Confira reportagem da RPCTV com a descoberta dos diários avulsos da Assembleia Legislativa
- RPCTV
Na parede da sala do setor de arquivo da Assembleia Legislativa do Paraná está afixado um aviso informando aos visitantes que somente com autorização do diretor-geral, Abib Miguel, é possível consultar os diários oficiais da Casa. O motivo para o excesso de zelo quem explica é o chefe de expediente e arquivo da Assembleia, Walter Kraft. Sem saber que estava sendo gravado, ele revelou a metodologia adotada pela direção do Legislativo para evitar que a imprensa e a sociedade cheguem até os documentos.
"Se a imprensa for na biblioteca, pode ter acesso a algumas coisas. Então pode ser que esconderam [parte dos diários] com a desculpa de que ia encadernar (sic)", disse Kraft. Ele ainda reconhece ironicamente a obscuridade da Assembleia. "Eu acho que a ditadura foi mais transparente." Desde 2008, a encadernação dos diários é justificativa para a direção da Casa não apresentá-los à imprensa. Ao circular pelas dependências da Assembleia, a reportagem observou que nem mesmo o setor de arquivo da Casa armazena todos os diários publicados. Faltam algumas edições numeradas e muitas avulsas.
Funcionários do setor, que foram ouvidos sem saber que estavam sendo gravados, contaram que nem todos os diários são enviados para arquivamento. "Há ordens superiores para não passar [os diários] para nós e para outros setores", conta um deles. Servidores disseram que é intencional o fato do setor ainda não ser informatizado. E que há uma espécie de oficina em um barracão com acesso restrito, onde muitos documentos ficam guardados.
A reportagem ontem procurou Kraft na Assembleia para que ele, oficialmente, explicasse suas declarações. Mas o chefe do arquivo não foi encontrado. Ele também foi procurado por telefone, mas o número que consta da lista telefônica em seu nome está inativo.
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Confira trechos da conversa com o chefe do arquivo da Assembleia, Walter Kraft
Por que nem todos os diários vão para o arquivo da Casa?
É uma incógnita. Publicam um que fica para eles. Se um dia acontecer alguma coisa, dizem: "Eu tenho aqui, não sei por que os outros não têm". Mas se, de repente, eles são obrigados a publicar uma coisa, mas não querem que os outros tenham acesso, então eles fazem ali dez [exemplares]. Dez fica para alguns, em mãos seguras. Os outros não têm acesso. Eu acho que a ditadura foi mais transparente do que é hoje.
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Investigação de dois anos
A Gazeta do Povo publica, a partir de hoje, uma série de reportagens especiais sobre o que aconteceu na Assembleia Legislativa do Paraná nos últimos dez anos.