Uma casa com três quartos, quatro salas, sauna, lareira e piscina, num condomínio fechado em Mauá, Grande São Paulo. O preço era R$ 600 mil. A oferta atraiu o empresário Douglas Martins do Prado e a família. "Nós fomos procurar uma casa num condomínio fechado por questão de segurança", diz Prado.
Ele perdeu a casa, a segurança e foi vítima de um golpe que tem conexões com a quadrilha que domina os presídios de São Paulo. A casa pertencia ao comerciante Gildásio Siqueira Santos.
Prado ofereceu como pagamento um imóvel sob inventário, um carro e mais R$ 285 mil em cheques pré-datados e dinheiro. Santos pediu que a entrada e os cheques fossem depositados em contas de terceiros. Esses terceiros eram um posto de gasolina, uma empresa de celular e uma pessoa física.
Seis meses depois, o negócio terminou em briga na Justiça. Para a surpresa de Prado, Santos pediu a casa de volta, alegando que faltavam R$ 515 mil do pagamento. Dinheiro que Prado garante ter pago. "Eu vou limpar o meu nome", diz ele. "Eu não tenho um cheque devolvido. Eu não tenho uma conta atrasada. Nada", afirma.
No dia 29 de junho do ano passado, a Justiça decidiu que o empresário, a mulher e os três filhos deveriam ser despejados. Prado conta que durante a mudança, Santos mandava recados ameaçadores pelo advogado. "E aí, eles estão chorando, eles estão desesperados? Ele vai ver o que vai acontecer com ele a partir de segunda-feira".
Descrente da Justiça, ele fez uma investigação por conta própria, que levou um ano e custou mais de um milhão de reais. Ele descobriu que Santos era dono de vinte e dois postos de gasolina na região e atuava na lavagem de dinheiro da quadrilha que provocou os ataques a São Paulo, no ano passado.
"O Douglas foi uma fonte importante de provas para a gente apurar e identificar essa organização criminosa", conta o promotor de Justiça, Roberto Wider Filho. Segundo o Ministério Público, Santos é ligado a Wilson Roberto Cuba, o "Rabugento", preso em Presidente Venceslau, a quem devia R$ 1,2 milhão.
As investigações confirmaram que Santos agiu de caso pensado. Ele alegava que o pagamento estava incompleto porque pegava os depósitos de Prado e repassava para a conta de terceiros. Depois, dizia que não havia recebido nada. A casa que Prado havia comprado já foi vendida por Santos, que sumiu.
Escutas telefônicas mostraram a boa relação da quadrilha com magistrados, o que garantia decisões favoráveis ao grupo, como a que despejou Prado de sua casa. O empresário chegou a procurar a juíza que devolveu o imóvel a Santos para provar que tinha quitado a casa e mostrou à ela os comprovantes dos depósitos. Em vão. "Tudo o que foi escrito na minha defesa, na contestação, ela simplesmente desconsiderou", afirma Prado.
Em um dos grampos, amigos de Santos mostram intimidade com magistrados de Mauá. Um deles, o comerciante Sidnei Garcia, denunciado pelo Ministério Público como sócio e laranja de Santos, tinha um jeito carinhoso de conversar com outra juíza, chamada Ida Inês Del Cid.
Sidnei: My love ( meu amor)?Ida: Oi, amore (amor)"
Em outra ligação, mais afeto:Ida: Palhaço, por que você não liga mais? Trouxa.Sidnei: Eu ligo, my love, eu ligo. É porque eu estou correndo.
Ao saber dos grampos, Sidnei se defendeu. "Tudo não passa de brincadeira. Ela é uma pessoa séria. O Douglas devia cobrar na Justiça os direitos dele, e não da imprensa".
Douglas entrou com uma representação no Tribunal de Justiça contra a juíza Maria Eugênia Pires, alegando que foi prejudicado intencionalmente no processo. Também pediu o afastamento do cargo de Inês, por suposta conduta em desacordo com sua função. As juízas não foram encontradas para comentar as acusações.
Lula vai trabalhar crise dos deportados internamente sem afrontar Trump
Delação de Mauro Cid coloca Michelle e Eduardo Bolsonaro na mira de Alexandre de Moraes
Crise do Pix, alta de alimentos e Pé-de-Meia mostram que desconfiança supera marketing de Lula
Tiro no “Pé-de-Meia”: programa pode levar ao impeachment de Lula; ouça o podcast