O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou em entrevista à BBC Brasil que não aposta no julgamento do Senado para o processo de impeachment de sua sucessora e aliada Dilma Rousseff e, sim, no da História. Lula disse ainda, sem citar nomes, que Dilma irá se “expor corajosamente” no Senado “para que o Judas Iscariotes possa acusá-la na frente dela”.
“Às vezes a História demora séculos para julgar e eu trabalho com isso. A História não termina dia 29. Ela começa dia 29”, afirmou.
O ex-presidente também ressaltou que uma maioria eventual “se juntou para tirar a presidente”. Lula afirmou ainda que o presidente interino Michel Temer, que é constitucionalista, sabe que o processo é ilegal “porque a Dilma não cometeu crime e porque é um golpe parlamentar”.
Lula também falou sobre o legado do PT, em meio ao impeachment. Para ele, o afastamento de Dilma não tem a ver com suas decisões na área econômica, mas porque “parte da elite política e econômica” não admite a ascensão social dos mais pobres.
Sobre ter se tornado réu por suspeita de obstrução da Justiça na Operação Lava Jato, Lula se diz alvo de mentiras e vítima de acusações sem “uma única prova” e volta a afirmar que não tem medo se ser preso.
“Estão procurando razões para justificar o processo. Eu estou tranquilo, tenho consciência do meu papel nessa história toda, estou tranquilo porque eles inventaram que eu tenho um apartamento e vão ter que provar que o apartamento é meu, ou me dar um apartamento”, declarou.
Confira os principais trechos da entrevista:
Julgamento do impeachment
Vai ser um momento importante, um momento histórico porque a presidenta vai ao Senado se expor. Ela corajosamente vai se colocar diante de seus acusadores para que o Judas Iscariotes possa acusá-la na frente dela. E ela vai tentar mostrar para eles o erro que estão cometendo. Se a Dilma não conseguir convencer os 28 senadores (número necessário para evitar o impeachment), ela vai estar fazendo um gesto histórico neste país. É uma mulher de coragem se expor diante de 81 senadores e ouvir de cada um, olho no olho de cada um, a acusação e poder, olho no olho, se defender.
Crise política
Eu me preocupo todo dia com o Brasil. Eu acho que a gente nesse instante de crise tem que pensar como sair da crise, não ficar discutindo a crise. Eu dizia, no G20 de 2009, que o problema da crise era a falta de lideranças políticas para decidir politicamente o que tinha que ser feito. E eu acho que aqui no Brasil a gente poderia ter saído da crise mais rápido. Quando você demora para tomar uma decisão, pode virar um século. Nós demoramos, o Congresso quis prejudicar a presidenta. A presidenta e o governo exageraram na política de desoneração.
Lava Jato
Por falta de prova, eles começaram a preparar um discurso, que você deve conhecer bem, que é a teoria do domínio do fato. Ou seja, se o Lula é presidente, ele deveria saber. Não existe essa de você julgar em tese. Ou você prova ou não prova. Ou você pede desculpa ou não pede desculpa.
E eu não quero nada, só quero que peçam desculpas pelas mentiras que contaram a meu respeito. Nós temos uma força-tarefa nesse processo. Que envolve um juiz, procurador e Polícia Federal. Então, você não sabe quem investiga, quem acusa e quem vai julgar. Uma mistura, todo mundo faz tudo.
Então, nós entramos com um processo no escritório da ONU em Genebra para que a gente mostre que há, no mínimo, uma certa suspeição no comportamento, ou seja, as pessoas querem transformar uma mentira que eles inventaram num processo.
Popularidade
Olha, primeiro eu reajo com muita naturalidade, ou seja, estou há praticamente seis anos fora da política, até por respeito à presidenta Dilma, que acho que ela tinha que ter liberdade para governar o país. Então é normal que a pesquisa não seja mais a pesquisa do ano que eu saí da Presidência, com 87% de “bom e ótimo”.
Mas tenho clareza de que na hora que a gente começar a debater neste país, que a gente começar a mostrar o que o PT fez nesse país, da diferença do governo do PT com os governos do passado, eu tenho certeza que o povo vai se lembrar que o que o PT trouxe em 12 anos de benefício para esse povo – com educação, saúde, trabalho, politica agrícola – eles não fizeram em 200 anos.
ONU
A imprensa mentiu muito e não sei se a imprensa vai ter caráter para pedir desculpas. É por isso que eu recorri a uma instância das Nações Unidas para ver se existe pelo menos um comportamento exemplar de uma Justiça a serviço da justiça.
Retomada da economia
Eu acho que tem uma palavra mágica, que vale para qualquer país do mundo, que é credibilidade. É preciso recuperar a credibilidade do país no próprio país. E o importante é fazer que o povo acredite que as coisas vão acontecer. Se o sistema financeiro não tem crédito, se os empresários não confiam na política, se o Estado não tem dinheiro para investir, não tem como acontecer um milagre. Nós precisamos recuperar a capacidade do Estado de investir, a confiança para o sistema financeiro fazer crédito e do empresário para investir. E isso nós já fizemos. É possível fazer.
Olimpíada do Rio
Você não briga para trazer uma Olimpíada e resolver os problemas sociais do país. Você briga para trazer uma Olimpíada para fazer uma disputa esportiva e mostrar o seu país ao mundo e deixar como legado tudo o que você gastou com as Olimpíadas. E obviamente que o Rio de Janeiro está muito mais bonito, com muito mais metrô, com uma cara mais limpa, vai ficar muito melhor. Resolveu todos os problemas? Não. Mas não era para isso. Nós não estamos fazendo as Olimpíadas de restauração do bem-estar social.
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