Diferente do início na vida religiosa, o batismo político não significa a primeira consagração na carreira pública de um candidato. O recebimento de um pacote de apoio ou “apoios” representa, na verdade, um primeiro passo numa direção que, se tudo sair como o esperado, renderá muitos votos para os apoiados.
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No caso das eleições para a prefeitura de Curitiba, o padrinho político estará representado, mais uma vez, por grandes figurões da vida pública paranaense. O problema é que em um cenário em que a população parece ter chegado ao limite da aversão à política (ou à velha política), estes grandes “cabos eleitorais” podem atrapalhar mais do que transferir, de fato, seu capital político a seus escolhidos.
Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo lembram que, na prática, receber a bênção ou o apoio desses figurões faz parte mais de uma estratégia em busca de tempo de propaganda eleitoral e suporte da máquina pública, do que necessariamente uma forma de atrair votos diretamente. E é justamente por esses fatores, na costura por alianças, é que é preciso pesar primeiro os problemas que virão dos ditos padrinhos.
Neste quesito, para o cientista político da UFPR, Bruno Bolognesi, o deputado estadual Requião Filho (PMDB) é o único candidato que, em tese, deve receber transferência de votos de seu padrinho, o seu próprio pai, o senador Roberto Requião (PMDB). O sangue, neste caso, falaria mais alto.
“Esse efeito deve acontecer apenas com apenas com a família Requião”, avaliou Bolognesi. Os outros saem em desvantagem, em razão de, segundo ele, a transferência de votos no país, historicamente, acontece muito mais com o atual gestor apoiando seu candidato a sucessor, como no caso de Lula e Dilma em 2010. “É também provável essa transferência entre prefeito com candidatos a vereadores”, mencionou.
Para o cientista político da Uninter, André Ziegmann, as alianças têm um ponto de partida necessário: as estratégias eleitorais para o pleito de 2018. “O maior problema é a confusão ideológica das coligações. Isso talvez confunda mais a cabeça dos eleitores do que os padrinhos”, disse.
Segundo Ziegman, um dos problemas causados pelos padrinhos famosos é a sombra que causa aos seus afilhados. “Caberá ao candidato mostrar sua própria luz durante a campanha”, lembrou.
No caso de Maria Victoria, lembrou Bolognesi, a base eleitoral dos pais não é Curitiba. Só a deputada federal Christiane Yared (PR), mais votada na cidade nas últimas eleições, poderia transferir votos. Ele, porém, faz o alerta: “A passagem de capital político não é linear”.
O mesmo ocorre com Gustavo Fruet (PDT), que tem como grande cabo eleitoral, Osmar Dias, presidente estadual do PDT e ex-senador, e com Ratinho Júnior (PSD) e o candidato Ney Leprevost (PSD). “O modo como as pessoas avaliam cargos de senador ou outro não é o mesmo que avaliam o de prefeito”, afirmou Bolognesi. Segundo ele, quando o caso é o apoio de Richa a Greca, a análise é fundamentalmente no suporte que a máquina pública pode gerar.
Quem vai com quem
Gustavo Fruet (PDT)
Seu padrinho político é o ex-senador Osmar Dias (PDT), que não é parlamentar desde 2010. Naquele ano, lançou sua candidatura ao governo estadual do Paraná pela segunda vez contra o então prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB). Em 2006, Dias também foi derrotado pela primeira vez pelo então candidato a reeleição Roberto Requião, em uma das eleições mais acirradas da história do estado. Em julho deste ano, Dias deixou a vice-presidência de Agronegócios do Bando do Brasil. A longínqua participação política de Osmar pode pesar para suposta transferência de votos para Fruet de simpatizantes do ex-senador.
Rafael Greca (PMN)
Com aliança fechada com o ex-prefeito de Curitiba e deputado federal Luciano Ducci (PSB), não demorou para Rafael Greca (prefeito da capital entre 1993 e 1997), costurar o apoio do PSDB, do governador Beto Richa. Richa teve sempre grande simpatia dos eleitores da capital, considerando suas aprovações como gestor municipal. Isso é um ponto positivo para qualquer hipótese de transferência de votos dele para Greca, mas o 29 de abril de 2015, deve pesar entre eleitores estudantes e professores, contar os vários escândalos de corrupção envolvendo seu governo, como os desvendados pelas operações Publicano e Quadro Negro.
Requião Filho (PMDB)
Na avaliação dos especialistas, se fosse para analisar apenas o fator padrinho político que transfere votos, Requião Filho sairia na frente na corrida eleitoral. Ele não tem um padrinho político, mas um pai que já teve muitos votos em Curitiba, diferente de Maria Victoria (PP). O senador Roberto Requião (PMDB) governou o Paraná por três vezes (1991-1994, 2003-2010) e também já foi prefeito da capital (1986-1989). O problema é que Requião nunca emplacou um candidato que apoiou para cadeira de gestor municipal.
Maria Victoria (PP)
Filha da vice-governadora e do ministro da Saúde Ricardo Barros, Maria Victoria tem, além dos pais, o apoio da deputada federal Christiane Yared (PR), mais votada do estado. A hipótese da transferência de votos dos pais para a filha não funciona neste caso. A base eleitoral dos Barros é Maringá e não Curitiba. O apoio de Yared, no entanto, pode ajudar Maria Victoria, principalmente, entre os evangélicos.
Ney Leprevost (PSD)
O deputado estadual mais votado nas eleições de 2010 em Curitiba, com 80 mil votos, é apadrinhado de Ratinho Júnior (PSD) nesta corrida eleitoral. Ratinho foi o derrotado na última eleição municipal, quando chegou como azarão ao segundo turno. Ele terminou aquela campanha com 387.483 mil votos no segundo turno. Anteriormente, já havia feito grande votação como deputado estadual, mas aliou-se ao governador Beto Richa. Atualmente é secretário de Desenvolvimento Urbano do Paraná. A proximidade com o governador pode gerar a mesma rejeição dele.
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