Os dois candidatos do Centrão à presidência da Câmara dos Deputados, Rogério Rosso (PSD-DF) e Jovair Arantes (PTB-GO), resolveram afinar o discurso contra Rodrigo Maia (DEM-RJ), que atualmente ocupa a principal cadeira da Casa e já contaria com o maior número de votos a favor da sua reeleição.
Entre as principais bandeiras da dupla, está a “independência” do Legislativo, mote utilizado fortemente pelo ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB), na época da campanha à mesma cadeira, no início de 2015. O discurso tem apelo especial entre os integrantes do chamado “baixo clero”, que geralmente encontram mais dificuldades para emplacar matérias próprias, fora da agenda do Executivo.
O que é o Centrão
O Centrão é um bloco informal - formado por mais de dez legendas e capitaneado pelo PP, PR, PSD e PTB - que age ao sabor do vento governista. A atuação do grupo foi decisiva no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Na semana que antecedeu a aprovação da admissibilidade do processo, na Câmara, Dilma chegou a entregar dezenas de cargos a representantes do Centrão, mas não teve sucesso.
Próximo do Planalto, Maia deu prioridade à pauta do governo federal ao longo do segundo semestre do ano passado. E, embora oficialmente alegue que não vai interferir na disputa do Legislativo, o presidente da República, Michel Temer, tem interesse na permanência do parlamentar do DEM no comando da Câmara dos Deputados.
Bloco informal criado em maio do ano passado sob influência de Eduardo Cunha, o Centrão também pertence à base aliada de Michel Temer (PMDB), mas agora aposta na ligação mais estreita de Maia com o Planalto para atrair votos.
“Das quase mil leis publicadas no Diário Oficial da União, quantas vieram de proposições dos deputados federais? Nem 3%. A grande maioria é do Executivo. Isso está errado. A Câmara dos Deputados tem sido reativa, só reagido a demandas, não tem sido propositiva. Ela deve voltar a ser protagonista”, afirmou Rogério Rosso, durante o lançamento oficial da sua candidatura, na segunda-feira (9).
“Vamos colocar em votação as matérias importantes para o governo federal e, se possível, aprová-las. Digo “se possível” porque quem vota é o deputado federal. O voto é unitário, individual, pessoal”, reforçou Jovair Arantes, também no lançamento oficial da sua candidatura, na terça-feira (10), durante uma cerimônia realizada entre aliados, incluindo Rogério Rosso.
O parlamentar do PSD já admitiu a possibilidade de “juntar os votos” com o petebista, “no momento oportuno”. A dupla, contudo, ainda não deu pistas sobre quem eventualmente abriria mão da disputa. A campanha segue até o início de fevereiro.
Preocupação com a “imagem da Casa”
Outra bandeira em comum de Rogério Rosso e Jovair Arantes, e que também mira o adversário do DEM, é o mote relacionado à “imagem” da Câmara dos Deputados junto ao eleitorado. No ano passado, Rodrigo Maia conduziu sessões polêmicas, como a que aprovou emendas ao projeto de lei das “Dez Medidas Contra a Corrupção”. Debatidas no período da noite e avançando pela madrugada, as emendas apresentadas pelos parlamentares desfiguraram a proposta original, capitaneada pelos investigadores da Operação Lava Jato, e com respaldo de mais de 2 milhões de brasileiros.
“São muitas as mudanças necessárias. Precisamos, por exemplo, dar transparência aos trabalhos. Chega de votações noturnas”, discursou Jovair, completando que a administração da Casa deveria ter outro “perfil”. “Precisamos receber bem o trabalhador, ter a cara da sociedade brasileira”, reforçou ele.
Rosso foi na mesma toada. “As sessões começam muito tarde e terminam muito tarde. Não é positivo votar matérias de madrugada. E quem agenda o horário e a pauta é o presidente da Casa. Então é importante que a gente coloque um limite, vamos começar mais cedo e terminar até 9 horas da noite”, prometeu Rosso. Segundo ele, “estreitar a relação da Câmara dos Deputados com a sociedade” é sua principal bandeira.
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