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Ao defender seu estado de origem, o Amazonas, o senador Arthur Virgílio (PSDB) confundiu um jogo com a realidade e foi protagonista de uma gafe no plenário do Senado. Em meio a um discurso na terça-feira (27), ele afirmou aos demais senadores que tinha uma notícia, "da maior gravidade", para levar ao conhecimento da Casa.

"Ela (a notícia) está no site da Agência Amazônia, sob o título 'Laboratório americano propõe privatizar a Amazônia': A Amazônia está mesmo à venda. Em um vídeo de um minuto e 25 segundos, postado em seu site, a empresa norte-americana Arkhos Biotech está convocando as pessoas do mundo inteiro a investir para transformar a Floresta Amazônica em um santuário de preservação sob o controle privado", disse.

Virgílio considerou como uma "ofensa" ao país e convidou a empresa para uma reunião na subcomissão da Amazônia.

O que o senador Arthur Virgílio não sabia, e nem a agência de notícias pela qual ele se informou, é que a empresa Arkhos Biotech é fictícia e faz parte de um jogo patrocinado pelo Guaraná Antarctica.

De fato, o site da empresa é bem elaborado e apresenta histórico da empresa, produtos fabricados. A Arkhos Biotech se apresenta como uma das maiores fabricantes do mundo de ativos vegetais para a indústria cosmética e farmacêutica, atuante no mercado desde 1965, com sede em Itacoatiara (AM).

Na parte de imprensa, um release "Arkhos Biotech defende a Amazônia para todos" e um vídeo em inglês defende a privatização para que a floresta seja preservada.

Consultada pelo G1, a assessoria do Guaraná Antarctica pondera que logo na página principal da Arkhos Biotech faz-se menção ao site Zona Incerta, que concentra as principais informações do jogo.

O site da empresa fictícia diz "A Arkhos Biotech vem à público esclarecer que não possui qualquer envolvimento com o biólogo Miro Bittencourt, indivíduo que utiliza seu website www.zonaincerta.com para acusar a empresa de crimes que jamais ocorreram. O indivíduo em questão procura desviar atenção de seu desaparecimento suspeito e de seu envolvimento ainda não esclarecido no roubo de um segredo industrial. A Arkhos Biotech se opõe à conduta de detratores que não podem provar suas acusações e espera que seus investidores saibam diferenciar fatos de ficção."

O jogo

Os internautas precisam ajudar Gastão Bittencourt a esclarecer as circunstâncias do desaparecimento de seu irmão Miro Bittencourt, funcionário da Antarctica que tem informações sobre a fórmula do Guaraná Antarctica, e o roubo de documentos que levariam à fórmula.

Os documentos teriam sido roubados por pessoas ligadas à Arkhos Biotech. No site do jogo, aparecem diversos sites que podem ser consultados sobre a brincadeira: um blog da ex-noiva de Miro, um site de uma entidade de defesa ambiental que é contra a Arkhos Biotech, entre outros.

Patrocinador

A Antarctica divulgou uma nota sobre o episódio. "O Guaraná Antarctica aderiu a uma ferramenta de marketing inovadora e diferenciada, o ainda pouco explorado "alternatereality games" (ARGs), jogo que convida os consumidores da marca a desvendar um mistério. A ação gira em torno da fórmula secreta do Guaraná Antarctica. A personagem vilã do jogo é a Arkhos Biotech, uma empresa que declara a intenção de transformar a Amazônia numa reserva sob controle privado. A história é fictícia, mas espelha uma preocupação real do Guaraná Antarctica em relação à preservação da Amazônia, região de origem do fruto do guaraná. Essa é uma ação pioneira no Brasil, realizada em parceria com a Editora Abril", diz a nota.

Orkut

No Orkut, os integrantes da comunidade "Desvendando Zona Incerta" fizeram piadas em razão das gafes do senador e da agência de notícias. Foi criado um fórum sobre isso.

"A pessoa lê, não se intera sobre a veracidade das coisas, veja o que dá!!!", escreveu um participante.

"Já chegou na Câmara, e ninguém se deu ao trabalho de conferir que a ARKHOS BIOTECH não existe! Se existisse, por que teria um site em português e não teria em inglês?", disse outro.

Senador

Procurado pelo G1, o senador Arthur Virgílio informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que ele viu a denúncia na agência de notícias e, como era "muito grave", decidiu tratar do tema em plenário porque não teve tempo de checar a informação. Disse que cumpriu seu dever de defender a Amazônia e que, embora a situação não fosse verdadeira, "tem muita gente que defende a privatização da Floresta Amazônica".

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