Justus ataca RPC e Legislativo explica saltos na numeração e edição de avulsos
O presidente da Assembleia, Nelson Justus (DEM), fez ontem o ataque mais incisivo à imprensa desde o início das denúncias que atingem a Casa, que deflagraram a maior crise institucional do Legislativo estadual.
A Assembleia Legislativa do Paraná manteve a prática de não divulgar parte de seus atos oficiais, três meses após o início da publicação da série de reportagens "Diários Secretos", da Gazeta do Povo e da RPC TV, iniciada em 15 de março. Dos 2.196 atos oficiais assinados nos últimos três meses pela comissão executiva do Legislativo, 207 não constam dos diários oficiais. A comissão executiva é formada pelo presidente da Casa, Nelson Justus (DEM), e pelo primeiro-secretário, Alexandre Curi (PMDB).
A descoberta dos 207 atos é resultado de um levantamento da reportagem feito com base em todos os diários publicados pela Assembleia em 2010. Os atos divulgados nesses diários são numerados. Mas a lista tem saltos de números. Ou seja, algumas decisões não aparecem prática conhecida como "atos secretos" (veja infográfico).
O levantamento ainda mostra que o Legislativo continua a publicar atos muito tempo depois de serem assinados. Em algumas situações, a diferença é de semanas, mas há casos em que o período entre a assinatura do ato oficial e a publicação dele é de mais de um mês.
Em março, a Gazeta do Povo e a RPC TV mostraram, com base em um levantamento elaborado a partir de todos os diários oficiais da Assembleia publicados de 2006 a março de 2009, que o Legislativo estadual omitiu 2.178 atos no período. São decisões oficiais que nunca foram publicados em nenhum diário oficial numerado ou que estão em diários avulsos sem que a população possa ter acesso ao seu conteúdo, o que dificulta a fiscalização dos atos da Assembleia pela sociedade.
Avulsos mantidos
O levantamento ainda revela que a Assembleia manteve a edição de diários avulsos, não numerados. Desde o dia 31 de maio, quando começou a divulgar seus diários oficiais na internet, o Legislativo estadual disponibilizou 12 edições. Três delas não receberam número ou seja, são avulsas.
Os diários avulsos publicados no período não trazem informações sobre atos administrativos, como gastos públicos ou movimentação funcional (demissões e contratações de servidores). As três edições são republicações de propostas de emendas constitucionais (PECs) apresentados pelos deputados estaduais.
O Ministério Público Estadual (MP) já havia pedido na Justiça que a Assembleia não voltasse a publicar diários oficiais não numerados. A ação está na 3.ª Vara de Fazenda Pública desde 13 de maio.
Sem a numeração que permitiria o acompanhamento das publicações, os diários avulsos facilitariam a utilização deles como uma saída para a regularização, a qualquer tempo, de atos oficiais que deveriam ter sido publicados, por exigência legal, em uma determinada data, mas só muito tempo depois acabavam sendo publicados.
A Assembleia chegou a contestar, em meados de março, a existência de diários avulsos. Já no início de abril, o deputado Nelson Justus concordou que a existência de um diário oficial sem numeração dificulta a fiscalização e que esse seria o momento para acabar com a prática. "Isto aconteceu. Não vai acontecer mais? Não vai, porque tudo isto vai estar on-line. Acabou-se!", declarou. Ontem, ele voltou a falar do assunto garantindo que os diários avulsos que continuam a ser publicados são legais (veja reportagem abaixo).
Desvios
Segundo denúncia do MP, a criação de dificuldades de acesso da população aos diários oficiais foi o meio que integrantes da Assembleia usaram para legalizar contratações de servidores fantasmas ou laranjas, que recebiam salário sem trabalhar o que caracteriza desvio de recursos públicos.
A denúncia apontou o ex-diretor-geral da Assembleia Abib Miguel, o Bibinho, como o chefe do esquema. O Ministério Público estima que pelo menos R$ 100 milhões possam ter sido desviados da Assembleia por meio desse esquema.
Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.
Deixe sua opinião