Chama atenção o “entra e sai” de políticos do gabinete do presidente da República interino, Michel Temer. Dependente do Congresso Nacional, ele tem dedicado a maior parte da sua agenda oficial a parlamentares. Ao longo dos últimos 100 dias, a vida de Temer no Palácio do Planalto se dividiu basicamente em reuniões com ministros, empresários e políticos, em especial senadores e deputados federais. Levantamento feito pela reportagem da Gazeta do Povo mostra que, na agenda do interino, constam mais de 100 reuniões com políticos realizadas entre 12 de maio, quando ele assumiu o Executivo, até 19 de agosto, quando a gestão dele completa 100 dias.
Temer fez reuniões reservadas, com apenas um político, mas também promoveu encontros com bancadas inteiras - como a bancada do PPS e a bancada do Rio Grande do Sul na Câmara Federal. Os políticos mais convocados foram líderes parlamentares. No “ranking” dos políticos recebidos por Temer, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, é o campeão. Antes um dos principais alicerces da presidente da República afastada Dilma Rousseff, Calheiros agora tem sinalizado proximidade com Temer.
No balanço, poucas viagens e poucas autoridades estrangeiras
Durante os 100 dias, Temer viajou apenas para o Rio de Janeiro, em função da Olimpíada, e para o Paraná, para participar da inauguração de uma unidade da Klabin, na cidade de Ortigueira. Também teve um compromisso oficial em São Paulo, onde mantém residência. Lá, ele participou da abertura do Global Agribusiness.
Temer também recebeu poucas autoridades estrangeiras. A principal foi o presidente da Armênia, Serzh Sargsyan, no último dia 12. Se confirmado no cargo, Temer fará sua primeira viagem internacional para a China, onde haverá uma reunião do G20 no início de setembro.
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Há outras curiosidades. O polêmico deputado federal Waldir Maranhão (PP-MA), que sempre pertenceu ao chamado “baixo clero”, mas ganhou holofotes ao comandar temporariamente a Câmara dos Deputados, foi recebido três vezes por Temer, apenas uma vez na condição de presidente do Legislativo. Nas outras duas ocasiões, Maranhão já tinha deixado a presidência da Casa, após o tumultuado episódio da renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Antes da renúncia, Cunha também teria se encontrado com Temer, embora a reunião não tenha sido incluída na agenda oficial.
Outro político que esteve no gabinete do presidente Temer foi o ex-deputado federal Ibsen Pinheiro, que comandou o impeachment do ex-presidente da República e senador Fernando Collor (PTC-AL). Pinheiro é atualmente deputado estadual pelo PMDB do Rio Grande do Sul.
Não se sabe se o impeachment da presidente Dilma estava na pauta da reunião, mas o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que até recentemente declarava ter dúvidas sobre o processo contra a petista, também frequentou o gabinete de Temer, acompanhado do ministro da Educação, Mendonça Filho. A área da educação é a principal bandeira de Buarque, que na última votação do Senado sobre o impeachment votou contra a presidente Dilma.
Temer também já recebeu em seu gabinete mais de dez governadores, incluindo o do Paraná, Beto Richa (PSDB). O também tucano Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e principal resistência do PSDB na adesão ao governo Temer, não aparece na lista de chefes de Executivo recepcionados pelo interino.
Mas, entre os políticos do Paraná, o visitante mais frequente do Palácio do Planalto foi o deputado federal Rubens Bueno, que é líder da bancada do PPS na Câmara. Ao lado do PSDB e do DEM, o PPS integra o núcleo duro contra a presidente Dilma. A filha do pepessista, Renata Bueno, ex-vereadora de Curitiba e hoje integrante do parlamento italiano, também se encontrou com Temer. Os deputados federais pelo Paraná Fernando Giacobo (PR), Alfredo Kaefer (PSL) e Sergio Souza (PMDB) também tiveram reuniões reservadas com o presidente em exercício.
O paranaense Ricardo Barros (PP), ministro da Saúde, participou apenas das reuniões do primeiro escalão. Embora o pepista esteja à frente de uma das principais pastas do governo federal, na agenda oficial de Temer não constam reuniões reservadas com o paranaense. Michel Temer fez dezenas de reuniões com ministros ao longo dos 100 dias. Os ministros com o maior número de reuniões “individuais” são Henrique Meirelles (Fazenda), Dyogo Oliveira (Planejamento, Desenvolvimento e Gestão), Mendonça Filho (Educação) e Bruno Araújo (Cidades).
Outro político do Paraná, o ex-deputado federal Marcelo Almeida (PV), garantiu à reportagem que não falou sobre política com Temer, na visita que fez ao peemedebista. “Falamos sobre literatura”, disse Almeida, que hoje atua na campanha eleitoral do prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), candidato à reeleição.
Além de literatura, Michel Temer, que tem formação em Direito, também recebeu visitas ligadas à área, como Valmir Pontes Filho, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Administrativo; Jayme Martins de Oliveira Neto, presidente da Associação Paulista de Magistrados; e José Carlos Xavier de Aquino, desembargador decano do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Religião
Alguns parlamentares não foram sozinhos ao gabinete de Temer. O senador Eduardo Lopes (RJ), presidente nacional do PRB, foi recebido mais de uma vez pelo interino. Em uma das ocasiões, ele levou membros da Associação Brasileira de Mídias Evangélicas. O deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG) também levou membros da Associação Nacional de Juristas Evangélicos. No mês passado, quem também fez uma visita a Temer foi Robson Rodovalho, presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil.
Empresariado
Temer também recebeu dezenas de empresários, de áreas variadas, como a de comunicação: entraram no gabinete os empresários Luiz Claudio Costa, presidente da Rede Record de Rádio e Televisão e da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), e José Roberto Maciel, presidente do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
Mas o campeão de visitas entre o empresariado foi Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que esteve no gabinete de Temer em junho, julho e agosto. Skaf ficou conhecido por encabeçar uma campanha pró-impeachment dentro do setor empresarial.
Centrais Sindicais ligadas ao líder do Solidariedade (SD) na Câmara dos Deputados, Paulo Pereira da Silva (SP), também se reuniram com Temer, em função da discussão em torno de uma reforma previdenciária e trabalhista.
A única visita fora da agenda dividida entre ministros, políticos e empresários, e de cerimônias de posse ou ligadas ao Exército, foi a do piloto de Fórmula 1 Felipe Nasr, que nesta semana esteve no Planalto.
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