Tiririca: “Não vou ser hipócrita de dizer que não vou usar.”| Foto: Wenderson Araújo/Gazeta do Povo

A decisão da cúpula da Câmara Federal de permitir que maridos e mulheres dos deputados tenham direito a passagens aéreas provocou um burburinho nos corredores da Casa. Divididos, os parlamentares recorreram a piadas e até fizeram verdadeiros exercícios verbais para justificar a concessão do benefício, mas boa parte assegurou que não vai usar a regalia.

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abaixo-assinado

Um abaixo-assinado na internet contra a possibilidade de deputados federais usarem recursos para pagar passagens aéreas aos maridos e mulheres já possui cerca de 135 mil assinaturas. A petição foi organizada no site Avaaz. O texto do abaixo-assinado chama de “abuso” o benefício e diz que os salários dos deputados já são suficientes para pagar as passagens dos cônjuges. “Se agirmos rápido e fizermos barulho contra esta medida, podemos envergonhar os deputados e fazê-los reverter a decisão, garantindo que nosso dinheiro vá para hospitais ou escolas”, diz o texto.

Pela regra, só os cônjuges com registro em cartório poderão utilizar a cota de passagens do congressista. A medida foi aprovada junto ao reajuste de outras verbas à disposição dos deputados, que totalizam um impacto de R$ 150,3 milhões por ano.

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Nas rodas de conversa, as reações foram diferentes, mas é consenso o desgaste trazido pela Casa num momento que o país discute um ajuste fiscal. A benesse ganhou até apelido de “bolsa esposa” e “transpatroa”.

Repercussão

O deputado Tiririca (PR-SP) defendeu a medida. “Estou na minha. Eles [comando da Casa] fizeram e não vou ser hipócrita de dizer que não vou usar”, afirmou.

Jair Bolsonaro (PP-RJ) considerou que a Casa “extrapolou”. “Não tem como defender”, disse. O líder do PRB, Celso Russomano (SP), sustentou que não vai fazer uso da medida, mas que não tem posição sobre o benefício. “Vou fazer uma consideração da vida parlamentar: você vem para Brasília, abandona sua família e muitos casamentos vão para o vinagre por causa disso”, ponderou.

Para Marco Feliciano (PSC-SP), a medida é justa, mas arranha a Casa. Integrante da cúpula da Câmara, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) votou contra a concessão. “A sociedade vem colocando uma posição de muita indignação e reclamação em relação à Casa. Neste momento, [o pacote de benefícios] acentua ainda mais o distanciamento entre o Parlamento e a sociedade.”

Até o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se apressou em negar que haja regalia. “Não tem esse negócio de namorada, não existe isso”, disse ao rebater as críticas.

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Histórico

Em 2009, durante o escândalo da “farra das passagens”, deputados usaram recursos públicos para custear passagens para familiares, namoradas, eleitores e até artistas. Na época, a Casa restringiu os bilhetes a deputados e assessores.