Cientes do desgaste de imagem da classe política, Rafael Greca (PMN), 60 anos, e Ney Leprevost (PSD), 43 a serem completados nesta quarta-feira (26), se apresentam como “estranhos no ninho” em busca dos votos que elegerão o próximo prefeito de Curitiba.
Mas ambos contam décadas de carreira política. Elegeram-se vereadores pela primeira vez ainda jovens – Greca, aos 26, e Leprevost, aos 22. E não se afastaram da atividade desde então.
Greca deseja ser visto como apartidário: “meu partido é Curitiba”, repetiu algumas vezes. Escalou para apoiá-lo, no segundo turno, o empresário e prefeito de eleito de São Paulo, João Doria (PSDB) – que nunca fora candidato a cargo eletivo e se elegeu com a promessa de ser “gestor, não político”.
Leprevost garante ser a “nova política”. Reprisa o argumento em sua propaganda eleitoral e o usou para esquivar-se de críticas feitas pelo adversário no debate realizado no último domingo (23) pela RIC TV: “Representamos a nova política, e por isso somos alvos de tantos ataques da velha política”, argumentou.
A verdade é que as trajetórias de ambos muito têm em comum com a da maioria dos políticos brasileiros. Greca, por exemplo, mudou cinco vezes de partido. E deu de ombros à coerência. Esteve em legendas que apoiaram a ditadura militar; e também na de um dos maiores adversários dela, Leonel Brizola.
Acumula quase 23 anos em mandatos eletivos, além de mais de três anos na Cohapar e outros três no Senado. Ou seja – mais da metade de seus 60 anos Rafael Greca viveu na política.
Leprevost, por sua vez, leva adiante a política como tradição familiar – algo que tem em comum com o governador Beto Richa (PSDB) e o prefeito Gustavo Fruet (PDT). O avô, também chamado Ney Leprevost, foi prefeito de Curitiba em 1948. Um tio, José Carlos Leprevost, deputado federal nos anos 1960 e 70 pela Arena. O pai, embora nunca tenha disputado eleições, ocupou cargos de indicação política: foi diretor da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba e da Paraná Previdência e membro do conselho de administração da Sanepar.
Desde a primeira eleição, em 1996, que ele não fica sem um mandato eletivo. Ou seja – em 43 anos, Ney Leprevost passou 20 fazendo – e vivendo da – política.
A trajetória de Greca
A carreira política de Rafael Greca é longeva. O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas registra que ele já ocupava um cargo de indicação política entre o final dos anos 1970 e o início dos 1980: a direção da Casa Romário Martins.
Em 1982, Greca venceu a primeira eleição, para vereador, pelo PDS – legenda que, após o fim do bipartidarismo, sucedeu a Arena como partido de sustentação da ditadura militar. Em 1985, segundo o CPDOC, migrou para o PDT do ex-governador Leonel Brizola. Pelo partido, elegeu-se deputado estadual em 1986; em 1990, reelegeu-se para o cargo.
Deixou a Assembleia para concorrer à prefeitura como sucessor de Jaime Lerner. Venceu. Ao deixar o Palácio 29 de Março, em 1997, seria chamado por Lerner, então governador, para ocupar as secretarias de Planejamento e Coordenação-Geral e da Casa Civil. Acompanharia o padrinho político Jaime Lerner ao PFL (atual DEM). Pela legenda, foi o deputado federal mais votado do Paraná em 1998.
Em Brasília, mal tomou posse do cargo e licenciou-se para ser ministro do Esporte e Turismo na segunda presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Desgastado por denúncias e pelo fracasso das comemorações dos 500 anos da Independência, demitiu-se em maio de 2000. Voltou à Câmara, mas por pouco tempo: foi nomeado secretário da Comunicação Social por Lerner.
Em 2003, eleito deputado estadual, rompe com Lerner. O destino seria o PMDB, partido, no Paraná, controlado pelo maior adversário de Lerner: o senador Roberto Requião, que em 2003 tomava posse para o segundo mandato como governador.
Pelo PMDB, perdeu seguidas eleições – para deputado estadual, em 2006 e 2010; para prefeito, em 2012; para deputado federal, em 2014. Como suplente, ocupou por alguns meses uma cadeira na Assembleia Legislativa, em 2010. E esteve cargos de indicação política. Presidiu a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) entre 2007 e 2010. A pedido de Requião, foi cedido ao Senado por três vezes: entre 2011 e 12, 2013 e 14 e 2014 e 15.
Por fim, mudou-se, em 2015, para o nanico PMN.
Em 34 anos de Ippuc, menos de três trabalhados
A intensa atividade política de Greca afetou diretamente sua carreira como servidor concursado do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), que ele exibe com orgulho nessa e em outras campanhas.
Greca entrou no Ippuc em 1.º de março de 1982, informa documento obtido pela Gazeta do Povo via Lei de Acesso à Informação. Menos de um ano depois, afastou-se pela primeira vez, para ser vereador. Com as sucessivas eleições, só voltaria em 1997, quase 14 anos (ou 5.083 dias) depois. Não por muito tempo – seis dias depois, era cedido ao governo para ser secretário de Jaime Lerner.
Idas e vindas como essa seriam constantes até janeiro passado, quando, após quase 34 anos, Greca aposentou-se. Do período de 12.371 dias em que foi servidor do Ippuc, passou 11.363 afastado para exercer cargos políticos, em campanhas eleitorais ou em três licenças-prêmio – tudo, cabe lembrar, de acordo com a legislação vigente.
A trajetória de Leprevost
Ney Leprevost elegeu-se vereador pela primeira vez em 1996, filiado ao PPB – ironicamente, legenda que sucedeu o PDS, pelo qual Rafael Greca chegou à Câmara Municipal. Tinha, à época 22 anos. Antes de ser vereador, foi radialista – aos 15 anos de idade, já tinha o próprio programa numa emissora da cidade. Repetiu, assim, um caminho percorrido por outros políticos de sua geração, como por exemplo, Alexandre Curi, atualmente no PSB.
Em seus primeiros anos na Câmara, foi colega de Gustavo Fruet (então no PMDB) e Tadeu Veneri (PT), com quem disputou a eleição para prefeito no primeiro turno. Em janeiro de 1999, convidado por Jaime Lerner, foi secretário estadual de Esporte e Turismo – sua única, até aqui, experiência no Poder Executivo. Permaneceu no cargo até abril de 1999; deixou, justamente, para poder concorrer à reeleição como vereador.
Conseguiu a reeleição em 2000. E novamente em 2004, quando saiu das urnas como o vereador mais votado da cidade – desta vez, pelo PP, novo nome do antigo PPB. Mas não cumpriu o mandato até o fim. Preferiu candidatar-se a deputado estadual, cargo para o qual foi eleito com 53.471 votos – quase 20 mil a mais que Rafael Greca, que também disputou uma vaga na Assembleia Legislativa.
Seria reeleito deputado mais duas vezes, em 2010 (PP, 57.937 votos) e em 2014 – já pelo PSD, partido fundado pelo ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. A biografia publicada no site de campanha de Leprevost diz que ele “participou ativamente da fundação do PSD, tendo sido eleito por aclamação presidente do Diretório de Curitiba e secretário-geral do partido no Paraná”.
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