O movimento que começou com protestos isolados de alguns partidos políticos e da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) cresceu e hoje 28 entidades representativas da sociedade civil cobram mudanças na Assembleia Legislativa do estado. Lançada há duas semanas pela OAB-PR, a campanha "O Paraná que queremos" defende o combate à corrupção e à impunidade, diante da série de denúncias que assolam o Legislativo paranaense. A iniciativa conclama a população a não deixar que os escândalos sejam colocados "para debaixo do tapete" e a trabalhar pela "valorização de um Paraná justo, honesto e à altura de todos os paranaenses".
A ideia de criar a campanha surgiu após o início da série "Diários Secretos", na qual reportagens da Gazeta do Povo e da RPC TV mostraram dezenas de irregularidades cometidas pela Assembleia. As investigações até agora mostram indícios de nove crimes cometidos na Casa: lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, peculato, falsidade ideológica, falsa identidade, formação de quadrilha, estelionato, prevaricação e gestão fraudulenta. "Hoje existem dois Paranás. Um é exemplo de riqueza e modernidade, que acorda cedo para trabalhar. Enquanto outro vive no submundo da corrupção, dos empregos fantasmas da Assembleia", diz o texto de lançamento do projeto. "Há um Paraná que exige respeito e reconhecimento da sua importância perante o país. E um Paraná que prefere ficar às sombras. Afinal, que Paraná queremos?"
Entre as entidades que apoiam o movimento está a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). O presidente da organização, Rodrigo da Rocha Loures, afirma que a Assembleia não está cumprindo o papel de órgão fiscalizador do poder público e, em vez disso, faz um "jogo de abafa, uma ação entre amigos, que apenas favorece uma aliança corporativista". Segundo ele, os deputados não têm reagido à altura da gravidade das denúncias nem têm procurado colocar em prática um movimento de autocorreção. "A campanha é boa, oportuna e necessária por promover essa mobilização social para a construção de uma grande corrente de mudança no cenário político. Ela vai na linha do anseio que já ficou muito claro do povo paranaense pela moralização dos nossos políticos", argumenta Rocha Loures. "O movimento se sustenta justamente no desconforto generalizado sentido pela população diante desses escândalos."
Essa mesma linha de raciocínio é seguida pelo presidente do Conselho Regional de Arquitetura do Paraná (Crea-PR), Álvaro Cabrini Júnior. Para ele, a existência de atos secretos no Legislativo estadual é um "escândalo inadmissível", sobretudo por ocorrer no órgão de maior representação democrática do Paraná. "A população precisa saber o que acontece na Assembleia. Não tem que existir nada em sigilo no que diz respeito ao uso do dinheiro público. Tudo precisa ser transparente e publicado na internet", defende. Pregando a renovação de pelo menos 80% dos deputados na eleição deste ano, Cabrini Júnior destaca a coragem da OAB-PR em "enfrentar essa batalha" e o apoio da sociedade civil em favor da iniciativa. "Sem dúvida o povo do Paraná vai ser o grande beneficiado por essa ação de cidadania da OAB", afirma.
Outra entidade a aderir à campanha, a Associação Comercial do Paraná (ACP) argumenta que a transparência está entre os princípios mais relevantes em qualquer organização. "A conduta ética deve estar presente em todas as relações sociais, sobretudo no meio público. Essa conduta deve estar cada vez mais presente nas pessoas, mas ultimamente tem se esquecido disso", diz a presidente da ACP, Avani Slomp Rodrigues. De acordo com ela, a cobrança para que as denúncias sejam devidamente investigadas não é um prejulgamento dos membros do Legislativo, mas uma forma de evitar que os crimes fiquem impunes. "A campanha é um estímulo para que a população exerça seu direito de cidadão de fiscalizar e monitorar o dinheiro aplicado em impostos", declara. "A sociedade anda descrente de tudo, o que leva as pessoas a não querer mais participar da coisa pública. Por isso o movimento tenta motivar as pessoas a não perderem a esperança, tenta sensibilizá-las para que participem."
Nesse sentido, a campanha questiona qual estado os paranaenses querem para si: "Um Paraná de silêncio e que acoberta os erros dos poderosos? Ou um Paraná que não tem medo de enfrentá-los?". Os interessados em responder à indagação da OAB-PR podem participar da iniciativa encaminhando um e-mail para cidadania@oabpr.org.br.
Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.
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