Assembleia diz que responsabilidade é de servidor morto
A diretoria de comunicação da Assembleia responsabilizou a diretoria de pessoal pela concessão de férias de quase dois anos para duas funcionárias entre 2004 e 2005. Na época, o diretor de pessoal da Casa era Luiz Molinari, que morreu em 2005.
Duas funcionárias comissionadas da Assembleia Legislativa do Paraná (AL) tiraram férias remuneradas por quase dois anos ininterruptos, entre 2004 e 2005. Documentos obtidos com exclusividade pela Gazeta do Povo e pela RPCTV revelam que a Assembleia pagou R$ 5,8 mil por mês, referentes ao abono de férias, para Mariles Prevedelo e para a filha dela, Gina Prevedelo Pequeno. Ao todo as duas receberam R$ 250 mil só de abono nos anos de 2004 e 2005.
Mariles também recebeu, no extenso período de férias, salários de R$ 17,5 mil mensais e Gina, de R$ 17,4 mil além do abono (referente a um terço dos vencimentos). Somando férias, salários e 13.º, a Assembleia depositou cerca de R$ 1,1 milhão na conta bancária de Mariles e de Gina nesses dois anos.
A ficha funcional de Mariles, a que a reportagem teve acesso, diz que ela trabalhava no período no gabinete da administração, que era chefiado por José Ary Nassiff que está preso sob a acusação de formação de quadrilha e desvio de dinheiro da Assembleia, entre outros crimes. O caso de Gina é mais estranho ainda. Pela ficha funcional dela, a servidora foi contratada apenas em outubro de 2007 para um cargo em comissão da 1.ª secretaria três anos, portanto, após começar a gozar férias. Atualmente, a 1.ª secretaria é de responsabilidade do deputado Alexandre Curi (PMDB); em 2004 e 2005, o primeiro secretário era Nereu Moura (PMDB).
Sem respostas
Os promotores do Ministério Público Estadual (MP) que investigam a Assembleia identificaram esses repasses e encaminharam ao presidente da Casa, deputado Nelson Justus (DEM), o Ofício 0506/2010, datado do último dia 20 de abril, pedindo explicações. Até ontem, Justus ainda não havia explicado como as funcionárias tiraram férias remuneradas por quase dois anos sem interrupção.
Na última segunda-feira, Justus havia criticado o MP ao classificar a operação de busca e apreensão de documentos realizada pelo Ministério Público na sede da Assembleia, no sábado passado, como uma "invasão". O deputado disse que não havia motivo para a ação já que a Assembleia estava respondendo "a todos os ofícios encaminhados pelo MP", num gesto de auxílio às investigações em curso. A falta de respostas ao ofício desmente Justus.
Moradora de Camboriú
Mariles Prevedelo e Gina Prevedelo Pequeno são duas funcionárias fantasmas da Assembleia que nem sequer moram no Paraná. A Gazeta do Povo e a RPCTV localizaram mãe e filha em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, a mais de 300 quilômetros de distância da sede do Legislativo paranaense. Sem saber que estavam sendo gravadas, elas admitiram que moram na cidade catarinense há pelo menos seis anos. Mesmo assim, as duas figuravam na folha de pagamento da Assembleia, como servidoras comissionadas recebendo salários. Mariles inclusive consta da lista oficial de servidores da Assembleia divulgada por Justus em março do ano passado. Gina não está nesta relação, embora tenha recebido salários em anos anteriores.
A série de reportagens "Diários Secretos", da Gazeta do Povo e da RPCTV, iniciada em 15 de março, mostrou que Mariles e Gina fazem parte de uma grande rede de funcionários laranjas e fantasmas que foi montada por Abib Miguel, o Bibinho, ex-diretor-geral da Assembleia.
Mariles é ex-mulher de Douglas Bastos Pequeno, contador da fazenda de Bibinho na cidade de São João D Aliança, em Goiás. Em Balneário Camboriú, a reportagem encontrou, além de Mariles e Gina, Lorete Prevedelo (filha de Mariles e irmã de Gina) e Thiago Kury (neto de Bastos Pequeno). Todos já tiveram cargos no Legislativo, mas admitiram nunca ter prestado expediente na Assembleia.
Investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao MP, concluiu que Bibinho era o chefe de uma quadrilha montada dentro da Assembleia para desviar dinheiro público por meio de servidores fantasmas e laranjas. O ex-diretor-geral da Casa está preso.
Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.