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Em um discurso de autopromoção marcado por citações a medidas de austeridade, mas sem falar em cortes de regalias históricas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou nesta quinta-feira (9) que a Casa avançou "bastante" nos cem dias com as mudanças administrativas adotadas na sua gestão. Elogiado até por senadores que negaram ter votado nele na eleição em fevereiro, Renan Calheiros disse que vai procurar tornar o Senado cada vez mais "eficiente, econômico e transparente".

"Avançamos bastante em cem dias, mas ainda não estamos confortáveis. Há ainda muitos excessos, desperdícios e vícios que foram se acumulando ao longo dos anos e precisam ser diagnosticados e corrigidos. Apenas as instituições que são permeáveis à crítica, aberta a revisões, conseguem manter sua credibilidade. Estamos atentos e alertas para vencer todos os desafios que apareçam em nosso futuro", afirmou ele, repetindo que em dois anos a Casa deve economizar R$ 300 milhões com as mudanças. O orçamento do Senado é de R$ 3 bilhões por ano.

Desde que voltou ao comando do Senado, Renan Calheiros tem se valido do discurso da transparência como forma de tirar o foco das acusações que o levaram a renunciar, em 2007, à Presidência da Casa. Na época, foi alvo de processos de quebra de decoro parlamentar de ter despesas pessoais pagas por um lobista de uma empreiteira e de usar documentos forjados para justificar seu patrimônio. Às vésperas de ser eleito, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou Calheiros por uso de documento falso, falsidade ideológica e peculato pelas acusações que o retiraram do posto.

O presidente do Senado fez menção às medidas anunciadas e tomadas de corte de gastos, como o fim do serviço médico ambulatorial e a transferência de pessoal e de equipamentos para o governo do Distrito Federal. Ele citou o DataSenado, o instituto de pesquisa da Casa, que apontou, após ouvir 1,2 mil pessoas entre 16 e 30 de abril, a aprovação média de 81% das medidas administrativas tomadas.

Gastos

Renan Calheiros, contudo, não anunciou novas medidas. Passou ao largo de mudanças nos serviços de cafezinho aos senadores no plenário e de check-in e despachante de malas dos senadores no Aeroporto de Brasília, áreas em que funcionários chegam a ganhar R$ 20 mil por mês. Ignorou também a explosão dos gastos com despesas médicas, revelada em março pelo jornal O Estado de S. Paulo, que atingiu R$ 115,2 milhões em 2012, um aumento, descontado a inflação, de 38% em relação ao ano anterior, quando a Casa desembolsou R$ 71,3 milhões.

Logo após a fala do presidente do Senado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou que "tirava o chapéu" para Renan. "Não posso deixar de reconhecer aqui que nos cem dias o senhor tem me surpreendido positivamente", disse o pedetista, destacando ter votado no senador Pedro Taques (PDT-MT). A senadora Ana Amélia (PP-RS), que também falou não ter votado no atual presidente do Senado, disse que a prestação de contas feita por Renan não era para os senadores, mas para a sociedade. "As ações têm mais peso do que as palavras", destacou.

Homem de bem

Ao chamar Renan de "homem de bem", o senador Jayme Campos (DEM-MT) chegou a criticar a imprensa por, segundo ele, não ser democrática ao ter divulgado a existência de servidores apenas para fazer o check-in dos parlamentares. "Esse pessoal está aqui há 20, 25 anos. São servidores de carreira. Se não estivessem lá estariam trabalhando aqui", afirmou.

"São críticas que colocam todo mundo no balaio de gato", queixou-se o democrata, ao destacar que não é verdade que os servidores da Casa ganham muito. "Eu acho que são poucos locais no Brasil que têm os servidores competentes como o Senado, todavia só conseguem levar para o lado da perversidade".

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