Deputados assumem hoje
Os 54 deputados estaduais eleitos e reeleitos em 2006 tomam posse hoje, às 15 horas, na Assembléia Legislativa. A sessão solene será presidida por Duílio Genari (PP), o parlamentar com mais tempo de Casa. O mandato vai até 31 de janeiro de 2011.
Dos deputados que assumem hoje, 34 foram reeleitos. A cerimônia de posse terá a participação do governador Roberto Requião e do presidente do Tribunal de Justiça, Tadeu Marino Loyola Costa, entre outras autoridades estaduais e municipais. No mesmo dia, após prestarem juramento constitucional, os parlamentares elegem a nova Mesa Diretora da Casa, que terá o poder por dois anos. Nélson Justus (PFL) deve ser eleito presidente.
Funções
SenadorRepresenta os estados no Senado, processa o presidente da República e o vice, aprova ou veta ministros do Poder Judiciário, propõe projetos de lei, fiscaliza o Poder Executivo e vota matérias financeiras dos estados e da União.
Deputado federalRepresenta o povo na Câmara dos Deputados, propõe projetos de lei, vota e fiscaliza o Poder Executivo. Ainda vota o orçamento e outras propostas legislativas da União.
Deputado estadualRepresenta o povo na Assembléia Legislativa; propõe, discute e vota leis estaduais, fiscaliza o governo do estado.
Apenas quatro meses após as eleições, quase a metade da população de Curitiba já não se recorda em quem votou para deputados e senador. Levantamento realizado pelo instituto Paraná Pesquisas, a pedido da Gazeta do Povo, mostra ainda outro dado preocupante: a maioria do eleitorado sequer conhece a função dos parlamentares que tomam posse hoje.
A falta de informação do eleitor se reflete na atuação do Poder Legislativo. A opinião é do advogado Ali Hadad, de 56 anos, que se considera uma exceção entre a maioria. "Eu me lembro em quem votei, mas muitos dos meus candidatos foram escolhidos por serem os menos piores", disse ele.
Para Hadad, a falta de participação popular faz com que os políticos não se sintam pressionados e ponham em votação qualquer projeto que lhes interessa. "O pacote vai pronto para votação no Legislativo. É o voto de bancada, de liderança, tudo já pré-determinado. E o povo é ignorado", afirmou ele, que não acredita que a participação da sociedade indo à Assembléia Legislativa ou à Câmara Federal vá ajudar a fazer pressão sobre os deputados.
De acordo com a pesquisa, 89,6% do eleitorado nunca foi à Assembléia Legislativa, em Curitiba. Apenas 10,4% dos eleitores afirmaram conhecer a Casa de perto. "Faz mais de uma década que não piso lá", admitiu o advogado. "Os mais necessitados não têm representatividade nem força nem organização para pleitear. E estão mal preparados para tal atitude. Os movimentos de bairros, por exemplo, não sabem como reivindicar e pressionar", disse ele.
Memória
O instituto Paraná Pesquisas levantou que apenas pouco mais da metade (55,6%) dos eleitores de Curitiba sabem em quem votaram para deputado estadual. Desse porcentual, porém, 6,2% citaram nomes que não participaram da última disputa eleitoral. Quanto aos federais, 52,2% se lembram de seus candidatos, mas 5,4% deles citaram nomes que não participaram das eleições.
Para senador, como houve menos candidatos, 69,6% souberam dizer em que votaram e 3,2% erraram os nomes dos postulantes ao cargo.
No entanto, segundo a pesquisa, 73% não sabem a função de um senador. Não à toa, talvez, Tancredo Neves afirmava que ser senador é ir para o céu sem precisar morrer, tamanho o conforto que os senadores têm e a pouca cobrança por parte dos cidadãos. De acordo a pesquisa, os 61,8% eleitores também não sabem o que faz um deputado federal. E 55,4% não sabem qual a atividade de um deputado estadual.
Segundo a cientista política e sociológa da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), Samira Kauchakje, a ausência de memória tem a ver com o desinteresse da população pelo cenário político. Mas em menor proporção do que o fato de os políticos exercerem a cultura do mando e do autoritarismo. "O brasileiro não tem a cultura política e vê os políticos com se estivessem em uma corte. A população não entende que eles estão lá para servi-los e que o cargo é público. A maioria considera que é um cargo de privilégio e que só tem de votar porque há a obrigação."
O desleixo do cidadão com a política, de acordo com Samira, é porque considera que esse é um assunto de poucos privilegiados e dos espertos. "E há ainda o marketing das campanhas eleitorais, que são elaborados para aquele momento. É um marketing de aparência, não de conteúdo. A campanha é feita para que os eleitores engulam o candidato e não reflitam sobre ele. Os políticos são produtos de consumo. E marca, a gente esquece mesmo", analisou, comparando ao fato de o consumidor adquirir um produto pela embalagem e não sabe, por exemplo, as calorias que ele contém.
Desestímulo
A revendedora Ester Fernandes Raicoski, de 50 anos, está entre os eleitores que já não se lembram do voto. "Sempre escolho de última hora e por indicação dos outros. Falta estímulo para conhecer melhor os políticos", afirmou ela, que nem sabia que poderia ir à Assembléia Legislativa participar das sessões. Assim como Ester, a técnica em Administração Mariana Tschannerl, de 19 anos, tambem não se lembra para quais políticos depositou seus votos. "Mas tenho o nome de todos anotados em casa. Voto mais com o número". Segundo a jovem eleitora, ela só votou porque havia parlamentares que davam ajuda social (fraldas) para seu avô. "É melhor do que votar em branco."
Mariana também não conhece a sede do Legislativo nem tem vontade de conhecer. Para ela, de nada adiantaria. "Sei que votar como votei, não ajuda. Isso não basta. Mas fazer o quê? Não podemos mesmo confiar nos políticos. Se confiramos, estamos lascados."