Agentes do Gaeco na deflagração da 2ª fase da Publicano: delator diz que algumas empresas eram “intocáveis” pela Receita.| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

A segunda fase da Operação Publicano, deflagrada na quarta-feira (10) pelo Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), mostrou que somente em um ano R$ 38,4 milhões em propinas foram arrecadados pelos auditores da Receita Estadual do Paraná. Foi dinheiro que saiu do caixa de empresas que viravam alvo do Fisco – muitas delas achacadas pelos auditores. Mas um grupo de empresários, conhecido como “colônia árabe” de Londrina, era blindado. Além de não contribuírem para o esquema, não enfrentavam a fiscalização padrão da Receita.

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Os detalhes de como funcionava o esquema que supostamente privilegiava parte dos empresários constam da delação premiada do auditor fiscal Luiz Antônio de Souza, que está preso. “O Márcio [de Albuquerque Lima, ex-inspetor geral de fiscalização da Receita] dizia expressamente que com essas empresas não podia mexer”, disse em depoimento. “Não mexe com os turcos. Não mexe com os primos”, teria dito Lima, segundo a delação. O ex-inspetor geral era um dos cabeças do esquema, segundo o Gaeco.

O delator revela também que Lima atendia ordens diretas de Luiz Abi Antoun, apontado pelos investigadores como o “verdadeiro gestor” da Receita, e que tem ascendência árabe. Abi, primo distante do governador Beto Richa (PSDB), teria ordenado, por exemplo, “que as empresas da Rua Sergipe [em Londrina] que pertencem a árabes” não poderiam ser fiscalizadas.

O atual delegado da regional da Receita em Londrina, Marcelo Muller Melle, confirmou a existência de um grupo de empresários “intocáveis” pela fiscalização. “Nós observamos, na análise de empresas irregulares, que não era só um esquema de venda de créditos. A fiscalização era exceção. Essas empresas não eram fiscalizadas”, afirma.

Beneficiados

Uma das empresas blindadas, segundo as investigações do Gaeco, seria a Metronorte. O presidente do grupo Metronorte, Assaad Nabhan, não foi encontrado pela reportagem. Mas o diretor comercial da empresa, Waldir Rezende, confirmou que as concessionárias do grupo não sofrem fiscalização da Receita, mas explicou que não se trata de um benefício ilegal. “Não existe fiscalização porque o ICMS de carros e peças novas é substitutivo, é recolhido na fonte.” Segundo a controller do grupo, Linda Antunes, alguns “questionamentos” por parte da Receita Estadual costumam ser feitos. “Sempre respondemos e cumprimos todas as obrigações.”

Na delação de Souza, a empresa de Elie Youssef Hakme também é citada como uma das que não teria sido alvo da Receita por pelo menos quatro anos. Hakme (na transcrição oficial do Gaeco, o nome foi grafado como Eli Hackman) é proprietário da Vest Hakme, indústria de roupas. A reportagem não conseguiu contato com o empresário.

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Outro empresário que teria proteção dos auditores é Rachid Zabian, que fechou nos últimos dois anos os dois estabelecimentos comerciais que tinha em Londrina. Ele nega ter sido poupado da fiscalização. “Eu sempre fui fiscalizado normalmente. Tivemos fiscalização no ano passado, ano retrasado. Fico até surpreso de alguém dizer que eu não era fiscalizado. Não teve empresa mais fiscalizada que as minhas.” Também aparece no documento do Gaeco, como supostamente beneficiado, o “grupo Khouri”, cujas empresas não foram identificadas. A reportagem não conseguiu contato com os advogados de defesa de Luiz Abi e de Lima.