Programado para ser o primeiro ato formal da pré-campanha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República, o congresso do PT que começa nesta quinta-feira e vai até sábado deve dar carta branca à direção nacional do partido para intervir nas negociações eleitorais conduzidas pela sigla nos Estados.
A direção do PT colocará em votação uma proposta de resolução que lhe dará legitimidade para intervir nas negociações para a composição dos palanques estaduais. O objetivo é dar uma sinalização clara a aliados e aos diretórios regionais do próprio partido.
O PT quer evitar que disputas localizadas prejudiquem a formação de uma ampla aliança que sustente o projeto nacional da sigla, favorecendo assim a oposição.
A resolução que será votada durante o quarto congresso sugere ainda a construção de um "acordo de procedimentos" para a formação de dois palanques quando a coligação local com os aliados nacionais se tornar impossível nos Estados.
"A nossa proposta é que se discuta só o geral, sem entrar em detalhes, mas que o congresso dê mandato para o Diretório Nacional tratar com plenos poderes todas as questões regionais em que for necessária uma apreciação por parte da direção nacional", disse à Reuters o deputado Ricardo Berzoini (SP), que acaba de deixar a presidência do PT.
José Eduardo Dutra, substituto de Berzoini que assumirá durante o congresso, descarta a inclusão na pauta do congresso de outros temas controversos capazes de melindrar as negociações entre o PT e seus aliados, como a discussão sobre os possíveis candidatos a vice.
"Esse assunto não vai ser abordado no congresso. Estando na coligação, isso é o PMDB que vai indicar", assegurou.
O vice de Dilma sairá do PMDB e a polêmica sobre o nome foi plantada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ele defendeu a entrega a Dilma de uma lista tríplice pelo partido aliado, sugerindo que a escolha deveria ser da candidata.
Polêmicas inevitáveis
Apesar da disposição de minimizar as polêmicas durante o congresso, a cúpula petista sabe que dificilmente conseguirá impedir acalorados debates sobre os rumos do partido.
"Vai ter polêmica sobre a política de alianças e as políticas de governo, mas, votando, valerá para todos", disse Dutra, apostando que as propostas da direção serão referendadas pela maioria dos delegados do partido.
Há pelo menos uma proposta dissonante que critica a aliança com o PMDB. De autoria de Markus Sokol, da diminuta tendência O Trabalho, o texto, anexado às propostas da direção, ataca ministros peemedebistas.
"Como é possível no governo Lula, o ministro da Agricultura, Stephanes (PMDB), ditar a lei dos ruralistas", diz o texto, citando também Nelson Jobim (Defesa) por afirmar que o Brasil vai ficar mais cinco anos no Haiti.
Mas há quem veja apenas celebração no congresso. Para o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), "vai ser uma grande festa para a Dilma".
O PT convidou representantes de todas as siglas aliadas ao governo para o lançamento da pré-candidatura de Dilma, no sábado. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), deve comparecer ao lado do presidente da legenda e da Casa, Michel Temer (SP), cotado para ocupar a vaga de vice.
"É um gesto político. (A aliança) está a caminho para se consolidar", comentou Alves, referindo-se ao pré-acordo assinado no ano passado por PT e PMDB e lembrando que os dois partidos ainda precisam chegar a um entendimento em diversos Estados.
Secretário-geral do PSB, legenda que pode lançar o deputado Ciro Gomes na disputa pela Presidência, o senador Renato Casagrande (ES) contou que seu partido também deve enviar uma representação ao congresso petista.
Para ele, o gesto é natural, já que as duas siglas têm mantido uma aliança ao longo dos últimos anos e, se não estiverem juntos no primeiro turno da eleição presidencial, podem estar no segundo.
"Uma aliança não se mede apenas pelos objetivos de um partido em uma eleição", disse Casagrande.
O 4o Congresso Nacional do PT vai debater, em Brasília, além da política de alianças, as diretrizes para o programa de governo de Dilma e as táticas eleitorias do partido nas eleições de 2010. O congresso anterior, em 2007, foi realizado após a reeleição de Lula e deixou abertas divergências entre tendências do partido.