À mesa do bar, Requião Filho se livra da gravata, enquanto pede uma cerveja long neck. A pausa após conversar com a Gazeta do Povo será seu breve happy hour, antes de retomar a rotina de gravações para a campanha à prefeitura de Curitiba. Descontraído e franco, não lembra nem de longe o deputado sisudo e de discurso inflamado, que se fez notabilizar como um dos mais ferrenhos opositores ao governador Beto Richa na Assembleia. Sempre dá um jeito de mencionar a esposa e seus filhos gêmeos. As responsabilidades da vida – da pública e da pessoal – parecem o ter descolado definitivamente da fama de bad boy, que ele refuta com veemência.
“Eu nunca fui santo, mas nunca fui bad boy. Na adolescência, eu curti tudo o que tinha que curtir e acabou”, diz o candidato de 36 anos, no Hacienda Café, um dos seus pontos preferidos em Curitiba. “Aqui, estou entre amigos. É um ambiente informal, está todo mundo ‘desarmado’, sem travas. E dá pra pendurar a conta”, completa.
Em partes, talvez os ares de bad boy tenham relação com o porte físico entroncado, em 1,89 metro de altura. Outro tanto decorre dos tempos de Brasília, onde Requião Filho morou dos 15 aos 30 anos, a partir de 1994, quando o pai – Roberto Requião – foi eleito senador. Em plena adolescência, se dedicou ao jiu-jitsu e à musculação. Com amigos mais velhos, a rotina aos fins de semana era de carros, festas de techno e rock.
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“Eu aprontei muito. Saía de casa na sexta-feira e voltava no domingo. Brigava em boate, brigava em festa. Fiz o que tinha que fazer”, afirma. “Jiu-jitsu, eu aprendi pra bater nos outros. Mas depois vem a disciplina. Se você não estudar o movimento, você não vai saber executá-lo e vai apanhar. Na política é igual. Se você não souber a fundo do tema, você vai perder”, diz.
Família
Pouco depois, o rapaz começou a cursar administração, que abandonou, e direito, que concluiu. Entre o estudo de códigos e leis, conheceu Carolina, uma colega que mexeu com seus hormônios. “Quando eu a vi, eu disse: ‘Que gata! Quero pegar essa mulher”. Incansável, tentou uma chance, até que a moça cedesse. Desde então, já estão juntos há 16 anos – nove de casados. “Eu tomei toco por dois anos. Acho que ela ficou com pena de mim”, brinca. “Ela é uma grande parceira. A parceira da minha vida, para a vida inteira”, completa, falando sério.
Polêmicas-clichês
Coxa, Atlético ou Paraná?
Atlético, mas não vou mais a estádio, por causa da violência. Também sou contra a venda de cerveja dentro dos estádios.
O que pensa sobre a legalização ou descriminalização da maconha? Já experimentou?
Digamos que eu me diverti muito na juventude. Não sou contra [a legalização], mas tenho medo. Não estamos prontos como sociedade para lidar com isso. Não é o momento social.
E em relação ao aborto?
É a mesma coisa. Nós temos cultura para isso? Eu concordo com a legislação, nos casos previstos em lei.
Do casamento, vieram os filhos gêmeos Marcelo e Matheus, de um ano e seis meses, de quem fala como típico pai babão. “Quando você tiver filho, vai ver como as prioridades mudam, a cabeça da gente muda”, aponta. Após o nascimento, no entanto, os bebês precisaram ficar por um mês na UTI, entre janeiro e fevereiro de 2015 – bem na época em que professores e servidores ocuparam a Assembleia, na tentativa de impedir a votação do “pacotaço” do governo.
“Eu estava lá na Assembleia, brigando com o Beto Richa, mas a minha cabeça também estava lá no hospital. Eu não queria perder o horário de visita na UTI. Queria ver meus filhos. Foi bem pesado, mas eu tinha certeza de que eles iam ficar bem”, contou o candidato, que ainda sonha em ter uma menina, que se chamará Catarina.
Requião pai
Requião Filho interrompeu brevemente a conversa com a reportagem para atender ao celular. Era o pai, com quem costuma falar ao menos quatro vezes ao dia. Apesar da carreira pública, o senador é um pai presente, que faz questão de ter a família por perto. “Ele é do estilo ‘paizão’, que leva todo mundo embaixo da asa”, revela o filho. “Apesar disso, não era de dar moleza. Se passasse de ano na escola, dizia que não era mais que a obrigação”, completa.
O candidato a prefeitura leva com bom humor as polêmicas envolvendo o pai. Ri de uma foto que roda a internet, em que o senador aparece andando em um quadriciclo (“Se duvidar, até eu já capotei aquilo lá”, diz) e de outra em que Roberto Requião está atrás de um portão, em que há a inscrição “cuidado com o cão” (“Eu deixava essa foto cadastrada no número [de celular] dele. Quando ele me ligava, aparecia esse foto”, ri).
A única controvérsia que Requião Filho não perdoa diz respeito a um falso boletim de ocorrência surgido às vésperas da eleição de 2001 e que dava conta que o senador teria agredido a esposa, Maristela Quarenghi de Mello e Silva. “Aquela mentira ultrapassou todos os limites do razoável, porque envolveu toda a minha família. O homem público tem que lidar com polêmica, mas a figura pública era meu pai, não a família”, avalia.
Política
Na verdade, Requião Filho se chama Maurício Thadeu de Mello e Silva. Emprestou o nome do pai quanto entrou para a vida pública e se elegeu deputado estadual, em 2014. Acredita ter herdado do pai a firmeza e a teimosia, de quem “vai até o fim”. Foi, também, ao lado da família, que conheceu o Paraná inteiro. “Eu já estive nos 399 municípios do estado com o meu pai. Se você procurar, vai achar foto em que eu estou no colo da minha mãe, fazendo campanha no interior”, disse.
Apesar de eloquente e dono de um discurso inflamado, Requião Filho se considera um homem tímido. Neste sentido, acredita que a livros como A dialética (Platão) o ajudaram a superar a dificuldade de apresentar-se em público. Politicamente, se define como um “revolucionário reativo”, que acredita que o governo deve ter um viés social. “O estado deve corrigir iniquidades, precisa garantir condições dignas às pessoas”, opina.
De forma semelhante ao pai, o candidato à prefeitura não foge de assuntos polêmicos. Defende, por exemplo, o direito de o cidadão manter uma arma em casa, como forma de “proteger a família”. Ele mesmo tem uma pistola Glock, calibre 380, e diz ser bom atirador. “Eu tenho porte, já andei armado. Hoje, não mais. Deixo ela em casa”, confidencia.
Também é um crítico do excesso de poderes que o Judiciário tem assumido e critica a relação desta esfera com a imprensa. “A judicialização enfraquece a democracia, a ponto de pessoas eleitas pelo voto estarem à mercê de juízes”, disse. “O Judiciário e a mídia vivem uma ‘síndrome de Estocolmo’. A gente só não sabe quem é o sequestrador”, completou.
Vida
Requião Filho passou a infância no Bigorrilho, em uma época em que o bairro era “simples, longe de tudo”. Vivia na rua, jogando bets ou se “quebrando” no skate ou na bicicleta. Integrou a turma do fundão nas escolas Jean Piaget e na International School of Curitiba. “Nunca reprovei, mas mais bagunçava que estudava”, lembra.
Hoje, acorda às 6 horas, faz musculação no próprio condomínio, curte a família e segue para os compromissos públicos. À noite, após paparicar os filhos, gasta boa parte do tempo entre a leitura e as redes sociais. Apesar disso, critica a onda de “discursos de ódio”. “As pessoas só leem a manchete ou o que reforça a opinião que têm. Falta contraponto”, diz.
Além do Hacienda, gosta de frequentar restaurantes como Spaghetto, Madalosso, Barollo ou Fogo Forte. Tem, entretanto, optado mais por churrasco com amigos e com a família. É afeito a um bom vinho e, de vez em quando, a um bom uísque ou scotch. Gosta de cerveja, mas não se rendeu às artesanais. “Simplesmente, porque eu me recuso a pagar R$ 35 numa garrafa”, finaliza.
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