Escrever as próprias memórias tem sido a principal atividade do ex-ministro José dirceu para preencher o tempo livre no Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Dirceu escreve as memórias de cabeça, à mão, na cela. Considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o petista, que deve cumprir 20 anos e 10 meses de reclusão, não é o único envolvido em escândalos políticos que pretende lançar livro de sua experiência no cárcere.
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que atualmente cumpre prisão domiciliar, já tem dez capítulos escritos do livro em que pretende passar a sua versão da Operação Lava Jato. Ele reuniu todos os depoimentos que prestou à Justiça para basear sua autobiografia. E o empreiteiro Marcelo Odebrecht escreve um diário, mas ainda não deu indícios de que pretende transformá-lo em livro.
Outro que também pode lançar a sua versão dos fatos é o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB). No caso do deputado cassado, detido na sede da Polícia Federal (PF), a história a ser narrada deve ser a do impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Enquanto não mostra a sua visão da queda de Dilma, Cunha se dedica na cela quase que integralmente a estudar os próprios processos em que é réu. E não só das acusações da Lava Jato. O ex-presidente do Congresso passa os dias estudando todos os processos em que é citado, com atenção especial às delações em que seu nome é apontado.
Além dos processos, Cunha se dedica também a se manter sempre atualizado das notícias políticas. Lê diariamente jornais e revistas, bem como acompanha os noticiários da televisão.
Refúgio na Bíblia
A religião também tem sido a válvula de escape de alguns presos da Lava Jato. O ex-tesoureiro do PP João Claudio Genu, condenado em primeira instância no início de dezembro a oito anos e oito meses de prisão. Acusado de pagar propina de R$ 3,1 milhões em contratos indevidos da Petrobras, Genu é um dos que mais reza na carceragem da PF em Curitiba. Além de ler a Bíblia, costuma participar de cultos com outros presos religiosos.
Amizade
Liberado em novembro para cumprir os quatro últimos meses de pena no regime domiciliar com tornozeleira eletrônica, o doleiro Alberto Youssef não tinha uma atividade específica para passar o tempo na prisão. Nos dois anos e quatro meses em que ficou detido na PF em Curitiba, o doleiro chegou a receber dois livros da equipe de seu defensor, o advogado Antonio Figueiredo Basto. Ambos eram de literatura.
Fora isso, Bastos afirma que a principal forma de Youssef passar o tempo na cadeia era a conversa com os outros detentos. “Ele estreitou amizades com muitos outros presos na Polícia Federal. E esse laço que se cria na carceragem ajuda muito no aspecto psicológico”, enfatiza Basto.
Detido na primeira fase da Lava Jato, em 2014, Youssef foi o terceiro réu a firmar acordo de delação premiada. O que o transformou numa espécie de conselheiro para os outros detidos da operação.
Sobre o apoio psicológico que prestava a seu cliente, Basto diz que se limitava a tentar transmitir tranquilidade a Youssef em relação ao andamento dos processos. “A gente acaba cumprindo esse papel um pouco terapêutico de levar uma posição de esperança ao cliente”, aponta Basto.
Ele [Youssef] estreitou amizades com muitos outros presos na Polícia Federal. E esse laço que se cria na carceragem ajuda muito no aspecto psicológico.
Antonio Figueiredo Basto, advogado defensor do doleiro Alberto Youssef.
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