São Paulo (Folhapress) Em meio à pior crise de sua história, o PT promove hoje eleições internas para escolher seus novos dirigentes. O presidente interino da legenda, Tarso Genro, admite problemas de identidade e de programa que a próxima cúpula terá que resolver.
Segundo ele, parte da crise vem do fato dos petistas não terem configurado de maneira plena, mas apenas parcialmente, o que significa o projeto do PT para o país.
As eleições devem mobilizar um total de 825,4 mil militantes, distribuídos por 4.683 cidades brasileiras. A previsão é de que 35% desse montante compareça e escolha os presidentes e diretórios em todo o país, estadual e municipal.
Somente em nível nacional, serão sete candidatos na disputa. A maioria defendendo a autonomia com relação ao governo e em franca oposição às alianças com partidos de centro e direita feitas pelo governo Lula.
Trata-se também das segundas "eleições diretas" do PT, que até 2001 apontava seus dirigentes pelo sistema de colégio eleitoral: os militantes elegiam delegados, que indicavam as "cabeças" do partido em um encontro nacional.
O partido realiza um encontro nacional no início de dezembro, quando o novo Diretório Nacional toma posse.
Há propostas, no entanto, para que a nova cúpula assuma antecipadamente devido à relevância da crise. No PT, os dirigentes têm mandato de 3 anos.
Genro afirma que as eleições internas devem ter dois propósitos, além da óbvia escolha dos dirigentes: primeiro, servir de "escuta da base", quer dizer, será uma forma ouvir os militantes sobre suas expectativas quanto ao partido; segundo, criar um novo núcleo dirigente, sem "estruturas paralelas de poder".
"Independentemente de quem seja, é muito importante que a nova Executiva apareça para a sociedade, como um grupo dirigente completamente renovado e que possa através de métodos mais democráticos, de métodos não burocráticos, de métodos que não permitam a formação de estruturas paralelas de poder, permita a capacidade de recuperação da Executiva nacional", disse ele. O presidente interino do PT também criticou o que chama de "hegemonia quantitativa" na cúpula dirigente de seu partido, em uma provável referência à predominância da corrente chamada "Campo Majoritário" no Diretório Nacional.
No Partido dos Trabalhadores, o diretório nacional é formado proporcionalmente ao número de votos que cada corrente obtém nas eleições: a corrente mais votada tem direito a indicar um maior número de representantes para fazer parte da cúpula de poder.
Desafios do próximo presidente do PT
1. Dívida do partido
Valério afirma ter emprestado R$ 93 milhões ao ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, verba que, segundo o PT, quitou custos de campanhas.
2. Petistas acusados
O partido não puniu nenhum dos deputados e dirigentes envolvidos no esquema do mensalão.
3. Crise de credibilidade
O presidente interino do partido, Tarso Genro, luta pela "refundação" do partido. No entanto, a permanência dos envolvidos no comando do PT põe em xeque essa renovação.
4. Desfiliações
As tendências de esquerda ameaçam deixar o partido caso percam as eleições. Só na Câmara, fala-se numa perda de 20 deputados federais. Especula-se sobre uma desfiliação em massa rumo ao PSOL.
5. A força de Dirceu
O ex-ministro é ligado aos principais dirigentes que deixaram o partido após os escândalos. Apontado como chefe do mensalão, Dirceu rachou o partido ao não deixar chapa que concorre ao Diretório Nacional. O efeito prático foi a desistência de Tarso Genro a candidato a presidente do partido.
6. Alianças para 2006
Caso Lula tente a reeleição, o PT terá dificuldades em fechar alianças. PL, PTB e PP foram envolvidos no esquema do mensalão. O PMDB deve lançar candidato próprio. O vice José Alencar já se desligou do PL e tem outros planos. Restaria uma aliança com os pequenos PSB e o inexpressivo PC do B.
7. Cassação do registro
Por causa do uso de verbas do fundo partidário para bancar viagem de familiares do presidente Lula e do ministro Antônio Palocci e da confissão o ex-tesoureiro Delúbio Soares sobre o caixa 2, o PT pode perder seu registro no TSE.
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