Cinco dias depois da ação policial que deixou mais de 200 manifestantes feridos no Centro Cívico, o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Francischini, negou ser responsável pela operação. De acordo com ele, todo o planejamento e execução foi de responsabilidade do comando da Polícia Militar (PM). Francischini disse que “lamenta” os feridos, mas disse que aguarda investigações para saber se houve desproporcionalidade na ação. Ele voltou a responsabilizar “grupos radicais” pelo episódio.
Veja todas as notícias sobre a greve dos professores no Paraná
Segundo Francischini, o controle da operação no Centro Cívico foi de responsabilidade do comando da Polícia Militar – o comandante geral é César Kogut. “O controle de uma operação de campo é da polícia. A secretaria é responsável por fazer a gestão da pasta. Isso [atribuir diretamente à secretaria a responsabilidade] é tentar politizar a questão”, afirma. Ele repetiu que a polícia cumpriu uma “ordem judicial”, e que não partiu da secretaria de Segurança a ideia de bloquear o acesso à Assembleia.
Francischini disse, ainda, que “nada justifica” o episódio. “Nós lamentamos. As imagens são terríveis. Nunca se imaginava que um confronto como esse terminaria de maneira tão terrível, com vítimas de ambos os lados. Não podemos comemorar o quanto pior, melhor”, disse. Ele disse que haverá um inquérito policial, “com todo o rigor necessário”, para apurar qualquer tipo de abuso cometido – que será acompanhado pelo Ministério Público.
Richa e Francischini são convidados para audiência no Senado
A Comissão de Direitos Humanos do Senado fará uma audiência pública para discutir a ação policial que deixou 213 feridos no Centro Cívico, no dia 29 de abril. A audiência será nesta quarta-feira (6), às 9h, e terá transmissão ao vivo no site do Senado. O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), e o secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini (SD) estão entre os convidados.
A reunião foi solicitada pelo senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da comissão, e subscrita por outras três senadoras petistas – entre elas, Gleisi Hoffmann, que é membro titular do colegiado. Além de Richa e Francischini, foram convidados o chefe da Casa Militar do governo, Adilson Casitas, o ministro de Direitos Humanos, Pepe Vargas (PT), e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) e da Anistia Internacional.
Por se tratar de um convite, e não de uma convocação, cabe aos convidados a decisão em participar ou não da audiência. Na manhã desta segunda-feira, Francischini disse que irá prestar seu depoimento para a comissão, mas disse que ainda não havia recebido o convite. “Não há nenhum problema [em comparecer à reunião]. Sou parlamentar também, e se eu for convidado, estarei à disposição para fazer a mesma explanação que eu já fiz [aos jornalistas]”, disse. Ele ressaltou, entretanto, que busca não “politizar” o assunto.
Já a assessoria de imprensa do governo confirmou, no final da tarde desta segunda-feira, que o convite foi entregue a Richa. Entretanto, por razões de agenda, ele decidirá somente amanhã se vai ou não a Brasília para participar da reunião.
Ele evitou, porém, falar se houve ou não abuso, excesso ou mesmo desproporcionalidade na ação. “Só o resultado do inquérito policial poderá afirmar quem abusou e se houve abuso, de ambas as partes”, disse. Francischini também negou que algum policial tenha se negado a participar da operação, ou que tenha sido preso por causa disso.
Radicais
O secretário fez essas afirmações durante entrevista coletiva, na sede da secretaria, na qual apresentou vídeos com indícios da participação de “grupos radicais” – incluindo “black blocks” – no protesto. Ele atribuiu o “estopim” da crise foram esses grupos. Foram apresentados diversos vídeos e fotografias que, para a secretaria, seriam “evidências” de que o confronto teria sido causado por eles.
Entretanto, os indícios são pouco conclusivos. Por exemplo: as filmagens mostram jovens misturando um pó branco em garrafas d’água, o que, na interpretação da polícia, poderia ser a manufatura de bombas de cal. Porém, não há registro de policiais feridos por esse artefato até o momento. Além disso, vários manifestantes já portavam, desde a madrugada, garrafas com água e bicarbonato de sódio – solução usada para amenizar os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo.
Os policiais mostraram também imagens de convocações feitas em redes sociais por black blocks e por um movimento chamado “Antifa” – na verdade, a sigla se refere a diversos movimentos anti-fascistas espalhados por todo o mundo desde os anos 20. Há, também, cenas de grupos organizando ações durante o protesto – mas, como não áudio, há não é possível saber o que são essas ações, ainda mais se elas são ilegais ou violentas. Uma imagem mostra uma mulher distribuindo dinheiro entre um grupo de manifestantes.
Há cenas mais nítidas de bloqueios de vias, de alguns manifestantes arremessando pedras e garrafas na polícia depois das bombas terem sido jogadas e da derrubada da grade de proteção, momento que a polícia começou a jogar bombas de gás lacrimogêneo nos manifestantes.
Clima quente na segurança
O clima entre os gestores da segurança no Paraná esquentou na tarde desta segunda-feira (4) após Fernando Francischini ter jogado a responsabilidade pelo confronto do Centro Cívico para a PM. O comandante-geral da polícia, coronel César Vinícius Kogut, chegou a ir até uma reunião no Palácio Iguaçu à tarde. Especulou-se que o motivo seria sua saída do cargo. Até o fechamento desta edição, Kogut não se pronunciou sobre o tema. E nenhuma fonte confirmou sua saída.