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Os tempos do Senado como trincheira da oposição podem estar com os dias contados. A Casa, que já foi motivo de dor de cabeça no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que durante a crise política foi palco da CPI dos Bingos - a famosa CPI do Fim do Mundo - dá sinais de estar em busca de um lugar no ninho governista. Caso seja confirmada a ida de Romeu Tuma (DEM-SP) para um partido da base aliada, como anunciou o próprio senador no início da semana após conversar com Lula, as bancadas de dois dos principais estados do país - São Paulo e Rio de Janeiro - serão integralmente governistas.

Desde 2003 o Rio não tem senadores de oposição. Na legislatura passada, a lista contou com Sérgio Cabral (PMDB), Roberto Saturnino (PT) e Marcelo Crivella (PRB). Com as últimas eleições, entraram Francisco Dornelles, do aliado PP, e o peemedebista Paulo Duque, suplente de Cabral, o governador braço-direito de Lula.

Em São Paulo, a atual configuração - com Tuma e os petistas Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante - persiste desde 1999. Apesar da relativa independência de Suplicy, incômoda ao governo em momentos cruciais como a crise do mensalão, a bancada paulista no Senado tem se marcado pelo equilíbro de forças entre os dois petistas e o pefelista. Com a mudança de Tuma, que estuda a possibilidade de se transferir para o PMDB ou para o PTB, a bancada passaria a ser 100% governo.

- Eu tenho a impressão de que a adesão de Tuma e o fato dos seis senadores de Rio e São Paulo serem do governo se inserem no quadro de céu de brigadeiro em que Lula está. No Senado, o Planalto não tem uma base tão ampla quanto na Câmara. Vemos que está se estreitando o cerco do Executivo sobre o Parlamento - avalia o cientista político Paulo Kramer, analista da Kramer & Ornellas Consultoria.

Para o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto Queiroz, a aproximação entre oposição e governo, representada pela mudança de Tuma e pelo recente encontro entre Lula e o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (PSDB), são fruto da articulação da líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA).

- Há uma operação de Roseana de identificar aqueles que tinham a marca da oposição na testa e que estão desiludidos com os rumos oposicionistas. É o caso do PFL, que mudou de nome para Democratas. Alguns parlamentares acreditaram que o partido perdeu a identidade.

A alta popularidade Lula é um dos fatores que coloca a oposição em maus lençóis. Além disso, a crítica sistemática só é exercida pelo DEM. Mais parcimonioso, o PSDB prefere uma postura mais discreta, já que pretende fazer o sucessor de Lula em 2010 se não com o apoio, ao menos sem a hostilidade do presidente.

- Tanto é assim que o PSDB no Senado não é nada de oposição. Na hora de votar, é governo - alfineta Queiroz.

Os últimos contatos entre governo e oposição, vistos como positivos para a democracia pelo próprio Lula, não são bem vistos pelos especialistas. Para Paulo Kramer, o que se vê é uma cooptação:

- É uma espécie de cooptação porque o diálogo não se dá por meio de idéias, mas por personalismos e interesses meramente eleitorais. Boa parte da oposição está comendo mosca. Se quisessem usar suas prerrogativas constitucionais, os parlamentares - sobretudo os senadores - poderiam dar muito mais trabalho ao Executivo. Mas agem como elefantes amarrados em pés de alface. A fraqueza é voluntária.

- Quem conversa com o governo fica naquele constrangimento de fazer uma oposição ostensiva. Quando (o governo) deixa de acionar o rolo compressor em alguma circunstância, (o parlamentar) tem o álibi - concorda Queiroz.

Kramer dá a receita para que a oposição volte a ter o apoio da população:

- Existem bolsões de forte descontentamento em relação ao governo Lula. A retomada da força da oposição passaria necessariamente pelo bolso da classe média, que é o grupo mais mobilizável contra medidas do governo. Mas PSDB e DEM ainda não descobriram como fazer essa mobilização. Enquanto a oposição dá entrevistas nos salões azul e verde (do Senado e da Câmara), Lula dá entrevistas em canteiros de obra. Enquanto as coisas continuarem assim, Lula pode dormir tranqüilo.

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