Veja a lista dos "infiéis" que foram reeleitos| Foto: Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal Superior Eleitoral

Curitiba

Os eleitores curitibanos também elegeram um político cassado por infidelidade. Tico Kuzma (PSB) recebeu 7.298 votos na eleição de 5 de outubro e vai ocupar uma das 38 cadeiras na Câmara de Vereadores de Curitiba a partir de janeiro de 2009. Kuzma foi o único parlamentar a perder o mandato por infidelidade na capital paranaense até agora. O julgamento de Kuzma aconteceu em 15 de julho e a decisão foi unânime. Ele foi eleito em 2004 pelo PPS, mas trocou a legenda pelo PSB, onde está atualmente.

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Os eleitores paranaenses que votaram nas últimas eleições colocaram de volta nas câmaras municipais 58 políticos cassados neste ano por infidelidade partidária. Dois foram os vereadores mais votados de suas cidades. Outros quatro infiéis se elegeram vice-prefeitos. Desde que entrou em vigor a determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a fidelidade partidária, em outubro de 2007, 165 vereadores perderam os cargos no Paraná.

Dos parlamentares cassados, 26 não entraram na disputa eleitoral e três tiveram as candidaturas impugnadas, não podendo concorrer. Dos 136 infiéis que efetivamente disputaram um cargo nesta eleição, 45% conseguiram de eleger. Os eleitores de Santa Inês, município do Noroeste do estado, devolveram os cargos aos três vereadores cassados na cidade.

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Nos municípios de Mandaguari e Tapira, no Noroeste do estado, os vereadores mais votados nesta eleição haviam perdido o mandato por terem trocado de partido. João Jorge Marques (PDT), conhecido como Jorge do Alambique, recebeu 886 votos e Walter Donizete Egea (PT), 330 votos. Outros cinco infiéis receberam a segunda maior votação de seus municípios.

Jorge do Alambique conta que já disputou a eleição para vereador quatro vezes em Mandaguari. Em 2004, quando ainda estava filiado ao PMDB, ficou como primeiro suplente. Ele assumiu a vaga depois da morte do titula Jair Alípio. Com a mudança para o PDT depois de 27 de março de 2007, data definida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como limite para trocas de legenda, acabou perdendo o mandato.

Para o pedetista, a cassação foi determinante para sua grande votação neste pleito. "Meus eleitores ficaram revoltados com a minha saída. Eles se engajaram na minha campanha e me ajudaram", afirma o vereador eleito.

Já Egea, apesar de ter sido o mais votado, acredita que a cassação prejudicou sua campanha. Ele conta que seus adversários usaram a perda do mandato para tentar desestruturar a candidatura dele. "Eles falavam que se eu ganhasse não poderia assumir e isso me tirou muitos votos", garante Egea. O vereador eleito se diz favorável a fidelidade partidária, com algumas restrições. "O partido também tem de ser fiel a gente. Se entra um adversário meu na direção do partido tenho que sair", comenta.

Para a cientista política Maria Lucia Barbosa, professora aposentada da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o resultado das urnas é uma demonstração da tradição do eleitor brasileiro de desconsiderar a qual partido seu candidato pertence. Segundo Maria Lucia, os políticos têm maior personalidade que os partidos. "No Brasil os partidos são clubes de interesse ou legendas de aluguel", afirma a cientista.

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Outra explicação para a eleição dos infiéis, na visão do professor de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UPFR), Ricardo Costa Oliveira, é o "clientelismo" dos eleitores. Oliveira explica que a prática do assistencialismo, ainda muito comum no país, é o que liga a população diretamente ao nome do político e não a suas idéias. "É preciso acabar com a premissa do rouba mais faz", afirma.

Os estudiosos apontam a reforma política como uma das armas contra a eleição de políticos infiéis e fichas-suja. Maria Lucia defende regras mais rígidas para criação de partidos políticos, com objetivo de evitar as legendas de aluguel. Oliveira defende uma ação mais rígida do Ministério Publico e da Justiça Eleitoral fiscalizando a conduta dos candidatos.