O senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) fez nesta segunda-feira (2) um discurso em plenário no qual pediu "perdão" a todos os 44 senadores que, no dia 6 de março, deram voto de confiança ao parlamentar, no início das revelações do envolvimento dele com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Demóstenes prometeu fazer diariamente discursos até o próximo dia 11, quando será julgado, em votação secreta em plenário, no processo de cassação a que responde.
"É de peito aberto que eu volto aqui pedindo perdão pelos erros" afirmou Demóstenes, num discurso de 26 minutos acompanhado por apenas cinco senadores. Acusado de usar seu mandato na defesa dos interesses de Cachoeira, citou nominalmente todos os parlamentares que o apoiaram há cerca de três meses.
Ao apelar para um discurso emocional, mas sem se emocionar, Demóstenes afirmou que decidiu falar em plenário para provar a inocência dele diante do "incrível repertório de ofensas" dirigidas a ele. O senador justificou sua presença pelo fato de que no dia da votação não terá tempo suficiente para se explicar. "Há quatro meses vivo um calvário sem tréguas", disse. "No tribunal das manchetes, já fui denunciado e condenado".
Mais uma vez, o senador rebateu uma a uma as acusações que lhe foram feitas. Ele admitiu que foi amigo de Cachoeira, com quem conversava com frequência. Mas disse que nunca teve negócios legais e ilegais com ele. "Eu não coloquei o meu mandato a serviço de Cachoeira, mas tão somente às forças produtivas do meu Estado", afirmou. Negou, por exemplo, ter procurado parlamentares para defender a liberação dos jogos de azar, uma das bandeiras do contraventor.
Demóstenes, que disse nunca ter faltado com a verdade, lembrou que pediu perícia para mostrar que houve adulteração nos grampos feitos pelas operações Vegas e Monte Carlo da Polícia Federal. O Conselho de Ética, órgão que aprovou na semana passada o pedido de cassação do parlamentar por unanimidade, negou pedido. "Minha súplica pela realização de perícia não é apenas para mostrar a ilegalidade da prova, mas também para compreender, contextualizar", destacou.
O senador queixou-se do vazamento de "grão em grão" das conversas dele. "A estratégia do vazamento em pílulas surtiu um efeito devastador: até quem confiava em mim ficou cético", disse. "Não se inventou a gravação, mas o método", completou.
O parlamentar apelou até para os números para mostrar o que considera desproporção para cassá-lo. Segundo ele, das 250 mil horas de gravação de conversas feitas pela PF, o relatório que pediu sua cassação se vale apenas 3 minutos de interceptações. E das 416 conversas entre ele e Cachoeira, apenas 1% delas, disse, foi considerado relevante para o processo de quebra de decoro.
Demóstenes disse quatro delegados e 10 agentes da PF ficaram no encalço dele durante quatro anos. Referindo-se ao projeto de lei que libera os jogos de azar no país, o senador disse que tirar o mandato de alguém porque informa o andamento de uma proposta legislativa é "desproporcional". "É um precedente perigoso", afirmou ele, dizendo-se "envergonhado", abatido", "cansado" e "esgotado".
O senador disse que tem certeza de que mostrará a todos sua "honradez" e "retidão". "Tenha a certeza, sou inocente", finalizou ele, retirando-se logo em seguida do plenário.