O outro lado
Derosso não fala do caso; demais envolvidos não são encontrados
O presidente da Câmara de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB), não quis comentar as denúncias de irregularidades no Legislativo municipal. Procurado, Derosso disse, por meio de sua assessoria, que "todas as informações que foram e estão sendo solicitadas tanto pelo Tribunal de Contas do Estado quanto pelo Ministério Público serão prestadas". Ele disse que, em respeito a esses órgãos, prefere não dar declarações.
Sobre a contratação pela Câmara de João Leal de Mattos, Iara Rosane da Silva Mattos, João Maria Vosilk e Suzana Schripietcz Rodrigues Pires, a assessoria confirmou que eles foram servidores comissionados do ex-vereador Éde Abib. A Câmara informou todos os "requisitos formais e legais da época" foram cumpridos.
A Gazeta do Povo procurou também Mattos e Iara no telefone residencial do casal. A filha deles, Priscila Mattos, disse à reportagem que não tinha como localizá-los. João Maria Vosilk não quis falar. A Gazeta do Povo não encontrou Suzana e o ex-vereador Éde Abib para falar sobre o assunto. (KK)
Além do servidor João Leal de Mattos e da mulher dele, Iara Rosane da Silva Mattos (veja reportagem na página anterior), a Câmara de Curitiba também contratou ao mesmo tempo que a Assembleia do Paraná (Alep) pelo menos outra pessoa ligada a Abib Miguel, o Bibinho, ex-diretor-geral do Legislativo estadual.
As fichas funcionais e financeiras da Assembleia e os diários oficiais do município de Curitiba revelam que João Maria Vosilk teve cargo nos dois órgãos ao mesmo tempo. O acúmulo de cargos públicos é proibido pela Constituição Federal.
Vosilk é pedreiro e conheceu Bibinho porque o pai dele, Izidoro Vosilk, trabalhou durante mais de 30 anos na casa de Anuar Abib Miguel, irmão de Bibinho. A explicação foi dada pelo próprio João Maria Vosilk em depoimento prestado ao Ministério Público (MP) por causa do envolvimento dele com o escândalo que ficou conhecido como Diários Secretos, na Assembleia.
Documentos do Legislativo estadual mostram que Vosilk foi nomeado em 1.º de fevereiro de 1995 e exonerado em março de 2010. Os diários do município de Curitiba revelam que a Câmara o contratou de 1997 a 2000 coincidindo assim o período em que acumulou cargo público nos dois órgãos.
Apesar disso, em depoimento que prestou ao MP no dia 27 de maio de 2010, João Maria Vosilk disse que é pedreiro e, em nenhum momento, citou qualquer vínculo empregatício com a Câmara de Curitiba. Documento do MP referente ao depoimento diz que Bibinho contratou Vosilk inicialmente para trabalhar em campanhas eleitorais para diversos candidatos. Depois de encerrada a eleição, o pedreiro continuou fazendo trabalhos para Bibinho, como, por exemplo, entregando bonés, camisetas com nomes de políticos nas casas das pessoas, ou então, limpando manilhas de esgoto de algumas ruas ou carpindo terrenos baldios.
Vosilk ainda declarou ao MP que, durante apenas um ano, trabalhou na Assemblei como "porteiro" do gabinete da diretoria-geral. Ele disse que "ficava andando de um lado para o outro, não tinha horário fixo e nem tinha que trabalhar todos os dias da semana". Em nenhum momento Vosilk citou ter trabalhado na Câmara.
Casa humilde
O acúmulo de cargos na Assembleia e na Câmara também ocorreu com Suzana Schripietcz Rodrigues Pires. O MP suspeita de que Suzana seja funcionária fantasma da Assembleia. E uma declaração do filho dela, Marlon Pires, levanta fortes indícios de que ela também não dava expediente na Câmara. Ele disse à reportagem que sua mãe nunca trabalhou nem na Assembleia nem na Câmara.
A Gazeta do Povo teve acesso aos salários recebidos por Suzana na Assembleia. Ela foi contratada em 1995 para prestar serviço na diretoria-geral, na ocasião sob responsabilidade de Bibinho, com um salário inicial de R$ 1.020,20 (valor bruto). Mês após mês, os vencimentos foram subindo e chegaram a R$ 26.044,00 em outubro de 2008. De 1995 até março de 2010, quando Suzana foi exonerada, a Assembleia depositou R$ 1,5 milhão (valor líquido) na sua conta bancária.
O dinheiro repassado pela Assembleia se choca, porém, com a realidade vivida por Suzana o que levanta a suspeita de que ela possa ter sido usada sem saber pela suposta quadrilha que desviava dinheiro da Assembleia. Na quinta-feira passada, a reportagem da Gazeta do Povo foi até a casa dela uma residência humilde, de madeira, com cerca de 30 metros quadrados, em Curitiba. Suzana não estava em casa. Segundo Marlon, a mãe trabalha cuidando de um senhor.
Quando questionado sobre o motivo do nome de Suzana aparecer como servidora dos dois órgãos, Marlon disse acreditar que pode ser por causa do pai. "Meu pai já é falecido. Ele que 'tava' envolvido com isso aí. O pai [é] que mexia com política, com esse bagulho aí. Fazia esses comitês", disse Marlon.
Um indício para explicar como Suzana foi parar na folha de pagamento da Assembleia e da Câmara pode ser os dizeres escritos no muro da humilde casa dela: "Vote Éde Abib" o ex-vereador que é irmão de Bibinho.
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