Ex-diretores da Assembleia devem ser ouvidos hoje
Os ex-diretores Abib Miguel, José Ary Nassiff e Cláudio Marques da Silva devem ser ouvidos hoje pelos promotores de Justiça do Gaeco. O trio teve a prisão temporária decretada por cinco dias, que podem ser renovadas pelo mesmo período. Eles são acusados de formação de quadrilha para falsificar documentos, deviar dinheiro público e lavagem de dinheiro.
Abib Miguel e Nassiff, por serem advogados, estão detidos, em salas separadas, no quartel da Polícia Militar, no Centro de Curitiba. Cláudio Marques da Silva e João Leal de Mattos estão detidos em celas do Centro de Triagem II, em Piraquara. Priscila da Silva Mattos (filha de Mattos), Iara Rosane da Silva (esposa), Jermina Leal (irmã) e Vanilda (sobrinha) foram para o Centro de Triagem I, no centro de Curitiba.
Ontem a reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV esteve no quartel da PM. A assessoria da polícia informou que os dois são mantidos em celas separadas e que as visitas de familiares e advogados estão sendo controladas conforme determinado pelo Gaeco. Uma das orientações é para não utilizar internet e telefone celular, o que estaria sendo cumprido, segundo a PM, que também informou que a segurança do quartel foi reforçada com policiais da Rondas Ostensivas de Naturezas Especiais, da Polícia Militar do Paraná, a Rone. (KK)
Duas das dez pessoas detidas por suposto envolvimento em irregularidades na Assembleia Legislativa do Paraná foram libertadas ontem, por terem colaborado com as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Nair Terezinha da Silva Schibicheski e Maria José da Silva admitiram em depoimento que foram usadas como laranja pela Assembleia. Elas forneceram seus documentos em troca de mesada de R$ 150, paga pelo ex-diretor-geral da Casa Abib Miguel.
Nair é cunhada e Maria José é sogra de João Leal de Mattos, que é funcionário efetivo lotado na diretoria-geral da AL e também foi detido. A proximidade entre ele e o ex-diretor ficou evidente no casamento da filha de Mattos: Abib Miguel era um dos convidados da cerimônia, que ocorreu no dia 5 de dezembro de 2009. De acordo com o promotor Leonir Batisti, coordenador do Gaeco, a família Leal serviu para desvios de dinheiro público que somam pelo menos R$ 20 milhões, entre 2004 e 2009. Batisti foi quem comandou a Operação Ectoplasma I, que no sábado prendeu dez pessoas suspeitas de práticas ilícitas na AL, entre elas os ex-diretores Abib Miguel (geral), José Ary Nassiff (administrativo) e Cláudio Marques da Silva (pessoal) e Mattos. O MP já pediu à Justiça o bloqueio de R$ 23 milhões em bens dos três ex-diretores e de Mattos.
Nair e Maria José admitiram aos promotores em depoimento que nunca trabalharam na Assembleia, confissão que indicaria que a AL repassou dinheiro público para contas de pessoas que nunca deram expediente no Legislativo e que reforça a possível existência de um esquema de desvio público montado dentro da Casa de Leis do Paraná. Os depoimentos ainda desmentem a lista de funcionários da Casa divulgada no ano passado pelo presidente Nelson Justus (DEM). Na relação de servidores, constam os nomes de Nair e de Maria José.
Acusação
Mattos foi acusado pela cunhada Nair e pela sogra Maria José de ter utilizado documentos pessoais delas para efeitivar suas contratações na AL. Ele pode responder por participação no crime de desvio de dinheiro, formação de quadrilha e eventual falsidade ideológica. Os promotores desconfiam que nem mesmo ele trabalhava regularmente na Assembleia, apesar de ser funcionário concursado. "Temos informações de que ele (Mattos) trabalha no ramo da construção, em horários concorrentes com a atividade na Assembleia", disse Batisti.
Mesada
Em troca dos documentos pessoais, as duas afirmaram aos promotores que recebiam R$ 150 por mês. Seria um "presente do Abib Miguel", disseram em depoimento. Mas o dinheiro que a AL depositava na conta bancária delas é muito maior do que os R$ 150 repassados. Documentos obtidos com exclusividade pela Gazeta do Povo e pela RPC TV mostram que desde 1997 Maria José recebe dinheiro público do Legislativo, mesmo sem nunca ter trabalhado. O salário começou com R$ 1,7 mil e, dez anos depois, chegou a R$ 23 mil, mesma quantia recebida por Nair. Os documentos revelam ainda que entre 2004 e 2009 a Casa fez 130 depósitos na conta de Maria José e 104 na de Nair. Neste período, a soma chega a quase R$ 1 milhão para cada uma.
Os outros quatro parentes e o próprio Mattos se valeram do direito de permanecerem calados durante o depoimento. As agricultoras Jermina Maria Leal, irmã de Matos, e Vanilda Leal, sobrinha, se recusaram a responder aos questionamentos dos promotores. As duas permanecem presas. Reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV mostrou que a Assembleia depositou na conta delas mais de R$ 1,6 milhão em cinco anos.
Diários
Os diários oficiais consultados pela reportagem, e que serviram de base para a série "Diários Secretos", revelam que as duas foram contratadas em fevereiro de 2008 para trabalhar no gabinete da administração. A publicação das nomeações aconteceu em fevereiro de 2008, em um diário avulso. A série de reportagens denunciou a corrente prática da direção da Assembleia de editar diários avulsos, que dificulta qualquer tipo de fiscalização dos atos públicos do Legislativo. As denúncias apontaram ainda para a suspeita de nove crimes, entre eles desvio de dinheiro, sonegação fiscal e formação de quadrilha.
Repercussão
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraná (OAB-PR), José Lúcio Glomb, comentou a operação do Gaeco. Segundo Glomb, "as sistemáticas e contundentes denúncias, veiculadas diariamente na imprensa, levam à convicção do grande poder de influência da rede de pessoas que vem sendo acusada da prática de atos ilícitos", avaliou Glomb. Na nota, Glomb reforça que o MP atue de forma firme na investigação e pede celeridade da Justiça para que as denúncias não causem descrédito das instituições.
A reportagem entrou em contato com a Diretoria de Comunicação da Assembleia, mas a informação é que ninguém comentará a prisão dos ex-diretores. O presidente da Casa, Nelson Justus não foi encontrado para comentar as prisões.
Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.
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