pouco meses no PMDB, o ex-prefeito era crítico contumaz da gestão do tucano. E, nas eleições de 2012, fez troça de obras de Luciano Ducci (PSB, sucessor de Richa e também apoiador de Greca em 2016).

Mas a biografia de Fruet também tem lá seu quinhão de incoerência. À época em que era deputado federal pelo PSDB, foi sub-relator da CPI dos Correios, que tratou do mensalão petista, criticou duramente o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusou de criar o “mantra da mentira”.

Em 2012, já no PDT, Fruet teve a candidatura a prefeito abraçada pelo então poderoso casal de ex-ministros petistas Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo. E, na disputa do segundo turno, usou os nomes de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff para pedir votos – uma aliança que, em tempos de Lava Jato e impeachment, talvez o prefeito preferisse não ver lembrada.

Dívidas municipais

“[A administração de Luciano Ducci fez] Um volume de gastos em 2012 sem orçamento, empenho ou garantia de financiamento, o que obrigou a fazer ajuste com economia de mais de R$ 1 bilhão, e vamos pagar R$ 1,5 bilhão ao final de quatro anos.”

Um dos números está inflado.

Atual prefeito, Gustavo Fruet tem uma vantagem considerável ante os adversários – a máquina da prefeitura à disposição para municiá-lo com dados e informações. E os dados corroboram o discurso de Fruet, quando ele fala de dívida. Apenas em 2013, o pedetista enviou à Câmara Municipal quatro pedidos de crédito adicional especial destinados a “atender despesas da gestão anterior”. Todos aprovados, eles somam R$ 183 milhões. Fruet também pediu à Câmara, via outros projetos de lei, o “reconhecimento das dívidas consolidadas referentes a despesas não empenhadas até 31 de dezembro de 2012”.

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Os balanços trimestrais divulgados pela prefeitura mostram, de fato, que a prefeitura apertou os cintos. Do início de 2013 a abril de 2016, houve um superávit (isto é, a diferença entre o que o município arrecadou e o que gastou) de R$ 1,59 bilhão.

Os mesmos documentos, porém, mostram que, se Fruet pretende pagar R$ 1,5 bilhão em dívidas até o fim de 2016, precisará correr. Desde 2013, os gastos com juros e amortização dos débitos do município somam R$ 572 milhões, em valores não atualizados.

Educação 1

“Cinco das 15 melhores escolas do Brasil, segundo o Ideb, estão em Curitiba.”

É verdade. Mas...

A avaliação de alunos dos anos iniciais de escolas da rede municipal de Curitiba tiveram nota média de 5,9 no Ideb (Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico) mais recente, o de 2013. É acima da meta esperada para a cidade, de 5,7. E cinco escolas da capital estão entre as melhores municipais do país.

Mas nem tudo são boas notícias. O Ideb 2013 nos anos finais da rede municipal foi de 4,7. É menos que a meta (5,0). E não houve evolução ante 2011. E, mesmo quando se consideram os anos iniciais, quase 20% das escolas municipais estão em situação de alerta – isto é, não tiveram crescimento da nota, não atingiram a meta fixada para Curitiba nem a nota 6,0. O portal QEdu, mantido pela Fundação Lemann, tem dados atualizados sobre Ideb, Censo Escolar, Prova Brasil e Enem. A ferramenta permite buscas por escolas municipais.

Educação 2

“A prefeitura garante 84% [dos estudantes] na educação [em período] integral.”

Errado.

Segundo a Secretaria Municipal da Educação, das 195 escolas da rede municipal de ensino, 96 têm aulas em período integral Elas atendem a 21.243 estudantes das turmas de 1.º ao 5.º ano do ensino fundamental, o que equivale a 22,9% do total de estudantes da rede. Curitiba, aliás, tem escolas municipais com atendimento em período integral desde 1987. Em 2012, havia 80 escolas com 18,6 mil alunos estudando em período integral.

Saúde

“Ano passado, pela primeira vez na história, Curitiba investiu mais que o governo federal em Saúde.”

É verdade, mas...

Fruet está certo na comparação. O governo federal enviou a Curitiba, via Sistema Único de Saúde, R$ 257 milhões. Bem menos do que os R$ 780 milhões previstos. A prefeitura, por sua vez, aplicou R$ 488,8 milhões no sistema municipal de saúde.

Mas o mesmo documento que informa o investimento municipal em saúde diz que havia previsão, na lei orçamentária, de R$ 1,5 bilhão para a área. A diferença de quase R$ 1 bilhão é bem maior que os mais de R$ 500 milhões que a União deixou de enviar via SUS.

Transporte coletivo

“O Hibriplug é a terceira geração do ônibus híbrido elétrico. Curitiba é a única cidade da América Latina que tem esse modelo em circulação.”

Mas é um só. E apenas um teste.

Desde 2012, uma decisão judicial obtida pelas empresas que operam o sistema de transporte coletivo em Curitiba faz com que nenhum ônibus novo tenha entrado em circulação na cidade. O Hibriplug, ônibus híbrido elétrico, não é uma exceção. Trata-se de apenas um veículo, em teste por tempo determinado, cedido pelo fabricante, numa linha de baixa demanda. Cabe lembrar que quase 1,7 mil ônibus atuam no sistema de transporte de Curitiba.

O Hibriplug tem, além da motorização elétrica, alguns itens de conforto para o passageiro: piso baixo (que permite embarcar sem ter que subir degraus), internet sem fio, ar condicionado, suspensão a ar. Tudo isso o torna mais caro. Vale perguntar: sua adoção seria viável em Curitiba? Lembremos que, em 2015, Fruet cogitou tirar de circulação os 20 ônibus híbridos – que sequer têm piso baixo, ar condicionado ou wi-fi – motivado, justamente, pelo custo.

Apenas um desses itens de conforto, a suspensão a ar, faz parte do Manual de Especificações da Frota da Urbs – e, mesmo assim, apenas para algumas categorias. Assim, é possível imaginar que ônibus iguais ao propagandeado pelo prefeito não irão compor a frota da cidade por um bom tempo, ainda – a não ser, como agora, para testes.

Fruet contesta

A assessoria de imprensa da prefeitura contesta a afirmação de que Fruet errou ao falar sobre ensino integral. Diz que o prefeito se referiu à educação infantil, e que dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira (Inep) mostram que 86% das crianças dessa faixa etária matriculadas em 2015 ficavam de sete a 11 horas por dia nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs). Na entrevista, no entanto, Fruet não foi claro a que faixa etária se referia. Os dados usados pelo Livre.jor sobre aulas em período integral no ensino fundamental são oficiais, fornecidos pela própria prefeitura.

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