Ministro da Justiça há cerca de um mês, o paranaense Osmar Serraglio aparece em grampo utilizado nas investigações que originaram a Operação Carne Fraca da Polícia Federal (PF), subordinada à pasta. A operação foi deflagrada na manhã desta sexta-feira (17) para coibir esquema de comercialização ilegal de carnes por frigoríficos, entre eles os maiores grupos nacionais do setor, mediante pagamento de propina a fiscais do Ministério da Agricultura.
Outro Lado: Nota do Ministério da Justiça sobre a gravação
Escutas da Polícia Federal interceptaram um diálogo entre Serraglio, quando era deputado federal pelo PMDB, e o ex-superintendente federal de Agricultura do Paraná, Daniel Gonçalves Filho, descrito pela PF como “líder da organização criminosa”.
Novo ministro da Justiça recebeu doação de grupos empresariais citados na Lava Jato
Serraglio, que chama o servidor público de “grande chefe”, liga para Daniel para saber sobre fiscalização no frigorífico Larissa, em Iporã (PR), após ter sido procurado por Paulo – que a PF identifica como Paulo Rogério Sposito, dono do frigorífico Larissa. Sposito foi candidato a deputado federal por São Paulo em 2010, com o nome Paulinho Larissa.
Segundo a procuradoria-geral da República, não há autoridade com foro nessa apuração. A PGR informou ainda que Serraglio não é investigado no caso.
O diálogo
Osmar: Grande chefe, tudo bom?
Daniel: Tudo bom?
Osmar: Viu, tá tendo um problema lá em Iporã. Cê tá sabendo?
Daniel: Não.
Osmar: O cara lá....que o cara que tá fiscalizando lá...apavorou o Paulo lá...disse que hoje vai fechar aquele frigorífico...botô a boca..deixou o Paulo apavorado. Mas para fechar tem o rito, não tem? Sei lá...como funciona um negócio deste?
Daniel: Deixa eu ver o que está acontecendo..tomar pé da situação de lá...falo com o senhor.
Logo após encerrar a ligação, Daniel ligou para Maria do Rocio, fiscal na região implicada na Operação Carne Fraca, contando que o fiscal de Iporã quer fechar o frigorífico Larissa. Ele pede a ela que averigue o que está acontecendo e o informe. Ela diz que não há nada de errado. Daniel repassou a informação a Serraglio, segundo a PF.
Em nota, Serraglio diz que caso prova que ele não interfere na Polícia Federal
Em resposta ao caso, o Ministério da Justiça encaminhou uma nota à imprensa. No texto, afirma que a divulgação de conversa entre Serraglio e investigado é prova de que o ministro não interfere na atuação da Polícia Federal.
Leia nota na íntegra:
“Se havia alguma dúvida de que o Ministro Osmar Serraglio, ao assumir o cargo, interferiria de alguma forma na autonomia do trabalho da Polícia Federal, esse é um exemplo cabal que fala por si só. O Ministro soube hoje, como um cidadão igual a todos, que teve seu nome citado em uma investigação. A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo Juiz Federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa degravada.”
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Deixe sua opinião