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Arthur Lula é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. | Luis Macedp/Câmara dos Deputados
Arthur Lula é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.| Foto: Luis Macedp/Câmara dos Deputados

Dois empresários ouvidos na investigação da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República sobre o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) e o pai dele, o senador Benedito de Lira (PP-AL), afirmaram que o doleiro Alberto Youssef pagou pelo menos R$ 200 mil de uma dívida mantida por Arthur com um deles.

Em depoimento, Arthur Lira reconheceu o empréstimo, mas alegou que o destinatário final do dinheiro não era ele, mas o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) – preso na Operação Lava Jato –, que também teria sido responsável por obter o dinheiro para quitar o valor.

Os depoimentos dos empresários confirmam trechos das delações premiadas feitas por Youssef e pelo ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa na Lava Jato. Ambos disseram que os Lira haviam sido beneficiados pelo esquema de corrupção e desvios na estatal.

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A Polícia Federal indiciou o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara – um dos mais importantes colegiados da Casa – e o pai dele, o senador Benedito de Lira (PP-AL), por suspeita de prática do crime de corrupção passiva em um dos inquéritos da Operação Lava Jato.

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Arthur Lira, 46 anos, agropecuarista e advogado, é o atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, uma das mais influentes da Casa, por onde passam todos os projetos de lei. Benedito, 73 anos, é membro titular de sete comissões do Senado.

Os empresários também confirmaram ter emprestado, juntos, um total de R$ 859 mil ao empresário João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho para serem usados na compra do jatinho cuja queda matou, durante a campanha presidencial de 2014, o candidato e ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB-PE).

Triangulação

De acordo com os documentos que integram o inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) como desdobramento da Lava Jato, os empresários Paulo Cesar de Barros Morato, da Câmara e Vasconcelos Locação e Terraplanagem, e Eduardo Freire Bezerra Leite, conhecido como “Ventola”, que tem duas firmas de gestão de bens, disseram que um empréstimo de Arthur Lira foi quitado entre 2010 e 2011 por duas transferências determinadas pelo doleiro.

Foi um negócio triangulado, segundo os empresários: Morato pediu emprestados R$ 300 mil a Leite sob alegação de que pretendia alavancar obras em três projetos de sua empreiteira; Leite disse que poderia fornecer apenas R$ 200 mil. Dias depois, Morato recebeu nas contas de sua empresa transferências da MO Consultoria e da Empreiteira Rigidez, ambas controladas por Youssef.

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Segundo Morato, após ver pela imprensa os nomes da MO e da Rigidez como envolvidos no escândalo dos desvios de recursos da Petrobras, ele procurou Leite para saber o que fazer. Leite “disse que havia emprestado R$ 200 mil a Arthur Lira e que o deputado havia depositado o dinheiro na conta do declarante [Morato]”, diz a documentação.

Em depoimento, Leite confirmou o relato e disse que Arthur Lira, em 2010, lhe pediu emprestados R$ 200 mil. O empresário afirmou que retirou o dinheiro do caixa de sua empresa e o entregou em espécie a Lira -embora, reconheceu, o deputado não tivesse pedido que a entrega ocorresse dessa forma. Meses depois, Lira pagou o empréstimo a Leite por meio do depósito para Morato, com o dinheiro das empresas de Youssef.

Tanto Morato quanto Leite alegaram que não sabiam a origem do dinheiro. Sobre os empréstimos para a compra do avião de João Carlos Lyra, ambos disseram que o empresário lhes disse que pretendia montar uma empresa de táxi aéreo. Leite emprestou R$ 720 mil e Morato, 159 mil.

As ligações entre Leite e Arthur Lira são estreitas e chamaram a atenção da PF, que fez várias perguntas sobre esse vínculo. O empresário reconheceu ser amigo de Lira ao menos desde 2007 e contou que o deputado arrenda uma fazenda de sua propriedade, de 300 hectares, denominada Estrela e localizada em Quipapá (AL).

Leite reconheceu que já foi ouvido pela PF em outro inquérito, sobre evasão de divisas, “mas não foi indiciado”, e que foi alvo de outros dois inquéritos -um sobre a venda de uma lancha e outro sobre “créditos tributários” de “uma empresa que não era sua”, mas nunca foi preso nem processado.

Lira

Também ouvido em depoimento pela PF, Arthur Lira afirmou que conheceu Youssef por volta de 2010, por intermédio de políticos do PP, que o apresentaram como alguém responsável por angariar e repassar doações para campanhas eleitorais “de forma oficial” a candidatos do partido.

Lira afirmou que a campanha eleitoral de seu pai, Benedito, em 2010 recebeu duas doações da Constran, controlada pelo empresário Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC Engenharia, no valor total de R$ 400 mil.

Sobre o empréstimo de R$ 200 mil, Lira disse que procurou Eduardo Leite para pedir o dinheiro em benefício de Pedro Corrêa. Segundo Lira, o dinheiro foi recebido por um “emissário” de Corrêa que, meses depois, cuidou de quitar o empréstimo. Lira disse que não sabia a origem dos recursos. Arthur Lira e Benedito Lira negaram envolvimento com o esquema de desvio de recursos e propina na Petrobras.

A PF apresentou nesta semana ao STF o relatório final da investigação. O relator do inquérito, o ministro Teori Zavascki, deverá encaminhar o inquérito à PGR, que decidirá se apresenta ou não uma denúncia. A PF pediu também a suspensão das atividades funcionais dos Lira na Câmara e no Senado.

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