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As enchentes das últimas semanas aumentam o risco de leptospirose na capital paulista. E o número de pessoas mortas pela doença, transmitida unicamente por contato com urina de rato, já é maior do que o registrado em 2005. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, 35 pessoas morreram vítimas de leptospirose na capital paulista até novembro (dados até o dia 25). Em todo o ano passado, foram 30 óbitos. Os casos costumam aumentar no verão, por conta das enchentes provocadas pelos temporais e o maior contato das pessoas com as águas contaminadas. Foram registrados neste ano 225 casos da doença e em 2005, 263.

- Há casos de leptospirose todos os meses, mas o número aumenta bastante no verão. Com as chuvas, o contato das pessoas com a bactéria aumenta e os casos crescem bastante. Apesar de ter subido este ano, o índice de mortos está dentro do aceitável pelo Ministério da Saúde - disse Maria das Graças Soares dos Santos, coordenadora do programa de roedores do município de São Paulo.

A bactéria, altamente contagiosa, vive no rim do rato, que a elimina pela urina. Como o rato sempre faz xixi no córrego, a urina se espalha, junto com a bactéria, em uma enchente. Maria das Graças explica que a bactéria pode ser transmitida até mesmo na hora de limpar a sujeira e a lama deixadas pela enchente.

O conselho deve ser seguido à risca: as pessoas que tiveram as suas casas alagadas devem usar botas de cano alto, luvas ou sacos plásticos duplos na hora de fazer a limpeza. Maria das Graças afirma que os moradores devem deixar suas casas o mais rápido possível para evitar qualquer contato com a água suja. E isto é o que menos acontece. Na maioria das cenas exibidas pela mídia, as pessoas ficam no meio da água suja e da lama, sem qualquer proteção pessoal, para tentar salvar o que resta de seus pertences ou, simplesmente, tirar o barro de dentro de casa.

- Quanto mais tempo de exposição na água, maiores são as chances de contaminação - alerta a especialista.

Existem no mundo mais de 200 tipos de bactérias que transmitem a leptospirose. Isto não quer dizer que todas estão em São Paulo, mas há bactérias na cidade que podem levar uma pessoa à morte. Maria das Graças explicou que existem bactérias que "passam por portas pequenas" no corpo de uma pessoa. Às vezes, não é preciso nem mesmo uma ferida para a entrada de uma bactéria no corpo. Elas podem entrar por um corte pequeno, mas também pela "mucosa da boca, do nariz e do ânus". Daí, o perigo de ficar dentro da água, ainda que seja até a barriga.

- Também tem gente que pega leptospirose ao enfiar as mãos nos ralos para desentupí-los ou na hora de limpar uma boca-de-lobo em frente de casa. Todo o cuidado é pouco para evitar a doença, que tem um período longo de incubação, de até 30 dias. Febre e dor de cabeça são sintomas da doença - disse.

Não existe vacina contra leptospirose humana. Por outro lado, a reprodução dos ratos é rápida. Um rato vira adulto depois de 2 a 3 meses de nascido e está pronto para dar cria a cada 21 dias. Em cada gestão nascem de 8 a 12 filhotes e a fêmea já volta a estar no cio logo após o parto. Como todo mamífero, o rato come e bebe para se alimentar. E não adianta achar que ele gosta de comida estragada. Os ratos, segundo Maria das Graças, escolhem o seu alimento pelo bom estado, apesar de estarem sempre vasculhando coisas no lixo. Adoram rações de cachorro, de passarinho e um abrigo acolhedor, úmido.

- Eles deixam os esgotos das ruas e vão para as casas à procura de comida. Os ratos não perdem muito tempo saindo e voltando para os esgotos. Se encontram um bom lugar, ficam por lá mesmo. Por isso, a necessidade de não armazenar comida e deixar sempre os lixos bem fechados.

Os ratos estão espalhados por toda a cidade, mas os casos de leptospirose coincidem com os locais mais propícios às enchentes. Na capital, os mais infestados de ratos são as zonas sul, principalmente no Campo Limpo, Parelheiros, Cidade Ademar, Socorro, M'Boi Mirim, e leste (a maior parte dos bairros). Não há problemas, por exemplo, na Vila Mariana ou em Pinheiros, regiões que sofrem menos com os alagamentos. A especialista disse que a prefeitura tem um trabalho constante de desratização, que é intensificado no verão. O ciclo completo de tratamento dura um mês, com aplicações de raticidas a cada 10 dias.

- A leptospirose não é uma doença leve. Ela é infecciosa, aguda, muito grave. Na maior parte dos casos, a pessoa é levada para um tratamento hospitalar e acaba sendo internada - disse Maria das Graças.

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