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Lula e Dilma: enquanto o ex-presidente  buscou ações internacionais de repercussão, sua sucessora faz diplomacia com mais discrição | Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula e Dilma: enquanto o ex-presidente buscou ações internacionais de repercussão, sua sucessora faz diplomacia com mais discrição| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
  • Confira a diferença do número de viagens entre o mandato de Lula e Dilma

Em um cenário marcado pelas revoltas árabes e pelo agravamento da crise econômica na Europa e nos Estados Unidos, o primeiro ano do governo Dilma Rousseff foi bem menos internacional que o do ex-presidente Lula. Ao longo de 2011, ela fez 18 visitas ao exterior, quase metade das 35 que o antecessor realizou em 2003. O comportamento se refletiu no desempenho da diplomacia, que fugiu das polêmicas da gestão anterior.

Enquanto Lula buscou atitudes de repercussão ao longo do mandato, como a intervenção militar no Haiti, o apoio a Manuel Zelaya em Honduras e a tentativa de intermediar o diálogo do ocidente com o Irã, Dilma preferiu dar mais atenção à economia que à política. "Ela tem se demonstrado menos pirotécnica e mais pragmática, já Lula era circunstancial", compara o professor de Relações Inter­nacionais Argemiro Procópio, da Universidade de Brasília.

Autor do livro Diplomacia e Desigualdade, que analisa os oito anos da diplomacia de Lula, ele avalia que a estratégia internacional da presidente tem sido marcada pela discrição. "É verdade que Dilma às vezes demora para se posicionar, como nas demissões de ministros. Mas esse comportamento mais ‘cuidadoso’ pode ser considerado positivo nas relações exteriores."

Dilma visitou neste ano 16 países e passou 39 dias em viagens. Em 2003, Lula foi a 27 países (69% a mais) e ficou 59 dias em trânsito (51% a mais). Ao longo dos oito anos de mandato, o ex-presidente passou por 83 países, dois territórios e manteve uma média de 33 visitas internacionais por ano – o auge foi em 2009, quando foram 48.

O ano mais caseiro de Lula foi 2006 (época da reeleição e ápice do escândalo do mensalão), com 17 viagens. De acordo com relatório publicado no site do Itamaraty, os três continentes mais visitados por Lula durante os dois mandatos foram América do Sul (62 viagens), Europa (39) e África (28). Ao todo, ele fez 267 visitas, enquanto o Brasil recebeu líderes de outros países 281 vezes.

Vizinhos

Conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, o economista Roberto Teixeira da Costa vê poucas diferenças de relacionamento entre as duas gestões com os vizinhos sul-americanos. "O maior problema continua o mesmo: os argentinos permanecem descontentes com a balança comercial", diz. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, o superávit do Brasil na balança com os argentinos está em US$ 5,3 bilhões em 2011.

O economista destaca que cresce no Paraguai e Bo­­­lívia o sentimento de que o Brasil adota práticas imperialistas. "Pelo lado racional todos os vizinhos entendem que devemos assumir a liderança regional. Pelo emocional não funciona bem assim, o que é sempre um perigo."

Primavera Árabe

Uma das diferenças de perfil entre Dilma e Lula está no relacionamento com o Oriente Médio. No primeiro ano de governo, a presidente não visitou países árabes. Em 2003, o antecessor fez um tour por Egito, Líbia, Síria, Líbano e Emirados Árabes Unidos.

As três primeiras nações estão em 2011 no epicentro da Primavera Árabe. Ao todo, Lula se reuniu quatro vezes ao longo do mandato com o ex-ditador líbio Muamar Kadafi, morto há dois meses durante a revolução popular que o destituiu do poder. Em 2009, na abertura da Cúpula Africana de Nações, ele foi chamado pelo brasileiro de "amigo e irmão".

Argemiro Procópio avalia que Dilma poderia ter sido mais enfática nos recentes conflitos árabes – o Brasil se posicionou contra a intervenção militar na Líbia e defendeu o diálogo entre governo e oposição na Síria, apesar do massacre de civis promovido pelo ditador Bashar al-Assad. "Por outro lado, nossas posições em relação ao Irã melhoraram", afirma.

Neste ano, o Brasil posicionou-se contra o Irã na Organização das Nações Unidas (ONU) pela primeira vez em oito anos. O país esteve entre os 22 votos favoráveis ao envio de um relator especial para apurar denúncias de violações de direitos humanos em território iraniano – houve outros sete votos contra e 14 abstenções. A decisão foi tomada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU e não implicou punições, apenas em investigação.

EUA, Europa e China

O principal evento da diplomacia brasileiro dentro do país foi a recepção ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em março. Durante a visita, Obama declarou ter "apreço" pela reivindicação brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A demanda foi uma das principais bandeiras de Lula.

No mês seguinte, Dilma fez uma viagem de sete dias pela China, onde a agenda girou em torno das relações comerciais entre os dois países. Economia também foi principal assunto abordado pela presidente nas reuniões multilaterais para discutir a crise do euro. Em novembro, durante entrevista em Cannes (França) ela marcou posição ao dizer que o Brasil não tem "nenhuma intenção" de fazer contribuições diretas para o Fundo Europeu de Estabilização.

Professor de Relações Inter­nacionais Giorgio Romano, da Universidade Federal do ABC, diz que o Brasil tem "pouca governabilidade" sobre as decisões em torno da crise internacional, mas que Dilma soube se posicionar sobre o problema. "O que a Dilma defendeu como sugestão é não apostar em uma solução por meio de ajuste fiscal sem cuidar de política de crescimento, com risco de cair numa estagnação, muito baseado na experiência latino-americana das décadas de oitenta e noventa", diz ele.

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