Outro lado
Marcelo Simão diz sofrer "perseguição"
O advogado Marcelo Zanon Simão disse que ele e sua família são vítimas de perseguição pessoal e política por parte de Clayton e Fabio Camargo. Afirmando que os manifestantes presentes no TC não têm qualquer vínculo com sua família, Marcelo afirmou que o protesto demonstra a indignação dos paranaenses com a posse de um "cidadão despreparado" para exercer o cargo de conselheiro. "Só temos a lamentar o ocorrido da nomeação, bem como as declarações destemperadas da família Camargo", defendeu.
Numa cerimônia rápida e atípica, o ex-deputado estadual Fabio Camargo tomou posse ontem como conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná (TC). Sob vaias e protestos de um pequeno grupo de manifestantes, ele contrariou as expectativas e não quis discursar. Além disso, uma das únicas autoridades presentes era o pai dele, o presidente do Tribunal de Justiça (TJ), desembargador Clayton Camargo. No prédio, era possível contar mais policiais militares e jornalistas do que pessoas que acompanhavam a posse. Ao fim da sessão, Fabio disse apenas que vai atuar com equilíbrio e com respeito à Constituição Estadual na nova função.
Antes do início da cerimônia de posse, cerca de 15 pessoas protestaram na frente do prédio do TC com cartazes, faixas e um megafone. "Chega de faz de contas, sem deputado no Tribunal de Contas", gritavam. A entrada do grupo foi liberada sob a condição de que eles deixassem o material do lado de fora.
Pouco depois, Fabio chegou acompanhado do pai e seguiu direto para uma sala ao lado do plenário sem falar com a imprensa. Assim que o ex-deputado foi convidado a participar da sessão, os manifestantes começaram a vaiá-lo e a gritar "vergonha". Imediatamente, Clayton passou a olhar para o grupo e pediu para que os policiais retirassem as pessoas das galerias. Irritado, o desembargador chegou a empurrar um PM.
Na sequência, Clayton foi convidado pelo presidente do TC, Artagão de Mattos Leão, a colocar a toga de conselheiro no filho. Enquanto vestia Fabio, o desembargador encarou os manifestantes todo o tempo. O novo conselheiro mostrou-se mais descontraído e, com ironia, sorriu e acenou para as galerias. Após declinar do direito de discursar, Fabio foi convidado a se sentar na cadeira de conselheiro. "Pode ir com calma, que tem a vida inteira", gritou um manifestante, em relação ao fato de o cargo ser vitalício. "Trinta anos", devolveu o ex-parlamentar Fabio tem 40 anos e os conselheiros do TC se aposentam compulsoriamente aos 70.
Ataques
Após a posse, Fabio acusou integrantes da família Simão, com que tem divergências de pagarem R$ 100 aos manifestantes para fazer "baderna" durante a posse. Já sobre sua atuação como conselheiro, disse que vai agir com "equilíbrio, respeito, ponderação, atendendo e cumprindo a Constituição Estadual".
Clayton, por sua vez, defendeu que o TC está ganhando um conselheiro "altamente qualificado" e também acusou os irmãos Simão, a quem chamou de "quadrilheiros" e "integrantes de máfia", de comprarem os manifestantes. As duas famílias vêm se desentendendo desde fevereiro de 2011, quando Fabio acusou os irmãos Simão de participar de um esquema de favorecimento, da parte de juízes, em nomeações para administrar massas falidas paranaenses.
Mais tarde, numa sala reservada, Clayton e Fabio bateram boca asperamente com Artagão, pelo fato de ele ter permitido que manifestantes acompanhassem a posse. A discussão foi confirmada pela assessoria do TC.
Justiça nega pedido de anulação do pleito
O juiz Roger Vinicius Oliveira, da 3.ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, negou ontem pedido de liminar para anular a eleição do ex-deputado estadual Fabio Camargo para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná (TC). A ação é movida por Edson Benedito Teixeira Strickert, ex-vereador do município de Castro pelo DEM.
Na segunda-feira da semana passada, em eleição realizada pela Assembleia Legislativa, Camargo superou o deputado estadual Plauto Miró (DEM) por 27 votos a 22 e foi declarado vencedor do pleito. Para Strickert, porém, a indicação dele ao TC teria sido ilegal, uma vez que o regimento interno e um ato de 2008 do Legislativo determinam que, para ser eleito em primeiro turno, um candidato precisa de metade mais um dos votos dos deputados presentes. "E estando presentes 54 deputados, seriam necessários 28 para que houvesse o encerramento da eleição", afirma.
No despacho, entretanto, o juiz demonstra ter o mesmo entendimento da Procuradoria da Assembleia, de que, como Camargo e Miró se abstiveram da votação, reduziram o número de deputados presentes para 52, dando margem matemática para o resultado em primeiro turno. "Os dois candidatos foram à tribuna no sentido de se abster à votação, retirando-se em seguida. Depois se uniram aos outros candidatos pretendentes ao cargo, assistindo ao ato. Não mais estavam ali na condição de deputados e sim de concorrentes. Por isso, entendo que não se pode falar que estariam presentes naquele ato", argumenta Oliveira.
"Foi um pedido orquestrado para que eu não tomasse posse", resumiu Camargo. Procurado, Strickert não foi encontrado.