O ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) confirmou nesta quinta-feira (28), em depoimento à Justiça, que o presidente do PTB, Roberto Jefferson, revelou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que acreditava existir um esquema de compra de apoio ao governo no Congresso, antes de o caso vir à tona, conhecido como mensalão. Chinaglia, que na época dos fatos, em 2005, era líder do PT na Câmara, disse ter tomado conhecimento do suposto esquema em dois momentos.
Primeiro, segundo ele, quando Jefferson teria alertado o presidente Lula sobre a existência do esquema, em reunião na qual Chinaglia confirmou que estava presente. Depois, o deputado disse ter tomado conhecimento por meio da imprensa. Foi aí que, segundo Chinaglia, surgiu o termo "mensalão", que indicava um esquema no qual parlamentares supostamente recebiam dinheiro em troca de apoio a projetos do governo no Congresso.
"O momento principal [foi] quando a imprensa divulgou aquilo que o então deputado Roberto Jefferson denunciou. E faço referência a esse momento como principal, porque lá ele apelidou de mensalão. E ainda que ele fez um comentário ao presidente da República e, entre outros, eu estava presente", afirmou Chinaglia.
O G1 entrou em contato com Palácio do Planalto e aguarda resposta. Em 2005, quando foi ao programa "Roda Viva", Lula falou sobre o escândalo e Roberto Jefferson: "ele [Jefferson] foi cassado exatamente porque não provou a denúncia que ele fez no que diz respeito, por exemplo, aos mensalões. O José Dirceu foi acusado de ter montado uma quadrilha. E sobretudo, uma quadrilha para pagar mensalão. (...) Teve ou não mensalão? Tenho certeza que não teve," disse o presidente.
Nunca existiu
Chinaglia disse nesta quinta que, depois da reunião com Lula, a imprensa chegou a divulgar uma matéria em que denunciava um suposto esquema de compra de votos no Congresso, sem o uso do termo "mensalão". Segundo ele, a Câmara abriu uma sindicância, mas como nenhum deputado se manifestou, a denúncia acabou arquivada.
Questionado sobre se tem conhecimento da existência de fato do mensalão, Chinaglia sugeriu acreditar que o caso nunca existiu. "Não soube de qualquer denúncia de que houve compra de votos". Pergutado se já ouviu falar em reuniões do Diretório Nacional do PT de que existia um esquema de oferta financeira em troca da aprovação de projetos do governo, ele foi categórico. "Não", respondeu.
O ex-presidente da Câmara afirmou também que não conheceu o empresário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão. Disse ainda não ter tratado de questões financeiras na época em que era líder do PT com o então presidente do partido, José Genoino.
Depoimento
Ele prestou depoimento à juíza Pollyana Kelly Martins Alves, da 12ª Vara Federal do Distrito Federal, na condição de testemunha de defesa de cinco réus na ação penal do mensalão: Roberto Jefferson; o ex-tesoureito do PT, Delúbio Soares; ex-lider do PP, José Janene (PR); deputado João Paulo Cunha (PT-SP); e o ex-líder deputado Pedro Corrêa (PP-PE).
Em conversa com jornalistas, após o depoimento, Chinaglia disse ter certeza que Lula não sabia do mensalão antes da denúncia de Roberto Jefferson. "A primeira reação é não acreditar em uma história dessa. O presidente pediu para que eu e Aldo [Rebelo, então presidente da Câmara] verificássemos", disse. "Foi uma conversa inoportuna. Não era assunto para tratar com o presidente", completou Chinaglia, lembrando que a pauta da reunião era a tratativa de assuntos políticos do governo.
Segundo Chinaglia, também participaram do encontro com Lula o ex-ministro do Turismo Walfrido Mares Guia, o então presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e o ex-líder do PTB José Múcio Monteiro, hoje ministro do Tribunal de Contas da União.
O Ministério Público Federal (MPF) classifica o mensalão como um esquema que se especializou em "desviar dinheiro público e comprar apoio político", com o objetivo de "garantir a continuidade do projeto de poder" do PT. O MPF foi o órgão responsável por denunciar o esquema a denúncia foi aceita em agosto de 2007 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que abriu uma ação penal para julgar o caso. O relator do processo no Supremo é o ministro Joaquim Barbosa.
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