A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como ministro-chefe da Casa Civil despertou especulações sobre quais mudanças ele faria no governo ao assumir a pasta
As conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal (PF) dão algumas pistas sobre o que ele e seus interlocutores pensam da gestão de Dilma Rousseff (PT), especialmente na área econômica.
ÁUDIO: Ouça todas as interceptações telefônicas de Lula feitas pela PF
O ex-presidente critica algumas posturas da sucessora e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, mas defende, por exemplo, a negociação feita pelo governo sobre projeto que retira a exclusividade da Petrobras na exploração do pré-Sal.
Petrobras
O tema Petrobras surge em duas conversas. Primeiro, em 26 de fevereiro, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, liga para reclamar da posição do governo e do ministro-chefe da Secretaria Geral da República, Ricardo Berzoini, sobre o projeto.
“O Berzoini me disse que, na realidade, não entregou nada. Tem um acordo muito bem feito. Que era pra não ter a derrota do Governo. É muito ruim o Governo ser derrotado. Eu falei: não é o Governo de vocês que foi derrotado. Foi derrotado todo o nosso projeto”, reclama o sindicalista. Lula tenta acalmá-lo: “Antes de ficar muito nervoso, vamos ter uma conversa na segunda-feira, querido?”, diz.
No dia 29 de fevereiro, ele conversa com Jaques Wagner sobre o assunto, e reclama da intransigência do partido e da CUT sobre o assunto. “Montando uma boa diretoria da Petrobras, um bom conselho nacional de política energética a gente pode garantir [a manutenção das políticas do governo de exploração do petróleo]. Porque também ficaria muito ruim se a Petrobras mantém a titularidade [da exploração] e não teria [dinheiro] pra fazer nada”, diz.
Nessa conversa, ele reclama, porém, da falta de diálogo de Dilma com a base do partido. “Eu acho que a Dilma poderia conversar agora com a nossa base, criando uma comissão especial”, diz. Ele diz, porém, que a CUT “não pode acusar essa mulher [Dilma] do que não fez”.
Em conversa com Wagner no dia seguinte, Lula diz ainda que conversou com os sindicatos e que há “muita raiva”, mas “muita compreensão”. Ele pede, novamente, que o governo dialogue mais com os sindicatos. “Eles precisam ser tratados com um pouco mais de carinho, caralho! Eles são os aliados, sabe?”, diz.
Estados
Em março, Lula conversou algumas vezes sobre a política econômica do governo para os estados. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), opina que o governo federal deve liberar mais crédito para ajudar os estados – algo que vai contra as políticas de austeridade defendidas pelo Ministério da Fazenda. Ele diz, ainda, que o endividamento do Brasil é comparativamente baixo.
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Leia a matéria completaLula concorda e vai além. “É liberar financiamento pros governadores, pros prefeitos e fazer o BNDES liberar logo o dinheiro pra fazer as obras do tal PIL [Programa de Investimento em Logística], do PAC, da puta que pariu!”, diz.
Já o deputado federal José Guimarães (PT-CE) reclama da postura da presidente Dilma na negociação das dívidas dos estados. “Tão negociando a dívida dos Estados de forma errada. Em vez de chamar o nosso povo e tal, fica discutindo com Rio Grande do Sul, com São Paulo [estados governados pela oposição]. Um critério republicano pra todo mundo, tem que ter! Mas não é assim...”, diz Guimarães, antes de ser interrompido por Lula. “Primeiro é acertar com os nossos”, complementa o ex-presidente.
Barbosa
Na conversa com Guimarães, Lula também fala sobre sua relação com a Fazenda. “Então, mas eu tive uma conversa com ela muito dura, muito dura. Tive uns debates com Nelson Barbosa [ministro da Fazenda], aqui em São Paulo. Eu falei pra eles, ó: ‘gente, tá tudo errado, o discurso de vocês não vai pra frente, vocês querem agradar os inimigos, jogando nosso povo no lixo, porra!’ Sabe? Tem que falar pro nosso povo”, reclama.
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