Nesta sexta-feira, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) completa 100 dias na presidência da Câmara e pode-se dizer tudo, menos que o início de seu mandato foi monótono. Foram 106 sessões em 100 dias, a primeira delas na noite de 1º de fevereiro; 67 projetos aprovados, sendo 31 medidas provisórias do Executivo; um aumento de quase 30% nos próprios salários; um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aprovado; uma CPI instalada contra a vontade do governo; um deputado criticado por usar chapéu de vaqueiro; outro prestigiado por lançar CD de forró; muitos afagos dos parlamentares, até da oposição; e um bate-boca com Fernando Gabeira (PV-RJ), com o qual arrancou aplausos dos colegas.
Considerado mal-humorado por alguns, turrão por muitos e homem firme por todos, Chinaglia é elogiado pelo alto volume de trabalho que tenta impor à Câmara. Chegou até mesmo a incluir as segundas-feiras entre os dias de votações, prática que acabou derrubada por pressão dos deputados, que preferiam passar o primeiro dia útil da semana articulando com as bases.
- Ele deu um ritmo diferenciado ao funcionamento da Casa, mostrou-se um presidente com pulso. A produtividade está mais elevada quando comparada à de outros presidentes. Chinaglia pegou a presidência num momento de dificuldade, com alguns resquícios da última legislatura, e mesmo assim fez com que o processo decisório, que estava sob a liderança do Senado, voltasse à Câmara - avalia o analista político Antônio Augusto Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
A postura de Chinaglia é festejada até pelo líder da Minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS), para quem o petista é "franco e verdadeiro" e conseguiu aprovar projetos "que proporcionaram ao país as condições plenas para que o governo promova o crescimento econômico". O tucano faz uma ressalva, no entanto, à decisão de Chinaglia de colocar em votação o recurso do PT que tentou barrar a CPI do Apagão Aéreo, o que acabou levando o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
- Ele não poderia ter aceitado de maneira alguma a idéia de dar à maioria um direito que era da minoria. Foi um erro, uma parte negativa dele como presidente - diz.
Redecker critica também o volume de medidas provisórias editadas pelo governo, o que atrapalharia os trabalhos da Câmara.
- O Parlamento perde iniciativa a cada dia. Eu acho que o presidente poderia controlar com mais severidade o critério de urgência das MPs. Tem que haver uma reação da Câmara para permitir um espaço para o Legislativo - afirma.
O líder do DEM, Onyx Lorenzoni (RS), concorda e diz que a ligação com o governo prejudica a gestão do petista. Para ele, Chinaglia deveria estender a firmeza que demonstra nas demais questões para a relação com o Palácio do Planalto.
- O governo manda para cá MPs absolutamente desnecessárias, muitas com inconstitucionalidades claras. O Parlamento brasileiro virou um grande carimbador de decisões do Executivo. Isso aumentou por falta de uma posição firme da presidência na defesa do Parlamento. Eu queria que o Chinaglia fosse mais presidente do Parlamento e menos apoiador do presidente Lula.
Já para o líder do PT, Luiz Sérgio (RJ), os primeiros 100 dias de seu colega de partido foram positivos e com "votações importantes e uma política de austeridade". Ele argumentou que a má imagem da Câmara se manteve no período, em parte, porque os meios de comunicação não valorizarem o lado bom da Câmara.
- Na semana em que a Câmara aprovou o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), fruto de um enorme debate, a imprensa deu mais destaque ao novo gabinete do Clodovil. Às vezes não ocorre o equilíbrio do que é positivo e negativo. Nenhuma instituição resiste se o que ela produz de bom não é mostrado - acredita Luiz Sérgio.
Relação tempestuosa com a imprensa
Com seu jeito curto e grosso, o presidente da Câmara parece não dar sua contribuição para fazer com que a imprensa veja os tais pontos positivos do Legislativo que o líder do PT ressalta. Chinaglia já protagonizou episódios memoráveis, como a decisão de processar o comentarista Arnaldo Jabor por criticar a Câmara; a intenção de desalojar os jornalistas que cobrem o Congresso, transformando o local em que trabalham em seu próprio gabinete presidencial; ou mesmo o adiamento do concurso público da Casa, reduzindo o número de vagas para Comunicação Social de 31 para 12.
Segundo o primeiro-secretário Osmar Serraglio (PMDB-PR), Chinaglia teria dito que a melhor forma de melhorar a imagem da Câmara é garantir a presença dos deputados em Brasília, e não contratar novos jornalistas. Já a mudança de local do comitê de imprensa é apontada como uma forma de evitar o assédio dos jornalistas e das pessoas que passam pelo Salão Verde.
Chinaglia é criticado pelos jornalistas que cobrem a Câmara por vários momentos de grosseria. Antes de assumir a presidência, ainda líder do governo, teria mandado uma repórter calar a boca e ordenado que ela não lhe fizesse mais perguntas. Seriam constantes também cortadas irônicas no meio de perguntas e telefonemas desligados abruptamente.
O fato de o petista ainda não ter - até agora - um assessor de imprensa oficial que divulgue sua agenda e paradeiro também incomoda os repórteres, que têm que descobrir quando o presidente quer falar ou não com a imprensa.
- Quanto mais próxima a imprensa estiver do Parlamento, melhor. O presidente tem a missão de defender a imagem da Casa e, quando tem problemas com a imprensa, tem problemas em defender essa imagem. Então ele tem que melhorar a relação com os jornalistas - avalia o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), líder da Minoria durante a gestão Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
Luiz Sérgio discorda:
- A imprensa é para relatar a verdade dos fatos, mesmo não gostando do tratamento.
Apesar de tudo, o jeito Chinaglia de ser agrada alguns jornalistas, apesar das "patadas". Além do mais, acreditam alguns repórteres, o petista teria se tornado mais afável após assumir a presidência.
- Ele é melhor que o Aldo, porque fala, se expõe e é sincero - diz uma repórter.
Para outra jornalista, ao ser perguntado por que não se esforça para melhorar a relação com a imprensa, Chinaglia teria feito uma espécie de auto-síntese: "Eu não sou mal-humorado. Sou rápido no gatilho".
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