A campanha eleitoral para as eleições municipais começa oficialmente na próxima terça-feira (16). É difícil, entretanto, olhar para o início do período eleitoral sem ter o foco desviado para a crise política nacional. A iminência da votação final do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado Federal, as sucessivas fases da Operação Lava Jato e a vinda de Dilma a Curitiba para participar do Circo da Democracia parecem jogar uma cortina de fumaça sobre o debate político municipal. Contudo, na avaliação de especialistas e candidatos, essa situação deve mudar e no dia 2 de outubro os eleitores vão votar com os olhos voltados mais para Curitiba que Brasília.
“As pessoas vão para as urnas pensando nas questões do bairro, no transporte público. O eleitor segue a dinâmica eleitoral, então nas disputas locais ele define seu voto avaliando o que foi feito na cidade nos últimos quatro anos”, diz o cientista político André Ziegmann, da Uninter.
Para ele, um bom exemplo desta dinâmica é o fato de a primeira pesquisa* de intenções de voto para a prefeitura de Curitiba ter apontado o candidato Requião Filho (PMDB) empatado na liderança da disputa ao lado de Gustavo Fruet (PDT) e Rafael Greca (PMN). O candidato é filho do senador Roberto Requião (PMDB), que tem sido um dos principais articuladores contra o impeachment de Dilma no Senado Federal.
A pesquisa divulgada em julho também demonstrou que Requião Filho é o candidato à prefeitura de Curitiba que tem a maior rejeição: 37% dos entrevistados disseram que não votariam nele de jeito nenhum. Entretanto, este número é bem inferior ao percentual de curitibanos que apoiam o impeachment. Um levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas em abril, mostrou que 75% dos entrevistados na capital paranaense apoiam o impedimento de Dilma Rousseff.
Mensalão
Assim como o impeachment e a Lava Jato são temas preponderantes no cenário atual, em 2012 o assunto que dominava a agenda era o julgamento do mensalão. O caso que terminou com 24 condenados – inclusive nomes fortes do Partido dos Trabalhadores como José Dirceu e Delúbio Soares –, começou a ser julgado dois meses antes das eleições municipais.
Mesmo com a imagem arranhada, o PT conseguiu vitórias importantes. A maior delas foi a eleição de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. Em Curitiba, Gustavo Fruet foi eleito com o apoio do partido, que conseguiu ainda repetir o número de vereadores eleitos nas eleições de 2008 com um número ainda maior de votos.
Visão dos candidatos
“O que a Lava Jato traz é o tema anticorrupção, a discussão de uma nova política. Fora isso, nós, curitibanos, queremos discutir Curitiba. Queremos soluções de educação e segurança, que são temas locais”, diz o candidato Requião Filho.
O prefeito Gustavo Fruet também deve adotar o mesmo tom em sua campanha. Fruet, que chegou ao Palácio 29 de Março com o apoio do PT, dará destaque a temas municipais, mas, segundo sua assessoria, também abordará temas como ética e transparência em decorrência da Lava Jato.
Tadeu Veneri, candidato petista, é o que mais deve sentir o impacto da rejeição ao partido em decorrência do cenário nacional. Para o cientista político André Ziegmann, esta situação está mais relacionada a uma rejeição histórica dos eleitores curitibanos ao Partido dos Trabalhadores que a cenários conjunturais.
Assim como farão os outros candidatos, a tônica da campanha petista será o debate municipal. “A interferência das questões nacionais não é tão grande quanto alguns gostariam. Ela não vai pautar o debate. Ninguém vai resolver o problema da mobilidade urbana na cidade discutindo quando o Senado vai votar o impeachment”, afirma Veneri.
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