O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu primeiro discurso desde que deixou o cargo para pedir apoio à sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff. Em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, cidade que foi palco das greves que liderou no fim dos anos 1970 e 1980 e onde se tornou um dos maiores líderes sindicais do País, Lula avisou na noite de sábado, dia 1º, que continuará na política, apesar de ter deixado a Presidência.

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"Quero pedir a vocês que amem Dilma como vocês me amaram", afirmou Lula, no palco montado na Avenida Francisco Prestes Maia em frente ao edifício onde morou antes de se tornar presidente. "Peço a vocês que, com o mesmo carinho com que vocês me apoiaram apoiem Dilma. Os inimigos são os mesmos, e os preconceitos são maiores."

Muito emocionado, Lula disse que as últimas duas semanas foram de muitas despedidas em Brasília. "Não estou sequer com condições de falar. Foi uma semana muito comprida, de muita choradeira, emoções e lágrimas", afirmou o ex-presidente, que discursou por 11 minutos. "Desde a última quarta-feira, tenho me despedido de muitos companheiros em Brasília e é choradeira de manhã, de tarde e de noite", brincou. De fato, Lula chorou muito durante o voo entre Brasília e São Paulo, de acordo com o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, o principal organizador da cerimônia, que também contou com a presença do deputado federal Jose Genoino e de Paulo Okamotto, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e amigo de Lula.

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"Tenham certeza de uma coisa: o fato de eu te deixado a Presidência não quer dizer que eu deixei a política. Tenho muita coisa para fazer pelo País e pelo mundo afora", afirmou. Lula disse que quer levar as boas experiências do Brasil a outros países da África e da América Latina, mas avisou que vai continuar no País e que estará sempre à disposição para apoiar Dilma se ela quiser "convocá-lo".

Cansado, Lula disse que ele e a ex-primeira-dama Marisa Leticia vão precisar de pelo menos 20 dias de férias para "colocar a cabeça no lugar". "Volto para casa com a cabeça erguida e a sensação do dever cumprido", afirmou. Em tom de brincadeira, pediu água aos organizadores do evento ao longo de seu discurso e reclamou da rapidez com que perdeu os privilégios de um presidente. "Quando eu era presidente, nunca precisei pedir água porque sempre tinha um copinho para mim. Agora eu já tenho que pedir", afirmou, sob risos da plateia de cerca de 2 mil pessoas, de acordo com estimativa da Guarda Civil da cidade.

A festa estava prevista para as 20h, mas Lula chegou a São Bernardo do Campo somente às 22h40 - antes, visitou o ex-vice-presidente José Alencar no hospital Sírio-Libanês. Ele entrou em seu prédio às 23h30, com direito à queima de fogos de artifício, tema da vitória de Ayrton Senna e muita confusão das pessoas que queriam se aproximar do ex-presidente. Ele estava acompanhado de sua mulher, Marisa Letícia, e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) que, quando anunciado, recebeu um misto de poucos aplausos e muitas vaias, mas nem assim foi dissuadido da ideia de discursar.

"Vocês só veem ex-presidente falando mal de ex-presidente. Eu vim aqui para falar bem de um ex-presidente. O que me trouxe aqui foram amizade e reconhecimento", afirmou Sarney, para então ganhar a plateia e receber aplausos. Marinho também fez um discurso breve. "Foi o melhor presidente que este País já teve", disse, ao entregar a chave da cidade a Lula.

Lula recebeu homenagens da Orquestra de Violas Caipiras de São Bernardo do Campo, que tocou a música "Como é grande o meu amor por você", de Roberto Carlos. Sergio Reis cantou "Menino da porteira" para o ex-presidente, que dançou a música com Marisa Leticia. Também foi homenageado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ao longo da noite, também foram executados os slogans das campanhas de Lula à Presidência de 1989 - Lula-lá, brilha uma estrela - e 2006 - São milhões de lulas povoando este País.

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