O ex-prefeito Luciano Ducci (PSB) entrou em 2016 com um discurso bem diferente do que tinha na eleição municipal anterior. Em 2012, quando tentou a reeleição, era vidraça: apanhou de todos os lados e terminou fora do segundo turno, em terceiro lugar. Agora, na oposição, virou estilingue.
Em uma hora de entrevista, como sexto pré-candidato ouvido nas sabatinas da Gazeta do Povo, foi crítico duro do sucessor, Gustavo Fruet (PDT). Disse que a gestão atual é medrosa e preguiçosa. Defendeu seu legado, mostrou-se solidário com o governador Beto Richa (PSDB), seu padrinho político, e afirmou que fazer o metrô nos moldes como está previsto hoje seria uma irresponsabilidade. Leia os principais trechos da entrevista.
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Como o sr. vê os questionamentos à licitação do ônibus feita na gestão do Beto Richa (PSDB) e na sua?
A licitação passou por um processo longo. Passou por audiência pública, divulgação em todos os meios de comunicação, encaminhamos esse processo licitatório para o Tribunal de Contas, para o Ministério Público, para o Tribunal de Justiça, e ninguém recorreu em nenhum momento de todas as etapas do processo licitatório. Ele foi feito de forma correta e possibilitou que a gente fizesse grandes avanços do transporte coletivo da nossa cidade. Na época, ninguém contestou. Se uma empresa tivesse interesse, entraria na Justiça ou nas audiências públicas contestando o edital. E nenhuma empresa contestou.
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Como o sr. vê as críticas ao contrato com o ICI que tirou o código-fonte da gestão dos ônibus da prefeitura?
O contrato é criticado pelo prefeito [Fruet], mas ele renovou duas vezes. Eu não sei porque ele não fez uma licitação nova ou fez uma coisa diferente se o contrato e a gestão do ICI é tão ruim.
Uma auditoria com o Tribunal de Contas avaliou que o contrato com o ICI era desvantajoso para a prefeitura.
Essa gestão acontece desde 1988. Sempre aconteceu quarteirização, por exemplo. Proponho que vocês façam uma pesquisa de quando Curitiba gasta nesse setor e comparem com outras cidades. Vocês vão ver a diferença, a economia que Curitiba faz por conta de ter um contrato concentrado dentro de um órgão.
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O prefeito Fruet afirma que o sr. deixou R$ 572 milhões em dívidas de curto prazo e que isso complicou a gestão dele. Como o sr. responde?
Os números que a [secretária de Finanças] Eleonora Fruet levou à Câmara de Vereadores em março de 2013 foram de R$ 400 milhões. Eu deixei em caixa R$ 438 milhões, deixei um resultado primário positivo de R$ 18 milhões. Essa é a conta que ela levou na Câmara. Curitiba funciona e sempre funcionou em regime de fluxo de caixa. No final do ano, não tem como você pagar... E Curitiba sempre tem contas que você não paga no mês. Tem contas de outubro que você paga em janeiro. Isso aconteceu na saúde, por exemplo. A saúde diz que a gente deixou R$ 71 milhões de dívidas. Essa dívida é do governo federal com os hospitais. Em janeiro, fevereiro e março, o governo federal foi lá e depositou R$ 70 milhões mais ou menos. O que o Gustavo fez? Abriu crédito adicional na Câmara por superávit de 2012, isso ele não fala. E R$ 400 milhões, que seja, representam 1% de quatro anos de orçamento. Então, alguma coisa errada está acontecendo dentro da prefeitura. É uma desculpa muito simplista dizer que essa dívida toda imobilizou toda a prefeitura e ao longo de toda a gestão. Olha, se você pensar bem e conseguir me dizer um projeto que ele tenha pensado, que ele [Fruet] tenha pensado, licitado, que ele tenha arrumado dinheiro e tenha executado de grande porte na cidade, eu não disputo a eleição.
O sr. acha que foi um erro dar dinheiro de potencial construtivo para o estádio do Atlético na Copa?
Se for fazer uma pesquisa hoje a maioria seria contra fazer a Copa no Brasil. Agora lá atrás, quando o Governo Federal foi atrás da Copa, quantas cidades procuraram se credenciar para ser sede? Praticamente todas as capitais. E só algumas conseguiram. Aí vem a história do estádio. Curitiba é o estádio mais barato da Copa. Então acho que a decisão da prefeitura foi correta.
O senhor sempre foi um aliado do governador Beto Richa, mas o 29 de abril derrubou a popularidade do governador? O senhor gostaria de tê-lo no seu palanque?
Eu me dou muito bem com o Beto Richa. Tenho uma amizade com o governador. Fui seu vice prefeito por seis anos. Nesse período em que eu fui vice prefeito dele, o Beto foi avaliado por dez vezes como melhor prefeito do Brasil. Fez uma grande gestão como prefeito. Agora ele é governador do estado do Paraná, reeleito em primeiro turno. Ele visualizou a questão do ajuste fiscal antes que outros governadores o fizessem. Tem estados hoje passando por momentos muito difíceis. Fez esse ajuste fiscal, teve problemas durante esse ajuste fiscal. Lamento muito por tudo aquilo que aconteceu na praça Nossa Senhora de Salete. Lamento pelo governo e pelos professores que estavam lá de forma pacífica tentando levar suas reivindicações. Agora, não pelos baderneiros que estavam lá fazendo as provocações. Li no jornal O Globo que o estado do Paraná vai crescer em 20% em investimentos esse ano. Já teve o reajuste de 10% para os servidores públicos. O segundo estado que mais vai ter avanço em investimento vai ser a Bahia, com 2%. Então acho que ele está fazendo um caminho. Teve um desgaste grande? Teve, mas a gente tem que respeitar.
Rápidas
Um lugar onde me criei e que tive a oportunidade de ampliar, que é o Mercado Municipal.
Tenho um carinho pelo Muma, que estava sucateado e tive a oportunidade de reestruturar.
Eu gosto da Praça Espanha. É uma praça que tem uma história não muito boa antiga e conseguimos fazer uma atividade cultural.
O Parque Barigui.
Madalosso.
Uberaba e Tatuquara.
Santa Felicidade. Falta a revitalização da Manoel Ribas, o Clube da Gente Pinheiros e uma unidade de saúde 24 horas.
Do jeitão curitibano de ser. Esse jeito exigente, introvertido.
O que o sr. acha do Fruet como gestor?
Um prefeito tem que ter capacidade técnica para poder planejar bem o seu governo. E tem que ter coragem para realizar. Tem que ter coragem para executar, para realizar obras. Hoje o que a gente vê é uma administração medrosa, que tem medo de fazer as coisas, que é indecisa. Mais grave ainda, é uma gestão preguiçosa. O prefeito não pode ter medo de tirar a bunda da cadeira e sair procurando recurso. Você ficar preso no seu gabinete, só ouvindo os assessores e dizendo que “a culpa é do outro” não leva a cidade a lugar nenhum.
O sr. retomaria seu projeto de metrô?
Eu sou à favor do metrô como um sistema de transporte coletivo de massa. Nós, fomos lá, fizemos o projeto. Chegamos a um valor, se não me engano, de R$ 2,3 bilhões. O prefeito tinha que imediatamente pegar aquele edital e publicá-lo. Não, foi reavaliar. “Estamos fechados para balanço.” Está fechada para balanço já há três anos a prefeitura. Foram ver o projeto. “Acho que é melhor fazer no trajeto do Inter 2”. Depois de alguns meses descobriram que era inviável. Foram imaginar um outro eixo, aí descobriram que era inviável. Aí tiveram uma brilhante ideia, de descaracterizar nosso projeto: contrataram uma empreiteira para fazer um novo projeto dentro do nosso eixo. Mudando o quê? Mudando o método construtivo. Hoje o metrô, do jeito que estão fazendo, dobrou de valor. Com o governo federal sem dinheiro para repassar, seria uma irresponsabilidade da gestão atual querer licitar o metrô neste ano. Vai licitar lá por agosto, aí vem o período eleitoral, fica lá na mídia com o metrô e não vai acontecer nada. O metrô está totalmente inviabilizado. Você vai ter que buscar outras alternativas inovadoras de transporte para a cidade.
O sr. manteria a área calma, com 40 km/h no Centro?
Área calma é fácil de fazer. Essa ideia já estava no Ippuc faz tempo, é só procurar na prateleira. Demanda somente algumas latas de tinta. Agora, sou contra usar a via calma como um sistema punitivo e arrecadatório. Colocar radar sem sinalização nenhuma.
Como resolver o problema da fila da creche, que já vem de outras gestões? Agora a prefeitura fechou vagas de berçário para acomodar crianças de 4 e 5 anos.
Fui o prefeito que mais abriu vagas em creche na história de Curitiba. Fechar vaga de berçário é lamentável. Será que a secretária de educação não sabia que tinha um Plano Nacional de Educação? Que iria chegar 2016 e que iria ter um número X de vagas. Você já pensou com quem vão ficar essas crianças? Vai ficar com o irmão de 10 anos.
O governo federal tem atrasado repasses para hospitais. Como resolver isso?
Não é só o governo federal. A prefeitura de Curitiba está segurando repasse aos hospitais. Os hospitais só não colocam isso de forma muito clara para não ficarem mal com a prefeitura.
Uma associação de bares pediu a remoção de moradores de rua à força na cidade. Como o senhor vê esse aumento de moradores de rua na cidade?
O direito das pessoas de ficar em via pública é um consenso. Não é o caso de retirar à força. Quando você fecha um abrigo na Conselheiro Laurindo que acolhia mais de 250 moradores de rua por dia, que tinha local para a pessoa comer, dormir, fazer a higiene, isso é diferente. Hoje a gente vê como política é distribuição de colchões e cobertores pela prefeitura. Você estimula mais para que ela fique na rua, inclusive nos bairros.
Qual seria a obra mais importante a se fazer hoje em Curitiba?
Deixei o projeto da Linha Verde Norte até a Victor Ferreira do Amaral e para dar continuidade até o Atuba. Dinheiro do Cepac, da Agência Francesa de Desenvolvimento. Até agora não aconteceu nada. Mas precisa concluir.