Paris e Genebra - Um braço do Ministério da Defesa francês, o Instituto de Altos Estudos de Defesa Nacional (IHEDN), admitiu ontem ter convidado, em parceria com fabricantes de material bélico franceses, um grupo de oito deputados federais brasileiros, entre os quais o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para fazer "promoção dos equipamentos militares" do país. Entre os produtos "divulgados" estava o caça Rafale, fabricado pela Dassault, que disputa com concorrentes norte-americano e sueco o contrato FX-2, de renovação da esquadrilha da Força Aérea Brasileira (FAB).
Desde segunda-feira, uma delegação de oito deputados composta por José Aníbal (PSDB), Cândido Vaccarezza (PT), Ronaldo Caiado (DEM), Raul Jungmann (PPS), Maria Lúcia Cardoso (PMDB), Ibsen Pinheiro (PMDB) e Carlos Zarattini (PT), além de Temer participou de uma visita oficial realizada a convite do IHEDN, órgão do Ministério da Defesa francês. A visita não foi divulgada à imprensa pela Embaixada do Brasil em Paris por instrução da assessoria de Temer.
Em Paris, os deputados se encontraram com autoridades do governo francês, assistiram ao desfile militar de 14 de Julho data nacional do país , e participaram de um coquetel de luxo nos jardins do Palácio do Eliseu (Champs Elysées).
Concorrência
Até a primeira semana de agosto, um parecer da Aeronáutica será arbitrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem caberá a decisão sobre a renovação da frota da FAB, com a compra dos 36 novos caças. O presidente do IHEDN, Olivier Darrason, reconheceu o "lobby", que prefere chamar de "promoção". "Não usaria a expressão lobby. Quisemos mostrar que temos tecnologia de alta qualidade e autonomia para realizar a total transferência de conhecimento", afirmou. "Fizemos a promoção dos equipamentos militares franceses, propondo a comparação." Darrason lembrou que seus concorrentes também realizaram sessões de demonstração para autoridades brasileiras. "Sabemos que todos fazem as mesmas coisas."
Depois de três dias de palestras e contatos com autoridades francesas, os deputados defenderam as vantagens da parceria estratégica entre Brasil e França. "Fomos informados que, uma vez a tecnologia transferida, a França não diria como ela deve ser utilizada. Isso condiz com nossa avaliação sobre soberania", disse Temer, que confirmou ter tido sua viagem paga integralmente pelos franceses e já ter participado de reuniões com objetivos similares patrocinadas pelo governo dos Estados Unidos em Brasília. "Se (o convite da França) foi um lobby, foi muito saudável e elegante. Foi uma coisa elegantíssima."
Já José Aníbal não viu nada de propaganda no convite francês. "Não é lobby. Nós, deputados, não temos nenhum poder de decisão nesses contratos", argumentou. Ainda assim, enalteceu as virtudes do pacote de venda do Rafale. "Tivemos a oportunidade de reafirmar a proposta de transferência de tecnologia. O chefe do Estado-Maior garantiu até a transferência do código-fonte do Rafale, a informação mais importante de todo o projeto."
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Interatividade
Viagens como a que os deputados federais fizeram, custeada pelo governo francês, podem ser consideradas antiéticas?
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