Em depoimento à Justiça Federal do Paraná, o executivo da Camargo Corrêa Eduardo Leite reafirmou nesta segunda-feira fatos que havia relatado em delação premiada assinada com o Ministério Público, como o pagamento, entre 2006 e 2013, de R$ 110 milhões em propina referentes a contratos da Petrobras. Do total, R$ 63 milhões teriam sido pagos à Diretoria de Serviços e R$ 47 milhões à Diretoria de Abastecimento da estatal. Segundo ele, os pagamentos eram realizados na proporção de 1% de desembolsos realizados pela Petrobras em favor da Camargo Corrêa.
Perguntado pelo juiz Sérgio Moro se apenas a Camargo Corrêa pagava propina, Leite trouxe uma informação nova: disse ter ouvido de outras empresas que elas pagavam propina. Em depoimentos anteriores, os executivos da Camargo admitiam apenas a participação de outras empresas em cartel para divisão de contratos, mas não falavam sobre pagamentos indevidos.
“O Ricardo Pessoa uma determinada vez comentou, ‘pô, essa situação é desconfortável, esses acertos que a gente tem que fazer, esses volumes de dinheiro’, ele fez uma reclamação nesse sentido. Em uma outra situação, o Márcio Faria, da Odebrecht, também fez a mesma reclamação”, disse Leite no depoimento realizado nesta segunda-feira.
Ricardo Pessoa assinou recentemente acordo de delação premiada em que admite o pagamento de propina na Petrobras. Márcio Faria não foi localizado na noite desta segunda-feira. Nos últimos meses, a Odebrecht vem negando tanto a participação no cartel para negociação de contratos na Petrobras quanto o pagamento de propinas.
Já o ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini confirmou a existência de cartel das maiores empreiteiras brasileiras para acertarem preços em obras da Petrobras e reafirmou o pagamento de propinas nas diretorias de Abastecimento, do ex-diretor Paulo Roberto Costa, e de Serviços, do ex-diretor Renato Duque.
“A partir de 2008 passei a participar de reuniões em que discutimos o pacto de não concorrência nas obras da Petrobras. No processo do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) participei de reuniões em que havia essa discussão, de quem eram as empresas que iriam ganhar os projetos. As reuniões eram para ajustar o interesse de cada uma. Participavam das reuniões as maiores empreiteiras: UTC, Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. Tinha também outro grupo menor que também participava: Techint, Promon, MPE, Setal, Engevix, Mendes Junior”, disse Dalton Avancini, informando que eram pelo menos 15 empresas a participar do processo de escolha de obras na estatal.
Segundo ele, até sorteio para dividir obras chegou a acontecer.
“As empresas iam se ajustando. Como nós tínhamos obtido a liderança no consórcio da Rnest (Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco), nós não tínhamos como prioridade o Comperj. Mas quando havia o caso de não haver ajuste de preços entre as empresas, até sorteio já aconteceu”, disse Avancini.
Ele confirmou também pagamentos de propinas aos ex-diretores da Petrobras, Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços e Engenharia).
“Havia compromisso das empresas a pagar 1% para a área de Abastecimento e 1% para a área de Serviços. O que se dizia é que esses valores eram para os partidos, para o PT que apoiava a área de Serviços e para o PP para a área de Abastecimento. Mas os diretores não pediam propina para mim diretamente. As propinas eram pagas pelos operadores junto aos partidos. Nós tínhamos dificuldade para fazer isso. Primeiro tentamos não pagar. Mas depois na Rnest os pagamentos de propinas foram feitos através da empresa de tubulação para fazer o pagamento dessas comissões, a Sanko Sider. Ficou combinado que dentro do preço dos tubos havia um sobrevalor para repassar valores para o diretor Paulo Roberto Costa, com a intermediação do Alberto Youssef.”
E na diretoria de Serviços, como eram pagas as propinas?, perguntou um dos procuradores do MPF.
“Era com as empresas do Julio Camargo, a Piemonte e Treviso. Eram contratos de consultoria. Depois o Julio Camargo fazia repasses para a área de Serviços. Tentamos não pagar algum tempo, mas houve pressão para que pagássemos. Os contratos eram para pagar as propinas na área do Renato Duque e do Pedro Barusco.”
Avancini confirmou ao juiz Moro que o pagamento de propinas era usual no setor e que as outras empreiteiras também pagavam.
“Seria ilógico que só a Camargo pagasse.”