Foi o mensalão que possibilitou que Dilma Rousseff, hoje em conflito com o PT por causa do ajuste fiscal, fosse escolhida para suceder Lula. Com amplo controle da máquina partidária, o ex-ministro José Dirceu era o aspirante natural à sucessão de Lula no partido – embora o ex-presidente, à época, desse sinais, segundo petistas, de que o seu preferido era o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
De acordo com um dirigente do PT, Lula mantinha certo “cuidado” na relação com Dirceu, evitando que seu poder crescesse muito. O suposto plano de Lula, porém, cairia por terra no ano seguinte, quando Palocci foi acusado da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, que o havia acusado de frequentar uma casa de lobby em Brasília. “Surgiu mais uma janela de oportunidade para Lula, que passou a poder decidir o que bem entendesse sobre a sua sucessão. Dilma passou a ocupar um espaço como técnica sem expressão política, seja no PT ou na sociedade. Isso dava a Lula a tranquilidade de que poderia controlar Dilma como presidente da República”, analisa o cientista político Carlos Melo.
O ex-governador gaúcho Tarso Genro (PT) entende que a escolha de Dilma solucionou um conflito interno do partido diante da falta de um nome de consenso: “O partido estava em crise, em meio a uma disputa entre as correntes. O presidente teve a capacidade de pacificar o partido naquele momento escolhendo a companheira Dilma, porque ela não era vinculada a nenhuma das correntes. Portanto, pacificava o conflito”. Tarso avalia, porém, que as consequências da escolha de um pessoa desvinculada da vida partidária estão sendo vividas ainda hoje nos conflitos que o PT tem com o Planalto.