Contradição
Planalto teme impacto eleitoral, mas PT defende novo julgamento
Das agências
A possibilidade de o julgamento do mensalão continuar no ano que vem deixa apreensivos setores do governo e do PT. Interlocutores da presidente Dilma Rousseff temem o impacto imprevisível na campanha de reeleição em 2014, com a possibilidade de haver prisões de petistas durante a campanha. No PT, há o mesmo receio. Ainda assim, o partido defende o novo julgamento por entender que seus ex-dirigentes estão sendo injustiçados.
Revelado há oito anos, o escândalo do mensalão caminha para ser peça-chave do debate político pela terceira disputa presidencial seguida. Apesar de não ter sido suficiente para inviabilizar a continuidade do PT do Palácio do Planalto em 2006 e 2010, o caso continua provocando desconforto às campanhas petistas. Em 2014, ele pode ganhar força com o provável retorno das manifestações durante a Copa do Mundo.
A sobrevida do mensalão como ingrediente eleitoral depende da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a realização de novos julgamentos para 12 dos 25 réus condenados pelo mensalão. O julgamento está empatado em cinco votos a cinco e, na próxima quarta-feira, o ministro Celso de Mello dará o parecer decisivo ele sinalizou que deve votar a favor dos condenados.
A expectativa é que a decisão adie o desfecho do processo pelo menos até as vésperas das eleições de 2014. Entre os potenciais beneficiados com o novo julgamento, estão o ex-ministro José Dirceu e os deputados federais João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP).
Fator de voto
"O mensalão pode não estar entre os principais fatores de decisão de voto, mas politicamente é sempre um transtorno para o PT", avalia o diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. Se o julgamento prosseguir no ano que vem, segundo ele, o assunto vai ganhar novos contornos. "Não vai ser apenas uma discussão sobre corrupção. Entra no jogo a questão da impunidade, combinada com aquela sensação de descontentamento que se viu nos protestos de junho."
Coordenadora do Movimento Brasil Contra a Corrupção, a professora Cláudia Cunha diz que as manifestações podem ter perdido força nas ruas ao longo das últimas semanas, mas não na internet. "Se essa pizza estiver realmente encomendada, pode acreditar que teremos uma reação bem mais drástica a caminho. A sensação que eu tenho é que estão abusando demais da índole pacífica dos brasileiros", afirma Cláudia.
Estratégia
Desde 2006, quando Lula disputou a reeleição sob o efeito mais forte do mensalão, o PT tem aprimorado estratégias para amenizar os efeitos do caso. Naquele ano, o presidente investiu na ideia do "Eu não sabia" e quase ganhou no primeiro turno. A vitória antecipada, contudo, não foi prejudicada pelo mensalão, mas pelo escândalo dos "aloprados", que envolveu militantes petistas acusados de comprar um dossiê contra o então candidato a governador de São Paulo José Serra (PSDB).
Em 2010, Dilma conseguiu isolar-se do mensalão cercando-se de aliados que passaram longe do escândalo. Também esteve perto de se eleger no primeiro turno, até que foi atingida pela queda da ministra Erenice Guerra, cujo filho foi acusado de tráfico de influência no Palácio do Planalto.
Em 2012, com o início do julgamento do mensalão no STF, o escândalo chegou até as campanhas municipais. As candidaturas a prefeito de Fernando Haddad (PT), em São Paulo, e Gustavo Fruet (PDT), em Curitiba, foram atacadas por adversários. Segundo pesquisas Datafolha realizadas na época, no entanto, 81% dos paulistanos e 66% dos curitibanos disseram que o mensalão não afetava a decisão de voto.
Cientista político da Universidade de Brasília, Antonio Flávio Testa diz haver um desgaste no uso político do mensalão. Além disso, ele prevê que a possível entrada na pauta do STF da ação penal sobre o mensalão mineiro, que envolve o PSDB, pode amenizar os problemas dos petistas. "Se os dois casos estiverem sendo tratados ao mesmo tempo, o eleitor mais uma vez vai nivelar governo e oposição da mesma forma."
Deixe sua opinião