Milhares de pessoas lotaram as ruas em frente à Justiça Federal, em Curitiba, para prestar seu “apoio irrestrito” à Lava Jato, neste domingo (4). Pelo menos 15 mil compareceram, segundo os organizadores. A Polícia Militar (PM) estima em oito mil. O clima na praça era similar ao das manifestações que pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff, com manifestantes de verde e amarelo e forte rejeição à classe política. Mas em menor escala (o maior protesto contra Dilma, em Curitiba, reuniu 200 mil pessoas) e com vínculo mais forte com a operação Lava Jato.
Um dos estopins para a manifestação foi justamente a desfiguração, por parte do Congresso Nacional, das “10 Medidas Contra a Corrupção”, propostas pelo Ministério Público Federal (MPF). Na última semana, a Câmara dos Deputados excluiu do pacote anti-corrupção a criminalização do enriquecimento ilícito e a recompensa para quem denunciar crimes, e incluiu uma emenda que permite que juízes e promotores sejam acusados de abuso de autoridade. No dia seguinte, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou aprovar em caráter de urgência, sem sucesso.
Um dos caminhões de som utilizados na manifestação foi estampado com um banner de “Todo apoio à operação Lava Jato”. Muitos cartazes fabricados à mão traziam referência ao projeto do MPF. “Não alterem as 10 medidas assinadas pelo povo”, dizia um deles. O projeto recebeu dois milhões de assinaturas antes de ser protocolado na Câmara, em março deste ano.
QG do Moro
O local do protesto é simbólico. A 13.ª Vara Federal é onde trabalha o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato. Pouco antes do protesto, a esposa do juiz, Rosângela Moro, convocou a população a ir para a rua, em uma mensagem compartilhada no Facebook, em sua página “Eu Moro com ele”.
Entre os manifestantes, máscaras e bonecos infláveis de Moro dividiram espaço com bonecos dos ex-presidentes Dilma e Lula, em geral representados na figura de presidiários. Mas o principal algoz, desta vez, foi o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Responsável por dar continuidade à votação das medidas contra a corrupção, pesa contra Renan o fato de ele ser alvo de 11 investigações no Supremo Tribunal Federal (STF). O Senador inclusive virou réu, na última quinta-feira (1.º), em uma denúncia de peculato, que não tem relação com a Operação Lava Jato.
“O foco agora é o Congresso, que está corrompido. Primeiro foi o Cunha, agora é o Renan. O presidente do Senado responde a 11 processos. Não dá”, disse o analista administrativo Luciano Staut, um dos manifestantes. Uma das líderes do protesto, Gislaine Masoller, do movimento Vem Pra Rua, reforça a revolta. “Também é um recado para o Supremo. Como um sujeito que tem 12 inquéritos parados, é presidente do Senado, está manobrando contra a Operação Lava Jato? Um cidadão que deveria estar preso!”
Apesar de pouco citado, o presidente Michel Temer não foi completamente esquecido. Em uma das faixas, manifestantes pediram “juízo” ao presidente. “Pouca coisa mudou” neste início de governo, “mas ainda não é hora de um ‘Fora, Temer’”, analisa o bancário Herivelton Peres, de 55 anos. Gislaine Masoller, do Vem Pra Rua, engrossa o coro. “Nós ainda temos um Senado, o regime democrático. Se o presidente não atender o clamor da população, aí é um segundo momento”.
“Tomataço”
Nos momentos finais do protesto, por volta das 18 horas, os manifestantes organizaram um “tomataço” contra políticos considerados corruptos. Diversos tomates foram jogados contra um cartaz que trazia a imagem de Calheiros e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-PR), além de políticos paranaenses. Em destaque, a figura do senador Roberto Requião (PMDB-PR). Os deputados paranaenses que votaram a favor da alteração das medidas anti-corrupção, no plenário da Câmara.
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