Os pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux Ortiz, de 26 anos, e Erislandy Lara, de 24, que abandonaram a delegação da ilha comunista durante a realização dos Jogos Pan-Americanos do Rio podem estar sentindo falta dos quatro dias que passaram na Região dos Lagos. Em uma pousada na aprazível Praia do Vargas, em Praia Seca, distrito de Araruama, os lutadores, que já regressaram à nação caribenha, aproveitaram cada minuto da estada, regada a gargalhadas, sexo, cerveja, sauna e bons pratos da culinária local. Diante de tanta fartura, os cubanos não cogitavam regressar ao país de origem. O sonho só acabou quando os lutadores foram abandonados por um agenciador.

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Os dois esportistas, acompanhados do empresário alemão Thomas Doering, que estaria planejando levar os cubanos para lutar na Europa, e um espanhol, um cicerone carioca e três prostitutas, que trabalhariam em um prostíbulo da região, foram centro de uma grande polêmica. O caso levou até a oposição no Brasil a protestar no Congresso e cogitar a convocação do chanceler Celso Amorim para explicar por que os cubanos foram deportados. Para o líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio (SP), o Brasil "jogou no lixo" a sua tradição de asilo político .Clique e leia a íntegra da matéria no Globo Digital

Segundo o jornal "Extra", os cubanos foram abandonados na pousada por Doering na manhã da última quinta-feira, embarcando para a Alemanha. De acordo com a reportagem, o alemão estava acompanhado apenas por um cubano, que desempenhava a função de olheiro. Eles teriam dado R$ 70 mil para os pugilistas, que teriam usado o dinheiro na farra. Pessoas ouvidas pelo "Extra" contaram que os dois eram muito generosos na gorjetas.

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Os atletas ficaram na pousada até 15h. Ao sair, caminharam até um guarda-vidas da prefeitura de Araruama. Lara apontou para o celular e repetiu "polícia, polícia".

O episódio levou Cuba a anunciar que está estudando a possibilidade de não enviar atletas para o Campeonato Mundial de Boxe, em Chicago, nos Estados Unidos , por considerar que seus atletas seriam "carne fresca" para deserções pelas mãos de "tubarões", disse Fidel Castro em um editorial publicado nesta quarta-feira no jornal do Partido Comunista, "Granma", três dias após o retorno dos atletas. O Campeonato, que será realizado em outubro, é uma das três competições classificatórias para os Jogos Olímpicos de Pequim, que acontece ano que vem.

No domingo, Fidel, que se recupera de cirurgia, prometeu que os dois pugilistas que abandonaram a equipe cubana durante os jogos Pan-Americanos no Brasil, seriam tratados com justiça quando chegassem ao país , devolvidos pelas autoridades brasileiras. No sábado, a esposa de Rigondeaux, Farah Colina, disse que acreditava no perdão do líder cubano.

O líder cubano Fidel Castro os acusou inicialmente de terem traído a pátria por alguns dólares. Em seguida, ele disse que se os lutadores voltassem ao país não seriam presos, mas sim tratados humanamente, com direito a "emprego digno".

O ex-boxeador Teófilo Stevenson, uma lenda do esporte cubano que na década de 70 rejeitou uma oferta milionária para desertar e lutar nos Estados Unidos, disse que os boxeadores não são traidores.

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- Acho uma vitória que eles tenham voltado - disse Stevenson, de 55 anos. - Eles não traíram. Foi ignorância. Porque para quem trai, não há perdão - acrescentou o tricampeão olímpico.

Stevenson tornou-se um herói da revolução cubana quando recusou uma oferta para desertar durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.

"O que representa um milhão de dólares comparado com o amor de todo um povo?" respondeu, segundo contam, Stevenson aos empresários americanos que tentaram convencê-lo à época.

Stevenson hoje vive em uma casa de dois andares no elegante bairro residencial de Miramar, em Havana. Seu nível de vida é superior ao da maioria dos cubanos, mas muito distante de ser luxuoso.

- Se eu pensasse em dinheiro, já estaria fora de Cuba - disse ele.

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