O juiz federal Sergio Moro decidiu quebrar o silêncio e dar a primeira entrevista à imprensa desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada, em março de 2014. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada neste final de semana, o magistrado partiu para a defesa política da Lava Jato e atacou algumas iniciativas do Congresso que podem refletir na operação e dificultar o combate à corrupção no país. Para um analista ouvido pela Gazeta do Povo, a motivação está clara: o juiz quer defender a Lava Jato na esfera política diante do que entende ser uma ameaça à operação.
Desde que a operação foi deflagrada, Moro nunca tinha atendido a solicitações de entrevistas feitas pela imprensa. O magistrado se manifestava apenas nos processos e, vez ou outra, dava algum “recado” durante palestras ministradas sobre corrupção e lavagem de dinheiro.
Na entrevista concedida ao Estadão, Moro defendeu o fim do foro privilegiado e o projeto das 10 Medidas Contra a Corrupção proposto pelo Ministério Público Federal. O magistrado também criticou o projeto de lei de abuso de autoridade e a tentativa de anistia ao caixa dois, em discussão no Congresso. Além disso, defendeu a Lava Jato, a legalidade das prisões e os acordos de colaboração premiada firmados até agora. O juiz também aproveitou para cobrar “iniciativas significativas” dos “outros poderes” para o enfrentamento à corrupção.
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Para o cientista político Marcio Coimbra, a entrevista de Moro é um sinal de que a Lava Jato está saindo da esfera jurídica para fazer sua defesa também na esfera política. Para ele, o juiz tenta combater iniciativas contrárias ao combate à corrupção em discussão no Congresso. “Isso gerou uma necessidade da força-tarefa mostrar um pouco do seu trabalho e mostrar que o que está sendo feito são coisas muito importantes para o Brasil”, diz. Para Coimbra, é importante tirar a operação dos bastidores. “Desdobramentos políticos exigem medidas políticas”, explica.
Em suas palestras, Moro tem repetido sistematicamente uma comparação da Operação Lava Jato com a operação italiana Mãos Limpas. Na Itália, segundo o juiz, a operação acabou abafada por iniciativas do Parlamento para blindar os políticos e dificultar investigações de casos de corrupção.
Ao falar pela primeira vez desde o início da Lava Jato, Moro tenta evitar que o mesmo aconteça no Brasil. Já há iniciativas em Brasília para tentar frear os efeitos da Lava Jato, como a anistia ao caixa dois eleitoral, o novo marco para acordos de leniência, o projeto de lei de abuso de autoridade, e a exigência de que acordos de colaboração premiada só possam ser firmados com investigados soltos, por exemplo. Propostas como essas são acompanhadas de pressão por parte de parlamentares e figuras do setor privado que podem ser atingidas pela Lava Jato ou por seus “filhotes” espalhados pelo país.
Batalha da comunicação
Para Coimbra, a entrevista de Moro pode ter sido um contraponto a pressões no Congresso para aprovação dessas medidas. “A batalha da Lava Jato é uma batalha de comunicação”, diz Coimbra. “A gente aprende com os erros e ele [Sergio Moro] viu os erros das operações como a Farol da Colina, Castelo de Areia, Banestado, e não cometeu os mesmos erros na Lava Jato. Da mesma forma, a gente vê o que aconteceu com a Mãos Limpas e tenta evitar que esses erros se repitam”, analisa o cientista político.
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