Em depoimento à Procuradoria-Geral da República na terça-feira, o empresário Marcos Valério, responsável por pagamentos a políticos e parlamentares do PT e da base do governo, apresentou versão diferente da apresentada pelo ex-ministro José Dirceu no Conselho de Ética da Câmara. Valério disse, por exemplo, que durante a negociação para obter os seis empréstimos nos bancos Rural e BMG, de onde saíram os R$ 55,8 milhões repassados ao PT e seus aliados, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares lhe informou que Dirceu havia tido reuniões com dirigentes dos dois bancos. Portanto, teria conhecimento do assunto.
No Conselho de Ética, Dirceu negou ter participado ou tomado conhecimento da negociação sobre os empréstimos. Ao MP Federal, depois de pedir os benefícios legais do "investigado colaborador" e entregar seu passaporte como prova de que não pretende deixar o país, Valério afirmou que Dirceu jantou com representantes do Rural no hotel Ourominas, em Belo Horizonte, e teve uma reunião com a diretoria do BMG em Brasília.
Os encontros, disse Valério, não são os mesmos ocorridos no primeiro semestre de 2003, quando ele acompanhou dirigentes das duas instituições em audiências oficiais para tratar da visita à fábrica do Grupo BMG instalada em Luziânia (GO) ou ao projeto de mineração de nióbio da empresa Mineração Rural no Amazonas. Dos seis empréstimos, um foi obtido em setembro de 2003 e outros três em 2004. Valério contou ainda ter ido várias vezes à Casa Civil, três delas para audiências com Dirceu e outras para conversar com Sandra Cabral, secretária do ministro, e com Marcelo Sereno, seu assessor especial.
Numa demonstração de intimidade com o ex-ministro e os petistas, Valério confirmou ainda que a ex-mulher de Dirceu Ângela Saragoça recebeu o empréstimo de R$ 46 mil do Banco Rural e conseguiu o emprego no BMG graças a sua ajuda. Ele contou ter sido procurado pelo ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira "para auxiliar o ex-ministro José Dirceu na resolução de um problema pessoal com a sua ex-esposa, que pretendia trocar de apartamento e não tinha recursos financeiros". Desta forma, explicou Valério ao Ministério Público, foi conseguido o empréstimo.
Seu sócio Rogério Tolentino, completou Valério, para resolver o problema da ex-mulher do ex-ministro, já que o crédito para compra de outro imóvel dependia do pagamento em dinheiro, comprou o antigo apartamento de Ângela e pagou à vista.
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