O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou nesta quarta-feira (30) o primeiro depoimento ao juiz federal Sergio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava Jato em Curitiba. Ele foi ouvido por videoconferência com São Bernardo do Campo (SP) como testemunha de defesa arrolada pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e disse não ter conhecimento sobre uma possível indicação do ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada ter sido feita pelo deputado cassado.
Veja a íntegra do depoimento de Lula ao juiz Sergio Moro
Na audiência, o advogado de Cunha, Marlus Arns de Oliveira, pediu que Lula explicasse como funcionou a indicação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que antecedeu Zelada na Diretoria Internacional. “A nomeação do Cerveró se deu da mesma forma que outros membros da direção da Petrobras, ou seja, a indicação ou é feita em uma conversa entre um ministro da área e um partido com a bancada”, disse Lula.
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Ainda segundo ex-presidente, todas as indicações eram submetidas a uma investigação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para avaliação antes da nomeação. “Só temos uma exigência para indicar alguém: que a pessoa seja tecnicamente competente, que a pessoa tenha conhecimento da atividade que vai fazer”, completou o ex-presidente.
Lula esclareceu ainda que a indicação da Diretoria Internacional da Petrobras era feira pelo PMDB, mas disse não ter conhecimento do envolvimento de Cunha no processo de indicação de Cerveró ou Zelada.
O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Diogo Castor de Mattos aproveitou a oitiva de Lula para perguntar quais eram os partidos que indicavam cargos na Petrobras durante o governo do petista. “Todos os partidos que compuseram a base do governo. Eu já expliquei mais que uma vez que quando um partido compõe uma aliança política para governar, todos os partidos que compõem podem reivindicar ministérios e indicar cargos. Esses partidos fazem parte do governo. Era assim que era montado antes, durante e depois [do governo Lula] e assim é montado agora”, disse o presidente.
Ao responder as perguntas, o ex-presidente contrariou os advogados, que teriam pedido que ele permanecesse em silêncio durante o depoimento. “Eu fui inclusive comunicado pelos meus advogados que não seria necessário responder, mas eu quero dizer que eu faço questão de responder. Sou o maior interessado na verdade”, disse Lula no início da audiência.
Essa foi a primeira vez que Lula foi ouvido por Moro. Ele deve prestar outro depoimento, desta vez no processo em que responde por lavagem de dinheiro e recebimento de propina por meio de um tríplex no Guarujá, mas a oitiva vai ficar para o ano que vem. Nessa quarta, foram ouvidas diversas testemunhas de acusação no processo do tríplex.
Quem também prestou depoimento como testemunha de defesa de Cunha foi o pecuarista José Carlos Bumlai. Ele negou ter conhecimento de como foi feita a indicação e de como foi a demissão do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O pecuarista deixou de responder a maioria das perguntas por orientação de sua advogada.
Ao sair da audiência, o advogado Marlus Oliveira avaliou como positivos os depoimentos de Lula e Bumlai para o processo de Cunha. “Foram duas testemunhas de defesa ouvidas e ambos caminharam na mesma linha que é de mostrar que a acusação não é verdadeira”, disse o advogado.
Entenda o caso
Eduardo Cunha foi preso na Lava Jato em outubro deste ano. No pedido de prisão, O Ministério Público Federal (MPF) sustentou que a liberdade do ex-parlamentar representava risco à instrução do processo, à ordem pública e que também havia a possibilidade concreta de ele fugir do país por manter dinheiro oculto no exterior e ter dupla nacionalidade (Cunha é cidadão italiano, além de brasileiro).
Cunha era presidente da Câmara dos Deputados e perdeu o mandato depois de responder ao processo mais longo do Conselho de Ética na Câmara dos Deputados. Ele foi acusado de quebrar o decoro parlamentar ao mentir aos colegas na CPI da Petrobras ao afirmar que não possuía contas no exterior.
De acordo, com o MPF, Eduardo Cunha recebeu US$ 1,5 milhão a título de propina, por intermédio do operador financeiro João Augusto Rezende Henriques, que depositou o valor em uma conta secreta do ex-deputado federal na Suíça.
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