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O Strokes tinha beirado a perfeição e estava na vantagem como o melhor do TIM Festival na seara pop-rock. O Kings of Leon e o Wilco vinham pouco atrás, seguidos pelo empolgadíssimo Arcade Fire. O mundo livre s/a corria por fora. Tinha sido assim até o terceiro dia do evento.

"Tinha", "vinha"... Pretérito-imperfeito serve para isso mesmo. Para ser usado depois do show destruidor de Elvis Costello & The Imposters, por exemplo. Ao lado de sua banda, o músico britânico mostrou que a molecada do Strokes, Kings, Wilco e Arcade, apesar do talento e da disposição, precisa ainda comer muito feijão com arroz para conseguir superar a performance de um artista que tem completo domínio de sua arte. A arte no caso é, como dizer?... Rock'n roll, modalidade furiosa e dançante - o nesmo espírito do início, lá pelo final dos 50/ início dos 60.

É simples, enfim. Mas não tanto quanto parece. Num show em que praticamente não deixou a platéia respirar, com um petardo atrás do outro muitas vezes sem pausa, Costello passeou (à sua maneira, sempre) por country, reggae, punk, pré-punk, pós-punk, soul, latinidades... De cara, explodiu "Unconplicated" na cara da platéia e convocou-a a abandonar suas mesas e cadeiras. Era o começo.

"Explosão" é o termo exato para a banda de Costello. A bateria de Pete Thomas é tocada com o vigor de quem comanda uma britadeira. O baixo de Davey Faragher aumenta a tensão com um groove de funkeiro a serviço do rock, enquanto o excepcional Steve Nieve martela seus teclados como se fosse um Jerry Lee-Lewys. O rock dos primórdios é referência constante, assim como o som negro da época - um dos pontos altos do show foi uma releitura de "You've really got a hold on me", de Smokey Robinson.

Já a guitarra de Costello... Ah, a guitarra de Costello. Além de saber explorar ao máximo o fetiche do instrumento, ele extrai dela o som que precisa. Raros solos, sempre de poucas e expressivas notas, timbre perfeito para sua música, rascante mesmo em baladas de acento soul como "Country darkness", na clássica "Alison" ou mesmo numa citação à "Insensatez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Depois de encerrar o show, Costello voltou para o bis com a disposição de quem começa um novo espetáculo. Emendou seis músicas, entre elas a versão que fez para "She" (de Charles Aznavour e Herbert Kretzmer), que gravou para a trilha do filme "Um lugar chamado Notting Hill". Para fechar a noite, a cereja do bolo "I want you", lenta e dura viagem zeppeliniana. Golpe final num público já, àquela altura, completamente chapado.

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