A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (8) uma operação para reprimir a prática de crimes ambientais ligados à extração de diamantes em áreas indígenas de Rondônia. A ação é um desdobramento da Operação Lava Jato, que investiga um escândalo de corrupção na Petrobras. As informações sobre a extração das pedras preciosas foram apuradas durante as investigações contra o doleiro Carlos Habib Chater, dono do posto Torre, em Brasília, que dá nome à Operação Lava Jato .

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Chater foi o primeiro preso na operação que resultou na investigação sobre o escândalo na Petrobras. Segundo a PF, empresários, garimpeiros, comerciantes e até indígenas participavam da exploração de diamantes na reserva indígena Parque do Aripuanã, num local conhecido como Garimpo Lage, usufruto de índios da etnia Cinta Larga.

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Estão sendo cumpridos ao todo 90 mandados judiciais no Distrito Federal, em Rondônia, São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso, Pará e Paraná.

O escritório Raul Canal Advogados, em Brasília, foi um dos alvos da operação. A empresa seria ligada a Chater, segundo investigadores. Os policiais saíram do escritório com três malotes. Os mandados são 11 de prisão preventiva, 41 de busca e apreensão, 35 de conduções coercitivas, além de 3 intimações para comparecimento a oitivas.

Também foi decretado, pela Justiça Federal, o sequestro de um imóvel e dinheiro encontrado nas contas dos principais investigados para o ressarcimento de possíveis danos ambientais praticados. A operação chama-se Crátons, em referência às estruturas geológicas que dão origem à formação dos diamantes.“A investigação apurou que uma organização criminosa, formada por empresários, advogados, comerciantes, garimpeiros e até indígenas, era responsável por financiar, gerir e promover a exploração de diamantes no chamado ‘Garimpo Lage’“, informou a PF.

Segundo a polícia, foi identificada a participação de uma cooperativa e de uma associação indígena na extração ilegal dos diamantes.“Os investigados responderão, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de extração de recursos minerais sem autorização do órgão competente, dano a unidade de conservação, usurpação de bem da união, receptação, organização criminosa, associação criminosa e lavagem de dinheiro”, afirmou ao Polícia Federal.

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Compartilhamento

Esta é a primeira operação da PF realizada a partir do compartilhamento de informações apuradas na Lava Jato.Os policiais chegaram à quadrilha que atua em Rondônia a partir do monitoramento de ligações e trocas de emails de dois investigados pelo escândalo de corrupção na Petrobras, entre eles Chater.

Segundo o delegado Bernardo Amaral, a PF está apurando se o comércio de pedras preciosas era usado na lavagem do dinheiro oriundo do caso de corrupção na petroleira. Dentre os 11 mandados de prisão, seis são contra índios. Outros cinco têm como alvo empresários que participavam da quadrilha de exploração de diamantes. Todos estão sendo cumpridos em Rondônia. Até o momento, sete pessoas foram presas.

Ainda segundo a investigação, a organização criminosa planejava investir R$ 1 milhão no garimpo para lucrar R$ 5 milhões com a atividade ilegal.

De acordo com Bernardo Amaral, no local haveria seis ou sete jazidas. Uma delas já estava sendo explorada, com 700 garimpeiros trabalhando no local até a deflagração da operação. “Mas temos informações de que a quadrilha já tinha identificado a segunda jazida”, complementou o delegado.

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A investigação, iniciada no início do ano passado, ganhou força após o compartilhamento das provas da Lava Jato, no meio de 2014. A PF identificou, então, que o grupo investiu em compra de maquinário e contratação de mão de obra para explorar a área, uma reserva indígena.“Fizemos um sobrevoo na região e constatamos que o garimpo clandestino estava em operação”, contou Bernardo Amaral.

Como é retirado de uma reserva, o diamante encontrado no local não poderia ser comercializado. A PF investiga, porém, se a pedra recebia um certificado, como se tivesse sido explorada em uma área em que a atividade é legalizada.

Posto da Torre

Um dos alvos é o escritório Raul Canal & Advogados Associados, com sede em Brasília e representação em vários Estados. As investigações têm relação com os negócios do doleiro Carlos Habib Chater, o primeiro preso pela Lava Jato, em março de 2014, quando a Polícia Federal ainda investigava uma rede de lavagem de dinheiro.

O doleiro era o dono do Posto da Torre, em Brasília, que era utilizado para lavagem de dinheiro, evasão de divisas e pagamentos de propinas que deu origem ao nome da Operação Lava Jato. Além dele, os doleiros Alberto Youssef, Nelma Kodama e Raul Henrique Srour, todos presos posteriormente na operação, estabeleceram uma rede de lavagem de dinheiro que, no decorrer das investigações, descobriu-se que era utilizada para operacionalizar o pagamento de propinas a agentes públicos e políticos envolvendo contratos da Petrobras.

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Em 2013, Chater teve suas conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, quando surgiram indícios de que operava remessas de recursos para o exterior por meio da operação conhecida por dólar-cabo. Ele teria movimentado R$ 124 milhões. O próprio Youssef, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato no Paraná, admitiu que utilizava o Posto da Torre para repassar propinas a políticos no esquema de corrupção da Petrobras.

Um laudo da Polícia Federal apontou que o posto movimentou R$ 10,8 milhões entre 2007 e 2014 por meio de 375 contas bancárias ainda sob investigação. Em setembro deste ano, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região manteve a condenação de Chater a cinco anos e cinco meses de prisão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e tráfico de drogas determinada em primeira instância pelo juiz Sergio Moro.